quinta-feira, janeiro 31, 2008

A miragem da cidadania

Não dou muita confiança a esta nova moda da “sociedade civil”, ou da “comunidade” ou dos “movimentos cívicos”. Penso que estes últimos são estruturas (disformes, é certo) que estão a tentar tomar o poder, assim como os partidos o fizeram quando nasceu a democracia. Ou seja, são partidos, mas sem dar a cara pelo que defendem... sem terem responsabilidade pelo que defendiam anteriormente, sem aquela chatice da coerência que é exigida aos partidos. Não... neste mundo dos movimentos cívicos tudo é alternativo e tudo vai mudando (ou não fossem eles parte da “sociedade civil”)

Quando se diz que a escola vai ganhar “mais autonomia”, quando se diz que a escola vai passar para as mãos da “comunidade” ou da “sociedade civil”, é de desconfiar. É uma maneira muito mais bonita de dizer que se vai pôr as autarquias a mandar nas escolas, ou que se vai desistir da confusão das colocações para passarem a ser os Conselhos directivos a escolher, por candidatura, os professores. E pior ainda: conjugar Câmaras a mandar nas escolas e escolas a escolher os professores. Primeira pergunta das entrevistas aos candidatos a professor: “De quem é que você é filho?”...

Este novo século traz-nos a política das palavras sonantes. A política spin, slogan, a política.net e a política cunha&vaz. Dão-nos imagens bonitas de um Portugal feliz, jovem e com saúde, dão-nos ilusões de grandeza, dão-nos novas fronteiras e novos conceitos.
De isto tudo, o mais perigoso parece ser a transformação de velhos modelos em novos e apelativos conceitos.
Se por “comunidade” querem dizer “autarca”, se por “autonomia” querem dizer “tirar o poder nas escolas à comunidade escolar”, se por “movimento cívico”, querem dizer “falsa democracia, sem partidos”, vão enganar outro, que eu não me contento com miragens.

domingo, janeiro 27, 2008

Uma boa novidade para os professores

Professores: A inovação tecnológica não é só acções de formação, aprender a trabalhar com moodle, magicboards e encontrar vídeos das vossas aulas no YouTube... Até que enfim surge uma novidade boa para os professores: O TeachersTube!

Este site inclui aulas planeadas (é só traduzir para português), vídeos para usar em aulas, blogues de professores from all arround the world, enfim... um mundo de opções para que estejam a exercer a vossa profissão 24 h por dia! Não é espectacular?!!

Fiquem com este vídeo, através do qual descobri o site:



Via Videosaver.net

Porque hoje é domingo - Learn Where The Smurfs Came From

sábado, janeiro 26, 2008

Apesar das campanhas...

"Professores são profissão em que portugueses mais confiam e a quem dariam mais poder"

Esta é uma sensação que eu já tinha há um tempo: apesar das tentativas de descredibilização e até difamação dos professores (lembram-se daquilo dos não-sei-quantos milhões de horas de faltas?), os portugueses continuam a ter respeito pela classe dos professores.

Isto talvez aconteça devido ao papel marcante que alguns professores têm na vida de cada um. Também porque os professores são vistos como um exemplo (ainda no outro dia um colega meu que fuma ficou admirado de ver um professor a fumar... porque os alunos vêm o professor como exemplo do que se deve fazer. É normal que esse sentimento fique presente depois dos alunos sairem da escola...)

E a quem é que os portugueses dão menos confiança? Aos que tentam difamar os professores: os políticos. "Professores ao poder!"?

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Grafismo FrontPage?

Ontém, estava a pesquisar o site do GAVE para este post, e encontrei um link para a Editorial do Ministério da Educação, que é a editora das cadernetas do aluno, folhas de justificação de faltas, exames, publicações minesteriais etc...

Chamou-me à atenção o incrível grafismo do site (porque o site pouco mais tem...) Reparem lá:

Tudo isto foi feito por uma empresa de web-design que orgulhosamente ostenta um link no fim da página inicial... ups, mas parece que o site da empresa NetGate já não existe... pois.

quinta-feira, janeiro 24, 2008

Testes Intermédios

Hoje a maioria dos estudantes do 11º ano tiveram teste intermédio de Matemática... digo a maioria porque cada escola pode optar por ter ou não este "pré-exame" (aliás, cada professor decide se conta com o teste intermédio para a nota e qual a percentagem que lhe atribui)

O teste é constituído por dois grupos: um de cinco exercícios de escolha múltipla a valer 50 pontos e outro de 2 exercícios (com várias alíneas cada) a valer 150 pontos.

