terça-feira, março 06, 2007

Chico Esperto

Tenho acompanhado com muito prazer o debate João Miranda (Blasfémias) vs. Daniel Oliveira (Arrastão).

O que me chamou a atenção numa das caixas de comentários foi um comentário de um (suposto) professor sobre a questão do relativismo, e o seu diálogo com um aluno. Acho que ilustra bem a realidade de muitos professores que estão a formar (mal) a futura geração:

"Uma vez, a um aluno que veio com a conversa da relatividade de tudo e eu respondi que a possibilidade de um vaso com flores subir em vez de cair de uma varanda existia. Muito improvável, mas existia (e existe).
Apesar disso aconselhei-o que, caso visse um deles em desequilíbrio, fugisse debaixo. Parece que o gajo percebeu, mas, pela cara, não gostou de ver a sua crença abalada."

A falta de respeito por uma posição ideológica de um aluno (válida e sustentada por muita gente), a chico-esperteza demonstrada e o argumento estupidificante de que, se o relativismo se aplica às culturas e aos valores, também se aplica à lei da gravidade, mostra a falta de capacidades e respeito deste professor para com os alunos e para com as funções da Escola.
A função da Escola não é "abalar" as crenças dos alunos.

Este professor chama-se Range-O-dente e este é o seu blog.

8 comentários:

RioDoiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RioDoiro disse...

Parece que o Chico Inteligente na Educação Cor-de-Rosa desconhecem a relatividade da lei da gravidade: o habitual.

Parece que se preocupam com a falta de capacidade que o professor possa ter em reconhecer a mestria com que o aluno, potencial fonte de inspiração ideológica, é capaz de o formar (ao professor, tá bom de ver).

Exercitando essa mestria: Ó stôr, Camões? no Big Brother tipo assim também falam uns com os outros. Isso é tudo relativo. Antes de haver Camões as pessoas já comiam, dormiam e f.....

A função da escola não é abalar as "crenças". Pois não. Aliás, quanto mais imbecis as "crenças" forem mais demonstram a capacidade criativa do aluno rumo ao absurdo. Yes!!

Ainda bem que há alunos, Chiça!

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Crenças a apoiar:

1 - Hitler não era assim como o stõr o pinta
2- Estaline matou a mãe, mas ela embirrava com ele e com aquela idade ela já devia tar quieta.
3 - A Terra é redonda? Desde quando?
4 - A água líquida não tem nada a ver com o gelo. Olha olha!
5 - Não se diz prontos? Porquê? Isso é que era bom. O stôr diz que a língua evolui, a gente tamos assim tipo a fazer com que ela evolua.

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... Nada de abalar estas crenças. Não se esqueçam, não é essa a função do professor.

... E diz, o Inteligente, que acabaram as canções.

http://range-o-dente.blogspot.com/2007/03/ainda-bem-que-h-alunos-chia.html

baldassare disse...

O problema aqui é que a teoria da relatividade de tudo é sustentável e sustentada por muitas pessoas.
Não se trata de uma teoria absurda. Trata-se sim de uma teoria que, simplesmente, não é a sua, o que não lhe dá o direito, como professor, de não a respeitar.
No máximo, o que poderia fazer, era tentar explicar ao aluno a sua teoria.
O mais engraçado é que depois vai para o Blasfémias gabar-se da sua mestria em abalar convicções "imbecis" dos alunos.
Em democracia os alunos - até os alunos!- têm direito de opinião e de a sua opinião ser respeitada.

Também respondido no seu blogue

RioDoiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RioDoiro disse...

Baldassare contrapôs:

"O problema aqui é que a teoria da relatividade de tudo é sustentável e sustentada por muitas pessoas.

Não se trata de uma teoria absurda. Trata-se sim de uma teoria que, simplesmente, não é a sua, o que não lhe dá o direito, como professor, de não a respeitar.

No máximo, o que poderia fazer, era tentar explicar ao aluno a sua teoria.

O mais engraçado é que depois vai para o Blasfémias gabar-se da sua mestria em abalar convicções "imbecis" dos alunos.

Em democracia os alunos - até os alunos!- têm direito de opinião e de a sua opinião ser respeitada."


...


Eu nunca neguei que tudo seja relativo. Portanto o "problema" que refere é mais uma "relatividade" à sua maneira.

Não diga que disse o que eu nunca disse. Aliás, comecei a minha resposta ao seu artigo declarando que o Baldassare não conhece a relatividade da lei da gravidade. Se procurar saber porque não tem Marte uma atmosfera logo descobre a sua pólvora.

