Uma questão pertinente foi levantada pela SmartiezZ. A da discriminação positiva.
Deve haver discriminação positiva na escola? Falo nomeadamente em benefícios a minorias só pelo facto de serem minorias.
Na escola tem de haver igualdade. Ou melhor, equidade. Para condições iguais, igualdade. Para condições diferentes, diferenciação.
Sou, naturalmente, por benefícios aos que têm dificuldades na língua, no tempo disponível para o estudo (como disse aqui), nas capacidades mentais...
Mas esse benefício é fundamentado. Eles têm problemas inerentes a uma condição mais difícil. Não porque são de minorias, não porque eles (ou os pais deles) foram descriminados no passado, não por serem diferentes. Por terem sérias dificuldades, das quais nenhuma é de sua responsabilidade.
Um estrangeiro recém-chegado tem de ter algum apoio para conseguir, no futuro, não precisar desse apoio.
Um estudante-trabalhador é estudante-trabalhador, não porque quer, mas porque ele ou a sua família necessitam. Mais: ele não tem culpa de ter poucas horas de estudo. Ele estuda pouco porque tem pouco tempo livre.
Um deficiente que tenha grandes dificuldades também precisa de ser beneficiado.
Não considero que isto se trate de discriminação positiva. Não é discriminação, é aplicar a equidade. Discriminação positiva é beneficiar alguém só por ter sido prejudicada no passado. Ou só por ser de uma minoria.
Ser de uma minoria não é desculpa para se ter um tratamento diferente. Assim como fazer parte da maioria...
11 comentários:
"Para condições diferentes, diferenciação."
"não por serem diferentes"
Um belo par de coisas contraditórias.
"Mais: ele não tem culpa de ter poucas horas de estudo."
Pode ter ou pode não ter. Pode ter sido no passado um cabeça de abóbora, cheio de crenças, que posteriormente veio a bater com a cabeça na realidade e vem então tentar fazer em recorrência aquilo que devia ter feito em devido tempo. Depende, caso a caso.
Dizer "ele não tem culpa" é uma generalização abusiva. Não estou dizendo que não deva ser ajudado, mas pode (ou não) ser o principal responsável pela situação em que se encontra.
...
Voltando à discriminação, pode dizer-se que a palavra tem uma carga ideológica que inquina a coisa quando se fala dela.
Se se trocar a palavra por "correcção, na medida do possível, de uma injustiça do passado", a discussão à volta do sexo dos anjos desaparece.
"Ser diferente" não é a mesma coisa que "ter condições diferentes".
Você acha que quem é diferente, por ser de uma minoria, deve ser ajudado.
Eu acho que quem tem condições de estudo e de capacidade de apreender a matéria diferentes, deve ser ajudado.
Eu sou contra a "correcção, na medida do possível, de uma injustiça do passado". Sou pela ajuda a alunos com dificuldades inerentes a uma condição da qual não têm a culpa.
Nos casos que eu falei, normalmente o aluno tem nenhuma ou pouquíssima culpa.
Estrangeiros recém-chegados não têm a culpa de ter dificuldades na língua portuguesa.
Deficientes não têm a culpa da sua situação.
Estudantes-trabalhadores... bem, na maioria dos casos, a família obriga-os a ir trabalhar. Outras vezes são eles que têm a iniciativa de entrar no mercado de trabalho. Neste caso são eles os responsáveis pela sua condição, mas devem ser ajudados por uma questão de rumo. A Escola deve apoiar os que tomam a iniciativa.
Além disso, se eles têm pouco tempo para estudar, não se deve a estarem a ver TV e falar no messenger o dia todo. Deve-se à vontade de terem alguma independência, e isso deve ser apoiado.
E, range-o-dente, é verdade que eu não gosto da palavra "descriminação", nem do seu campo semântico. Positiva ou negativa, a descriminação produz injustiças.
“"Ser diferente" não é a mesma coisa que "ter condições diferentes".
Você acha que quem é diferente, por ser de uma minoria, deve ser ajudado.
Eu acho que quem tem condições de estudo e de capacidade de apreender a matéria diferentes, deve ser ajudado.”
Isso é comparar o que não existe com o que existe e, por essa via, tudo é falso ou verdadeiro.
“Ser diferente” não significa coisa alguma, a não ser que você acredite que há “raças”.
“ter condições diferentes”, é muito impreciso. Ter intrinsecamente? Ter acesso a ferramentas desiguais?
”Eu sou contra a "correcção, na medida do possível, de uma injustiça do passado". Sou pela ajuda a alunos com dificuldades inerentes a uma condição da qual não têm a culpa.”