Haver apenas dois exercícios que valem 75% da nota do teste é um problema, porque basta não compreender um, para ser muito mais difícil a positiva... Se, com o mesmo número de alíneas, houvessem mais exercícios com enunciados diferentes, tornava-se um teste mais justo.

Além disso, havia várias alíneas que valiam 25 pontos, ou seja, 2.5 valores em 20, o que é muito para uma questão...

Está-se mesmo a ver que o GAVE está a preparar mais uma razia nos exames deste ano, para que o Governo possa usar os resultados dos exames como pretexto para continuar as suas reformas.

novas oportunidades...


via (notícias da aldeia)

segunda-feira, janeiro 21, 2008

Ah grande gente do Norte!

Via Educação do meu Umbigo ficámos a conhecer a tomada de posição do Agrupamento Vertical de Escolas de Gueifães sobre a avaliação:

"A Comissão Provisória e o Conselho Pedagógico deste Agrupamento de
Escolas entendem manifestar a V. Ex.ª a sua apreensão pelo facto de ser evidente a
impossibilidade de dar cumprimento aos procedimentos estabelecidos no Decreto
Regulamentar nº 2/2008 de 10 de Janeiro, nos termos e nos prazos nele
estabelecidos.
(...)
Por último, e porque consideram muito importante, não podem os órgãos
signatários deixar de referir que a enorme quantidade de legislação recentemente
publicada e as inúmeras solicitações dos Organismos de Administração Central, a que
o Agrupamento tem que dar resposta num curto espaço de tempo, estão já a colidir
não só com a capacidade de reflexão necessárias à concepção de respostas
adequadas como também com o tempo necessário à preparação eficiente das aulas e
do trabalho delas decorrente."

Emainada!

Texto completo a não perder!

terça-feira, janeiro 15, 2008

APELO PARA UMA DISCUSSÃO PÚBLICA ALARGADA DO MODELO DE GESTÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS

Apoiando a iniciativa de Paulo Guinote, divulgamos o texto da petição para uma discussão pública alargada do modelo de gestão das escolas públicas:

"Está em período de debate público apenas por um mês o Regime Jurídico de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-Escolar e dos Ensinos Básico e Secundário.

Não apenas como profissionais da Educação, independentemente de qualquer filiação organizacional, mas também como cidadãos e encarregados de educação atentos, queremos manifestar o nosso desejo de um debate digno e alargado sobre um assunto tão importante como este que não pode ficar circunscrito a gabinetes ou a algumas reuniões longe do escrutínio público de todos os interessados.

Fazemos este apelo porque temos consciência de que estas mudanças terão repercussões profundas na qualidade do ensino ministrado nos estabelecimentos do ensino público e que nem todas essas repercussões se encontram devidamente avaliadas neste momento.

Para além disso, este projecto de alteração do regime jurídico ainda em vigor não se apresenta como resultante de uma necessidade pública, claramente sentida e demonstrada na e pela sociedade civil e comunidades educativas, de reformar o modelo em vigor. Pelo contrário, surge na sequência de uma profusão legislativa que se tem norteado por alguma incoerência entre as intenções manifestadas e as condições concretas existentes no nosso sistema educativo, o que desde logo nos suscita as maiores reservas quanto à sua validade.

Não esqueçamos que:
• No sistema educativo português os alunos têm sido alvo de reformas sobrepostas, mal preparadas e pior implementadas.
• Tais reformas sucedem-se sem serem devidamente avaliados os resultados das reformas anteriores,
• A não avaliação aprofundada de todas as medidas e do seu efeito no sistema leva a que os actores institucionais e a cidadania se interroguem sobre as razões destes sucessivos fracassos.
• Apesar de todas essas reformas, os índices de literacia (global ou funcional) continuam dos mais baixos, enquanto que as taxas de insucesso e de abandono escolar são das mais altas, não apenas em termos europeus, como até mundiais.
• Com um novo modelo de gestão, insuficientemente fundamentado e imposto em nome de uma desejável autonomia e abertura da gestão dos estabelecimentos de ensino às comunidades, corre-se o risco de um agudizar das disfunções que o sistema vem demonstrando, com consequências imprevisíveis não só em termos pedagógicos como da coerência, integridade e solidariedade do sistema público de ensino.

