terça-feira, março 13, 2007

Por uma educação politicamente correcta II

Disse Range-O-Dente neste contexto:

«
A Escola centrada no aluno? "Disparate! Tretas!", diz você.
Nunca disse tal coisa, como acima demonstrei.
Mas repare: uma educação com foco no aluno, seria uma Educação em que se adapta o que se ensina e como se ensina ao ponto mais individual possível. Seria uma educação que iniciava desde cedo a educação para a cidadania e para a democracia, dando mais liberdade ao aluno. E claro, se se dá mais liberdade, os alunos têm de ser responsabilizados pelos seus actos. Uma escola baseada no aluno seria uma escola onde, naturalmente, os professores tinham mais autoridade (e menos "poder" absoluto).
Mais palavreado politicamente correcto. O que você propõe é uma colecção de absurdos. No limite, você corre o risco de acabar propondo que os alunos só aprendam o que lhes apetecer.
Você continua engasgado com a questão do poder. É um problema que você terá que resolver com a sua cabeça.
Só se nos focarmos no receptor da mensagem é que podemos fazer com que o conhecimento lá chegue melhor.
Você, mais acima, escreveu: “... ignorando os interesses, deveres e direitos de alunos e professores, desde que a mensagem seja bem dada.

Não lhe parece estar a dar uma no cravo e outra na ferradura? E você continua a esquecer-se dos deveres de todos. A responsabilidade de cada um.
E qual é o papel do aluno? Mero microfone desligado? Experimente escrever a coisa de outra forma: “Só quando o aluno se focar na mensagem que lhe é transmitida poderá chegar ao conhecimento”.
Está a ver? Você continua na senda da desresponsabilização do aluno.
Você, em boa verdade, é que centra a coisa no papel do professor. Então e o aluno não é gente? Não assume as suas responsabilidades (tento em atenção as respectivas idades, já se vê)? Nunca mais assume a sua responsabilidade? Nunca mais se percebe que se tem, paulatina e sistematicamente, vindo a desresponsabilizar o aluno de todo o processo? E como quer você, por essa via, que ele chegue à lenga-lenga da cidadania?
Volto à história dos 3 pilares: Professor, matéria, aluno. O que você defende é um ensino (?) centrado num aluno voluntariamente amorfo. Depois claro: as cabeças de abóbora são cada vez mais.
Os professores são, a meu ver, um elemento importante no Ensino, mas não são "O Elemento" mais importante do Ensino. A qualidade da mensagem não deveria nunca depender do professor ser bom ou não... nem sequer o professor deve ser um exemplo a seguir pelo aluno(porque nesse caso, há professores que sinceramente...)
O professor deve ser um elemento de ligação entre o programa e o aluno e mais nada.
Isso que você descreve é um computador, não é um professor.
A desierarquização da Escola seria fundamental para que se estabelecesse uma nova relação professor/aluno, mais mutualista e mais propiciadora a um ambiente de trabalho, não de guerrilha.
Não há nova relação a estabelecer, como não há nova roda a inventar. E o ambiente de guerrilha não é gerado por aqueles que você próprio defende deverem ser corridos da sala de aula?
Mas eu percebo a sua teoria. Também é válida.
Depois do que você escreveu, essa frase é um mistério.
Aliás é a que predomina na opinião pública e no ministério, sobretudo com esta conversa velho-do-restelista da desautorização dos professores e do fim dos "bons costumes"...
É bom costume ir-se à escola. Quer abdicar? Se tudo o que se deve aprender é coisa do velho do Restelo, porque aprendeu você a falar e a escrever? E a comer? E a andar?
Contudo, e como já disse, acho que a Escola do século XXI devia ser uma escola mais democrática e mais aberta, ou se quiser, mais politicamente correcta.
O politicamente correcto é puro lixo.
A escola deve ser mais aberta a quem estiver disposto a assumir as suas responsabilidades. E quem não estiver, só tem dois caminhos: ou aprende “seringado” ou terá que saltar fora da carroça.
Você acha que alguém trabalharia se não tivesse que ser? Se não houvesse algum tipo de ameaça/consequência implícita? Em que nuvem vive você?
O que você descreve em relação aos direitos, direitos, direitos, é o parasita.
Quem foi que lhe meteu na cabeça que aprender era assim como quem apanha banhos de sol?
Você vê o aluno como o “coisa” que veio ao mundo, obrigado (não veio de livre vontade), e a quem depois, ainda por cima, querem obrigar a aprender.
O que você procura é um computador, a que você se ligue, e que lhe transfira as matérias para o cérebro.
Meu caro. Se você ainda não percebeu que aprender dá trabalho, é difícil, requer insistência, dedicação de muito tempo (pouca borga), etc, você foi entregue ao planeta errado, na galáxia errada, no universo errado. Mas isso, mais uma vez, é um problema que você terá que resolver consigo próprio: não espete com o seu problema aos costados dos outros. Assuma-o porque, vir ao mundo (a este), implica isso.»

A minha resposta:

«Quando eu disse “... ignorando os interesses, deveres e direitos de alunos e professores, desde que a mensagem seja bem dada.” estava a falar dos que defendem que a escola deve estar centrada na mensagem, o que não é a minha posição.

Eu sou por uma escola focada no aluno.