Tá bem, o Baldassare pode continuar a pretender que preto e branco são o mesmo. Mas isso não faz com que sejam a mesma coisa. Como quer você ajudar alguém por causa de um condição de que não têm a culpa e pretender que essa ausência de culpa não seja resultante de uma injustiça qualquer? São vítimas de uma malfeitoria sem autor(es)? Até as vítimas de causas naturais são, frequentemente, compensadas por ficarem em desvantagem. Isso é uma discriminação positiva baseada numa determinada característica: o estarem numa zona em que um sismo forte se fez sentir, por exemplo. De acordo com o que diz o Baldassare, estas pessoas não devem ser ajudadas.
Já agora, e se a condição for da sua exclusiva responsabilidade? Um estudante atestado de crenças disparatadas cabe nessa categoria?
”Nos casos que eu falei, normalmente o aluno tem nenhuma ou pouquíssima culpa.
Estrangeiros recém-chegados não têm a culpa de ter dificuldades na língua portuguesa.”
Pois não. Mas a sociedade que os recebe também nada fez para que eles se encontrem nessa situação. Mesmo assim eu acho que devem ser ajudados. Mas isso é uma discriminação positiva, coisa que o Baldassare abomina, não se esqueça disso.
“Deficientes não têm a culpa da sua situação.”
Pois não, e há discriminação positiva nesse sentido, coisa que você diz ser contra: “Sou contra todos os tipos de discriminação. Incluindo a positiva.”
”Estudantes-trabalhadores... bem, na maioria dos casos, a família obriga-os a ir trabalhar. “
Isso não é verdade. Já foi, mas já não é na maioria dos casos na maioria das zonas do país. Quanto muito espeta com eles a trabalhar porque chumbam sucessivamente. Profissão: estudante-chumbador.
“Outras vezes são eles que têm a iniciativa de entrar no mercado de trabalho. Neste caso são eles os responsáveis pela sua condição, mas devem ser ajudados por uma questão de rumo. A Escola deve apoiar os que tomam a iniciativa.“
Sim. Mais uma discriminação positiva, a tal que você odeia.
”Além disso, se eles têm pouco tempo para estudar, não se deve a estarem a ver TV e falar no messenger o dia todo. Deve-se à vontade de terem alguma independência, e isso deve ser apoiado.”
Não é habitualmente quem trabalha quem perde tempo com a TV ou o Messanger. É o estudante. Aliás, muitas escolas acabaram por bloquear o acesso ao Messanger e ao Youtube para evitar a bagunça incontrolável que sistematicamente se gerava em aulas com computadores ligados à Net.
”E, range-o-dente, é verdade que eu não gosto da palavra "descriminação", nem do seu campo semântico. Positiva ou negativa, a descriminação produz injustiças.”
“Positiva ou negativa, a descriminação produz injustiças”.
Claro. Dizer isso ou dizer que tomar uma Aspirina pode levar à morte por engasgamento é o mesmo. O busilis da questão está em saber discernir entre discriminação que reduza tensões sociais (sejam de que tipo for) ou o contrário. Para complicar mais ainda esse discernimento é qualitativo e quantitativo. E quem tiver que decidir tem uma boa batata quente na mão.
Mas dizer-se: “Positiva ou negativa, a descriminação produz injustiças” é uma excelente forma de não assumir responsabilidade em coisa alguma. Uma forma de autismo, ou puro niilismo.
Olhe que discriminação se escreve com “i”.
Basicamente nós defendemos o mesmo: deficientes, estrangeiros e estudantes-trabalhadores devem ser ajudados devido à sua condição.
Mas eu chamo a isso "equidade", você prefere "discriminação positiva". Dá um ar de caridade, de ajudar os coitadinhos.
"Discriminação positiva" (com "i"...) está muitas vezes associado a quotas de sexo, raça, etnia etc... nos cargos públicos, nas universidades etc...
(Por exemplo, quando se discutia a lei das quotas de 33% de mulheres no parlamento falava-se em "discriminação positiva")
Por isso é que eu sou contra a discriminação positiva. Porque não faz sentido e é injusta.
Apoiar os que têm dificuldades é uma coisa diferente.
Releia o caso do Bekke. Ali, havia uma quota de 16% de entrada na universidade para pessoas de "origem não europeia", ou seja, tinha de haver 16% de não-brancos.
Eu acho mal. Você acha mal.
Isto é que é discriminação positiva (e repare-se que na América, os "de origem não-europeia" não têm dificuldades na língua, pois já nasceram na América...).
Você é que não percebeu bem do que se está a falar.
Discriminação positiva é dar privilégios a uma minoria, SÓ PORQUE É UMA MINORIA.
E isso é injusto. Estamos, finalmente, de acordo?