Perante este panorama, que aconselha a maior prudência em novas alterações na arquitectura do sistema público de ensino e perante as incoerências internas do projecto do Ministério da Educação em termos operacionais e a sua aparente inadequação quanto ao quadro legislativo em que se insere, nomeadamente quanto à Lei de Bases do Sistema Educativo, os signatários deste manifesto, reivindicam, por isso, ao Governo e ao Ministério da Educação que:
a) Exista um prazo suplementar de dois meses para discussão da proposta governativa;
b) Se promovam debates públicos em todas as escolas do país, mobilizando as comunidades educativas para a discussão das qualidades e óbices do novo modelo proposto;
c) Se faça a divulgação de todas as análises dos dados estatísticos e outros estudos de departamentos do Ministério da Educação, com especial relevo para a Inspecção Escolar relativos ao desempenho das Escolas em matéria de gestão que justificam a necessidade de mudança do modelo existente.
Apelamos ainda a que todos os intervenientes das comunidades educativas (alunos, encarregados de educação, docentes, funcionários não docentes, autarquias) se mobilizem para uma discussão alargada da Escola Pública.

Só com o activo envolvimento de todos na preparação de reformas com esta dimensão e impacto numa área crítica como a Educação é possível garantir que a mudança se transformará em algo positivo e não meramente instrumental.

Os órgãos de gestão das escolas e os Centros de Formação estarão, naturalmente, vocacionados para organizar e dinamizar este debate.
Os autores deste manifesto reiteram que não representam quaisquer organizações socio-profissionais de professores ou profissionais de educação actualmente existentes ou em processo de formação, sejam elas de natureza sindical, profissional, científico-profissional ou outra. Desejam afirmar, porém, que as organizações acima referidas são organizações da sociedade civil com legitimidade própria para se pronunciarem sobre as questões respeitantes ao sistema de ensino e à governação das escolas;

Deste modo, num contexto em que o poder político afirma a necessidade de envolver a sociedade civil na governação das escolas, a eventual limitação da intervenção no debate destas organizações e/ou movimentos independentes constituídos especificamente para este efeito, comprometerá gravemente a legitimidade dessa governação e das políticas que a determinam, gerando inevitavelmente fenómenos de inércia na sua aplicação, em grande parte resultantes da forma como a informação e o debate (não) se realizaram."

ASSINAR A PETIÇÃO

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Não há Palavras Caras - Testes Intermédios .

Não, nem é bem isso . A palavra hoje é mais indignação .
Por dois motivos, e mais os que eu não me lembrar, ou pelo meu recente desinteresse, ou pela minha vontade de tapar ou ouvidos tal e qual uma criancinha pequena e começar a cantarolar sempre que tocam no assunto á minha frente .
Ora vamos lá a ver .
Existem cinco áreas Humanísticas no Ensino Secundário, se bem me lembro .

Ciências e Tecnologias
Ciências Socioeconómicas
Ciências Sociais e Humanas
Línguas e Literaturas
Artes Visuais

Destas cinco, quantas é que têm exames no fim do ano, no 11º ano ? Ora bem .. Exacto, as cinco . E quantas é que têm exames intermédios ? Hum ... Ciências, Economia ..
DUAS .
Ainda não encontrei ninguém que me explicasse o porquê desta diferença sem gaguejar .

Outra coisa, esta já mais particularizada (existe ?) á minha professora de Biologia .
O Teste Intermédio de Fisica e Quimica A é dia 16 (para a semana ) e o de Matemática é dia 24 .
Pois qual foi a brilhante ideia que se formou na mente da minha professora ? Teste Global hoje ! Porque até parece que os alunos não precisam de dormir ! Ou, no mínimo dos mínimos, ir á casa de banho, porque o café tem os seus efeitos no sistema urinário .
É questão para se ponderar ..

terça-feira, janeiro 08, 2008

O 319 morreu! Viva o 3/2008

Com a saída em Diário da República da lei 3/2008, acabou a mama do 319. Criado para dar conta das necessidades educativas especiais dos alunos com necessidades educativas especiais, cedo se tornou na aspirina das escolas para os alunos que batiam menos bem, desde aqueles que só precisavam de um apoio individualizado, ou em pequeno grupo, às adaptações curriculares. Enfim, um bordel!

A nova lei expressa que todas as medidas se aplicam aos alunos que têm necessidades educativas especiais com carácter permanente. Em teoria, ficam excluídos os NEEs "normais". Em teoria, também o 319 era assim...

Ficam a ganhar, para já, os alunos surdos, cegos ou com multideficiências comprovadas. Que até podem matricular-se na escola à sua escolha (momento cínico: será que veremos os papás a arranjar certificados de NEE para os meninos, só para escolherem as escolas?)

Ficam a perder, para já, todos os outros que mamavam da mesma teta...

domingo, janeiro 06, 2008

Luiz Pacheco (1925-2008)

(...)