Que a 'coisa ser relativa' está por tudo o lado é o mesmo que dizer que de vez em quando chove. Desde Heisenberg que a ciência embutiu, nas suas ferramentas, a incerteza. O que o Baldassare não percebe (ainda, mas haja esperança que, se abandonar a sua postura de referencial absoluto em termos de crenças) é que tudo é relativo mas há gradações de probabilidade.

Entrar pelas referidas gradações é como entrar num campo de minas, mas a vida é tão somente isso (metaforicamente falando, não vá dar-se o caso de o Baldassare não perceber).

De facto, aprender é, entre outras coisas (como, simplesmente, decorar dados) dominar tanto quanto possível, directa ou indirectamente, o contexto e a probabilidade de se ter como certo aquilo que se diz.

Em boa verdade, quem defende frequentemente que tudo é relativo, a única coisa que demonstra é que encontrou uma forma de nada querer saber, defender, ou discutir. Tudo é possível, portanto, qualquer argumento vale apenas como forma de gastar tinta (se calhar nem isso).

A teoria de que tudo é relativo não é minha nem de ninguém. Essa suposta teoria é trazida a lume simplesmente para acentuar que parece que todas as teorias têm excepções, até a da gravidade. Às vezes não são excepções, mas parecem, pelo menos, sê-lo.

Mais absurdo que pretender que exista a teoria de que tudo é relativo, é pretender que haja uma outra que afirma que a primeira teoria é falsa (que o Baldassare afirma que defendo).

O Baldassare diz que defendo que a relatividade é absoluta quando eu disse o contrário ("a possibilidade de um vaso com flores subir em vez de cair de uma varanda existia. Muito improvável, mas existia (e existe)"), e afirma que tudo é absoluto dizendo que "o argumento estupidificante de que, se o relativismo se aplica às culturas e aos valores, também se aplica à lei da gravidade". Ou seja, o Baldassare declara que defende o que diz que eu defendo (não defendo) e que eu estou errado. Quer maior absurdo?

Sim, determinadas convicções dos alunos são erradas, por muito que lhe custe que assim seja. Os alunos são alunos, têm pouco voto na matéria. Não sabem. Por isso são alunos. Vão para a escola com as convicções típicas de uma criança, a maioria delas erradas (o que é natural). O que não é natural é que, anos mais tarde, não só essas convicções erradas se mantenham como aumentem. Nessa altura tornam-se convicções imbecis.

A mania, (como outras) que se instalou no sistema, de deixar passar em branco que apesar de tudo ser relativo, algumas são-no menos que outras (algumas são, no respectivo contexto, absolutas) radica na demissão galopante do sistema de ensino de cumprir a sua missão: ensinar. A partir de determinada altura, tem-se vindo a tornar mais e mais aceitável tudo se possa afirmar, em último caso que as galinhas têm dentes. Mas uma coisa é que que vai na cabeça de cada um, outra é a realidade.

Em democracia, os alunos - até os alunos - têm direito de opinião e de ser respeitado o facto de a terem, não a opinião propriamente dita (a não ser quando ela faça sentido). Não é respeitável que um aluno defenda que as galinhas têm dentes.

Quando um aluno defende o disparate é obrigação do professor (contra a vontade do respectivo ministério) deixar claro que a "crença" não tem pés nem cabeça e que é imbecil insistir nela.

O Baldassare não gosta que eu usa a palavra imbecil. Problema seu. Para seu(?) conforto, não a uso na aula. Mas não estou na aula e, neste contexto, prefiro chamar os bois pelos nomes. Na sala de aula, a vida é mais complexa - está-se num campo minado. E quem lá tem colocado as minas? O Ministério da "Educação". Os alunos regozija-se com elas, nas "crença" de que, com elas, se "safarão". Os alunos sentem-se imbecilmente felizes, o ministério obtém a sua masturbação mental.

RioDoiro disse...

"A teoria de que tudo é relativo não é minha nem de ninguém."
Pois a sua já vi que não é... agora que "não é a de ninguém"??? então, é impressão minha ou o seu comment no Blasfémias era precisamente num post que abordava a polémica do relativismo. Se bem se lembra, o nome do post no blasfémias era "O relativismo favorece o erro intelectual". Esse post atacava a posição de daniel oliveira e da suposta "extrema esquerda" nessa matéria.