"Mas eu chamo a isso "equidade", você prefere "discriminação positiva". Dá um ar de caridade, de ajudar os coitadinhos."
Eu não gosto de discutir o sexo dos anjos. As coisas valem pelo que são, o resto é novilingua - lixo.
""Discriminação positiva" (com "i"...) está muitas vezes associado a quotas de sexo, raça, etnia etc... nos cargos públicos, nas universidades etc..."
Defender que se trata apenas de uma questão de termos é perigoso porque , pelo mesmo prisma mas em sentido contrário, se pode ser acusado de discriminação por debaixo da capa de equidade.
Defender que a coisa se resume ao termo é verborreia potiticamente correcta.
Eu não tenho qualquer problema em declarar que não me oponho a que haja discriminação positiva para casos cujo risco seja substancialmente bem avaliado.
"Discriminação positiva é dar privilégios a uma minoria, SÓ PORQUE É UMA MINORIA."
Não, Não é. É dar privilégios determinados a uma determinada minoria (ou maioria que seja).
Interessa pouco o nome dado à minoria. O que interessa é perceber se o grupo ao qual seja atribuída a compensação está bem identificado (se cada membro foi, de facto, vítima da coisa) e se a compensação é adequada à correcção sem introduzir efeitos secundários indesejáveis. Tudo o resto é discussão de gambosino.
Pode ainda dizer-se que "equidade" é um termo destinado a camuflar uma "caridade, de ajudar os coitadinhos". Tudo conversa vazia.
Não lhe parece que declarar preferir usar "equidade" a "discriminação" vai imediatamente projectar sobre "equidade" exactamente o mesmo estigma que o Baldassare diz ter a palavra "discriminação"? Dar a impressão que se está a fazer algo mau usando uma palavra bem-cheirosa?
Não lhe parece que o uso de "equidade" pode passar a ser encarado quando se pretender fazer coisas incorrectas que poderão 'passar' como equidade, mas não 'passariam' como discriminação?
Tudo novilingua que não pretende mais que evitar chamar os bois pelos nomes, evitar discutir os assuntos propriamente ditos.
Parece conversa de futebol.
O recurso a vocabulário alternativo (eduquês, etc) tem sido uma das coisas mais negativas por que temos atravessado,. Tem permitido todo o tipo de "equidades" que não passam de atrozes "discriminações".
Na ONU, discute-se se em Darfur há genocídio, ou apenas um milhão de mortes.
Genocídio não. Tem uma carga ...
Discriminação positiva não é aquilo que você diz que é.
Leia o caso do Bekke e note que "discriminação positiva" é beneficiar a meioria por impor quotas.
"O que interessa é perceber se o grupo ao qual seja atribuída a compensação está bem identificado (se cada membro foi, de facto, vítima da coisa) e se a compensação é adequada à correcção sem introduzir efeitos secundários indesejáveis." Ok, você acha que as minorias devem ser beneficiadas, só porque são minorias. Eu não acho.
“Discriminação positiva não é aquilo que você diz que é.
Leia o caso do Bekke e note que "discriminação positiva" é beneficiar a maioria por impor quotas.”
Positiva ou negativa nada tem a ver com a quantidade de pessoas. É positiva para o lado que recebe algo, negativa para o lado que cede.
Não procurei muito. Aqui:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Discrimina%C3%A7%C3%A3o
****Afirma que quando esta consistir em dar um tratamento diferenciado a um grupo, ou categoria de pessoas, visando menosprezá-las, como já foi estudado, será chamada de discriminação negativa. Ao contrário, quando se tratar de ações que visam equiparar grupos ou pessoas que são discriminadas negativamente, de modo a trazê-las para a sociedade de uma forma igualitária, ter-se-á a chamada discriminação positiva.****
”Ok, você acha que as minorias devem ser beneficiadas, só porque são minorias. Eu não acho.”
Nunca disse isso, e disse, algures (já não vou perder tempo a procurar) que é indiferente se é minoria, se é maioria (que também pode ser discriminada).
O que escrevi foi:
## O que interessa é perceber se o grupo ao qual seja atribuída a compensação está bem identificado (se cada membro foi, de facto, vítima da coisa) e se a compensação é adequada à correcção sem introduzir efeitos secundários indesejáveis.##
Se há vítimas há que compensar. Habitualmente são minorias, simplesmente porque têm mais dificuldade em espernear. Mas podem ser maiorias – o caso da África do Sul.
Você pode continuar a insistir que um autocarro é um sabonete, mas vai ter dificuldade em ensaboar-se nele.
chama-se "caso bakke" e não "bekke"...
mas continuem, não interrompam por minha causa...
gosto dessa do autocarro e do sabonete.
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