O coro dos cornudos,
acompanhado por São Pedro em surdina,
entoa a moralidade, após ter limpado as últimas lagrimetas
e suspirando como só os cornudos sabem


XX
Mulher não queiras sabida
nem com vício desusado,
que podes perder a vida
na estafa de dar ao rabo.

XXI
Escolhe donzela discreta
com os três no seu lugar.
Examina-lhe bem a greta,
não te vá ela enganar...

XXII
E depois de veres o bicho
e as maneiras que tem
a funcionar a capricho,
já sabes se te convém.

XXIII
Mulher calma, é estimá-la
como a santa no altar.
Cabra douda, é rifá-la...
- Que não venhas cá parar.

XXIV
Este conselho te dão,
e não te levam dinheiro...
os cornudos que aqui estão
com São Pedro hospitaleiro.

XXV
Invejosos quase todos
dos conos que o mundo guarda.

Fazem mais um bocado de lamentação.
(Nota do autor: «Quase», porque entretanto brincavam uns com os outros.
«Rabolices!» )

Mas se fornicas a rodos
tua vinda aqui não tarda!


Recomeça a moralidade,
estilo estão verdes, não prestam. Alguns bêbados,
cornudos despeitados ou amargurados.
Vozes pastosas. Deve ler-se: viiinho... velhiiinho...


XXVI
Melhor que a mulher é o vinho
que faz esquecer a mulher...
que faz dum amor já velhinho
ressurgir novo prazer.

Finale, muito católico

XXVII
Assim termina o lamento
pois recordar é sofrer.
Ama e fode. É bom sustento!
E por nós reza um pater.


Luiz Pacheco, Coro de escánio e lamentações dos cornudos em volta de são pedro
in "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"
Selecção, prefácio e notas de Natália Correia
Antígona/frenesi, 1999

Porque hoje é domingo - Rocket Man

sábado, janeiro 05, 2008

Que acabe o rally da vergonha

O Dakar é o pior evento desportivo no mundo. Por causa do Dakar, já morreram várias pessoas do Norte de África, que nunca pediram para serem invadidos por jipes e camiões.

Além disso, pelo que representa, o Dakar deve ser banido. O rally Dakar é o equivalente a comer bolos alarvamente em frente a um mendigo esfomeado. Pior: depois disso, matamos o mendigo ou os seus filhos.

África é o continente mais pobre e a Europa é o continente mais próspero. É um ultraje o dinheiro que se gasta em África para entertenimento dos europeus, em vez de se gastar na sobrevivência dos africanos. É abjecto ter publicidade a grandes empresas ao lado da extrema pobreza.


Que esta edição falhada (pelos piores motivos) seja uma oportunidade para se acabar com a exibição de neo-colonialismo e morte que é o Rally Dakar.


quarta-feira, janeiro 02, 2008

A caça às bruxas (ou escolas sem nomes santos)

Noticia o Correio da Manhã que o governo mandou as escolas retirarem designações de Santos ou santas da designação oficial.

Estamos mal em Torres Vedras (e não só), com o Agrupamento de São Gonçalo. Menos mal, porque escapam, por agora, os padres e padrecos (Agrupamento Padre Vítor Melícias, Agrupamento Padre Francisco Soares.

Como o decreto diz que “deve criar-se designações com que as comunidades educativas se identifiquem e que sejam facilitadoras da elaboração de cartas educativas, tratamento estatístico e da aplicação das novas tecnologias” (sublinhado nosso) aqui ficam algumas sugestões para a S. Gonçalo, a pensar nesta última aplicação:
  • Goonzaloo
  • Microgonz
  • Softzaloo
  • Esefossemparaaputaquevospariuecomeçassematratardosproblemasaserio 2.0
PS. Hoje ao fim da tarde, o site do ME publicitava um desmentido a esta notícia do Correio da Manhã. E agora todos: Ooooooohhhhh :-( E eu a pensar que era desta que nos livrávamos do santinho...

ECdR FM, ou será Amianto FM?

Em 2008, a coluna da direita deste blogue vai incluir uma playlist para animar um bocado o blogue... Vamos apostar num registo mais World-music e Alternativo... esperamos segestões dos leitores (ouvintes?)...

ECdR FM é um nome provisório. Sendo um blogue sobre educação, "provisório" significa "provisório para os próximos 30 anos, como aquelas escolas feitas em contentores de amianto, que eram provisórias mas ainda são utilizadas"...

Já que estamos a falar de música, fica um retrato musical deste blogue, nos últimos tempos...