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Tá bem, mas continuamos na mesma. Quem é o autor da afirmação de que “tudo é relativo”? Não me diga que acha que é o Daniel Oliveira.

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Foi nesse contexto que surgiu o seu comentário e foi nesse contexto que eu o critiquei. Não estava na sala de aulas (esse campo minado...) quando você disse isso ao seu aluno.

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Isso o quê? Que o vaso lhe cairia da mona? E, continuamos na mesma, critica porquê? Continua a defender que não devo abalar a crença do aluno?

E que estivesse na sala. Fiz a minha obrigação dizendo aos alunos que as galinhas não tinham dentes, por muito orgulho que eles tivessem nessa teoria, e por muito orgulho que tivessem por ela ser ouvida.

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Pareceu-me incorreto a maneira de abordar a crença "imbecil" do aluno .

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Um problema seu. Eu não chamei nem imbecil ao aluno nem imbecil à ideia. Mas na internet era o que faltava se ainda estivesse preso pelas grilhetas do politicamente correcto. A ideia em causa (na sala de aula) era imbecil e o aluno estava a fazer figura de tal.

É que, meu caro, quando se defendem coisas estúpidas, passa-se por estúpido, etc, etc.

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"A partir de determinada altura, tem-se vindo a tornar mais e mais aceitável que tudo se possa afirmar"
É claro que tudo se pode afirmar! Estamos, meu caro, em Democracia, em Liberdade de expressão. TUDO SE PODE AFIRMAR. E um professor pode refutar uma afirmação do aluno, mas tem de, de alguma maneira respeitar o aluno, e nisto penso que estamos de acordo.

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Ah bom. Já é uma cedência sua. Afinal pode refutar. E a tal crença, não vai sair melindrada?

Qualquer um é livre de fazer figura de parvo. O que não é razoável é que tenha orgulho nisso. Parece hoje suficiente dizer-se algo para que se sinta o égo afagado, independentemente de se fazer sentido ou não.

Já agora, olhe que nem tudo se pode afirmar. Experimente dizer que vai matar um colega.

Já sei, já sei. Não era nesse contexto que dizia que tudo se pode afirmar. Mas está a ver onde se pode chegar se a coisa não for tida em conta no contexto? Lá está, tudo é relativo, mas há gradações e, aqui é que a porta torce o rabo.

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Quanto à questão de fundo, nem tudo é relativo e nem tudo é absoluto, mas se alguém defender que tudo é absoluto ou que tudo é relativo, tem esse direito.
Neste caso, quem teve uma "postura de referencial absoluto em termos de crenças" foi você! Você é que disse ao seu aluno que a sua crença, e só a sua crença, era plausível, ou melhor, não era imbecil.

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Claro que tem esse direito. E as restantes pessoas têm o direito de pensar que essa pessoa é parva. Se lho disserem, estão a fazer-lhe um serviço. E se não lho disserem que pensará você dessas pessoas? Parece-lhe razoável que se fechem em copas?

Nunca ouvia A dizer para B “estás a ser parvo”?

Anónimo disse...

Meu caro, se tudo é relativo, então também é relativa a afirmação de que tudo é relativo, razão pela qual, tudo o que você escreve só tem valor no interior do seu universo mental.

A não ser que sustente o paradoxo de afirmar que tudo é relativo, menos a sua convicção ´de que tudo é relativo. A sua convicção é então absoluta, o que contraria a tese de que tudo é relativo.
Enquanto descalça esta bota, note que se tudo é relativo, então o canibalismo é uma mera questão gastronómica, razão pela qual não deve ser criticada.

Assim sendo, se um seu vizinho der em trincar-lhe a perna, conceda-lhe a benevolência da sua tese relativista e evite condená-lo.

baldassare disse...

lidador,
Desafio-o a descobrir uma frase dos meus posts e comments onde eu diga que compartilho com o aluno do Range-O-Dente a teoria de que tudo é relativo. Se tiver mais que fazer, escusa de ir à procura que não encontra. Aliás, eu disse que "nem tudo é relativo e nem tudo é absoluto".
Eu acho é que o aluno tem o direito de achar que tudo é relativo, assim como o professor tem o direito de achar o que quer que seja sobre esta matéria. Além disso, acho que o professor devia respeitar o aluno (o que, segundo vi na sua última actualização, até fez).
A partir do momento em que o professor Range-O-Dente me garante que respeitou o aluno em causa, a questão nem se coloca