Mas a gente dá a volta a isto!

Tema de Janeiro: Novo Modelo de Gestão das Escolas


Antes que mais bom ano!

O tema de Janeiro é uma re-edição do tema de Dezembro, que era o Poder nas Escolas.
Decidimos renovar este tema porque surgiu recentemente o novo modelo de gestão das escolas. Além disso, o Paulo Guinote no seu blogue A Educação do meu Umbigo, propôs um amplo debate nacional sobre o tema.

Porque interessa este debate? Nas palavras de Paulo Guinote:

"Interessa porque pretende mudar o regime de administração da rede de ensino público não-superior, menos de uma década depois da última reforma (durante o Ministério de Marçal Grilo), sem que se perceba exactamente os critérios que justificam tal mudança. São critérios fundamentalmente administrativo-financeiros? São critérios de natureza pedagógica? É uma mudança conceptual em todo o modelo? Interessa perceber porque acontece esta mudança, que objectivos persegue, que fundamentação têm as soluções apresentadas e, já agora, se não existiriam outras soluções mais adequadas à resolução dos bloqueios eventualmente detectados no actual modelo. "

Este é um tema muito importante, e esperamos poder contribuir para o debate.

O poder (político) na Escola- BE

O Bloco é o partido que tem um programa educativo mais claro, específico e... extenso. Não posso colocar aqui todo o texto do programa do BE, mas, para quem estiver interessado, é na secção "Resolver a dívida interna e o défice democrático", ponto 2.

No entanto, vou citar algumas propostas:

"Uma concepção do acto educativo que não se queira limitar a uma educação do tipo «externo-cleido-mastoideu», uma educação que pretenda ser arma de combate efectivo contra a exclusão social, contra a simples privação de desenvolvimento, cultural, afectivo e psicomotor, tem que responsabilizar o Estado por uma intervenção precoce. Por isso defendemos a expansão da oferta educativa a montante, colocando sobre o Estado o ónus de garantir que todas as crianças tenham acesso à Educação para a Infância a partir dos 4 anos de idade. Seja em contexto familiar, quando as famílias explicitamente fizerem essa opção, seja em contexto de instituição educativa do Estado. "

"Sobre gestão e administração escolar o Bloco defende três princípios fundamentais para a organização da administração escolar:
• princípio da colegialidade,
• princípio da democracia e representatividade de todos os membros das comunidades educativas "


"A recente discussão pública em torno da existência de escolas a funcionar com um reduzio número de alunos não pode escamotear a existência, por outro lado, de estabelecimentos de ensino que funcionam com turmas muito acima do que é pedagogicamente recomendável. "

"A redução do número de alunos por turma é, assim, uma forma de aproximar o professor da realidade de cada estudante e do seu meio sócio-cultural, podendo dispor de mais condições para assegurar a desejável articulação das escolas com a população escolar."

"É imperativa a certificação dos manuais a serem lançados no mercado"

"o Bloco defende que a graduação do 2º ciclo correspondente à actual licenciatura deverá continuar a ser financiada pelo Estado."

"O bloco defende (...) A rejeição da lei de financiamento que estrangula as universidades e a dotação orçamental adequada para a sua prioridade, abolindo-se as propinas."

Uma coisa há a saudar: medidas específicas e realistas, ao contrário da maioria dos outros partidos, que têm medidas genéricas e/ou irrealizáveis.

O Bloco de Esquerda tem a típica visão de esquerda da Escola: a Escola deve lutar "contra a exclusão social" e ser um local de desenvolvimento individual dos alunos. Eu partilho desta visão do que deve ser a Escola. No fundo, esta é a visão da Escola centrada no Aluno.

Mas há que assumir uma coisa: uma Escola que aposta neste tipo de medidas tem, normalmente, piores resultados que a Escola que só trabalha para os resultados (o que é normal... se uma Escola concentra-se apenas na obtenção de resultados, conseguirá mais sucesso nesse campo, embora tenha menos sucesso em todos os outros campos...)

É verdade que havendo pressão para obtenção de resultados, é normal surgirem melhores resultados. Havendo pouco tempo livre e muito tempo de estudo, muita competição entre alunos, são esperadas melhores notas. Com isto, porém, perde-se muita coisa na formação do indivíduo.

Há que encontrar um meio-termo. Não há nada de mal em alguma competição, em algum foco nos resultados, desde que se crie momentos de outros tipos de aprendizagem. Porque a aquisição de conhecimentos e capacidade de raciocínio fazem parte da formação do cidadão.