Eu não sou, como diz, pela desresponsabilização do aluno. Pelo contrário eu sou pela maior autonomia do aluno e maior disciplina caso o aluno abuse da sua liberdade: A isto chama-se responsabilização. A isto chama-se Educação para a cidadania.

O sistema actual é um sistema onde o aluno é educado ao "respeitinho" (essa autêntica instituição nacional), não ao diálogo e á democracia (que palavras tão politicamente correctas!).

O ambiente de guerrilha é fomentado por alunos e professores. Isto aqui não é uma "luta de classes". Eu não estou a defender os alunos ou a atacar os professores. Estou-lhe a apresentar um modelo de educação diferente que, a meu ver, seria melhor, e a seu ver seria pior. O ambiente de guerrilha nas salas de aula (ou campo minado, como quiser), é reflexo da relação professor/aluno que é (manifestamente) má. Você e a ministra acham que o professor devia ter mais poder, eu acho que o professor deve ter mais autoridade para expulsar o aluno da aula e prosseguir a lição com os alunos que querem realmente aprender e que estavam a ser prejudicados por uma minoria (e agora, fui politicamente incorrecto?).

Mas, como já disse, percebo a sua teoria. Compreendo-a, não a partilho. Qual delas a melhor? Não sei, só sei é que isto (a escola) até agora não tem estado a resultar lá muito bem...
A perda de autoridade por parte do professor e o fim dos bons costumes é uma conversa falsa! Nunca, desde o 25 de abril, os professores tiveram tanto poder. Se calhar a culpa é dos alunos, que são insolentes, e os professores são obrigados a mostrar o seu poder. Ou se calhar é o sistema que está mal...

"A escola deve ser mais aberta a quem estiver disposto a assumir as suas responsabilidades." Eu defendo uma escola com mais responsabilidades para os alunos. E defendo, obviamente, o ensino obrigatório até (pelo menos) ao 9ºano! E defendo planos especiais para alunos que não estão a conseguir o 9º ("uma educação com foco no aluno, seria uma Educação em que se adapta o que se ensina e como se ensina ao ponto mais individual possível.").

Quando se disse que se ia acabar com a disciplina física nas aulas também houve quem dissesse "e agora, como é que os alunos vão aprender sem ser à porrada!? Em que mundo é que vives?!?" . As revoluções levam sempre tempo a entrar nas cabeças.

E sabe, o século XIX teve as suas doenças (tuberculose...), o seu tipo de sociedade (a belle epoque) e o seu tipo de Educação (Dura, disciplinada).
Depois, veio o século XX, com novas doenças (Sida, malária etc...), novas sociedades (comunismo, social-democracia, capitalismo) e uma nova Educação.
O século XXI também será um século com as suas próprias doenças (H5N1 e outras que virão), a sua próprea sociedade (mais liberal, espero) e a sua própria Educação, que, tal como a sociedade, espero vir a ser mais liberal e democrática. Mais arriscada e elitista, quer queiramos quer não. Talvez eu esteja totalmente errado e a Educação fique na mesma (no mesmo planeta, se quiser) ou mude para uma educação ainda mais autoritária. Não sei. Ninguém sabe. Mas foi daí que nasceu a Educação Cor-de-Rosa, que pretende, pelos menos da minha parte, ver se a Escola muda para um lado ou para o outro, neste início de século XXI.
De qualquer maneira, quero dizer que estou a apreciar este debate consigo, que me dá uma outra perspectiva do que poderá vir a ser a Educação do século XXI.»

3 comentários:

Alexandre Dias Pinto disse...

Este parece-me ser o blogue da verdade lapaliciana e do lugar-comum. Diz-se o óbvio como quem descobre a pólvora.

Anónimo disse...

Durante uma aula de português, a professora pergunta: - Qual é o significado da palavra "óbvio"?

Rapidamente, Carine, rica, uma das mais aplicadas alunas da classe, que estava sempre muito bem vestida, perfumada e bonita, respondeu:
-Prezada professora, hoje acordei bem cedo, ao raiar do dia, depois de uma ótima noite de sono no conforto de meu quarto. Desci a escadaria de nossa residência e me dirigi à copa onde era servido o café. Depois de deliciar-me com as mais apetitosas iguarias, fui até a janela que dá para o jardim de entrada e admirei aquela bela paisagem por alguns minutos, enquanto pensava como é agradável e belo o viver. Virando-me um pouco, percebi que se encontrava guardado na garagem o BMW pertencente a meu pai. Pensei com meus botões: "É ÓBVIO que meu pai foi ao trabalho de Mercedes".

Sem querer ficar para trás, Luiz Cláudio, de uma família de classe média, acrescentou:
-Professora, hoje eu não dormi muito bem, porque meu colchão é meio duro. Mas eu consegui acordar assim mesmo, porque pus o despertador do lado da cama para
tocar cedo. Levantei meio zonzo, comi um pão meio muxibento e tomei café. Quando saí para a escola, vi que o fusca do papai estava na garagem. Imaginei:
"É ÓBVIO que o papai foi trabalhar de busão".

Embalado na conversa, Joãozinho, de classe baixa, também quis responder:
-Fessora, hoje eu quase num durmí, purquê teve tiroteio até tarde na favela. Só acordei di manhã purquê tava morreno difome, mas num tinha nada pra cumê mesmo... quando oiei pela janela du barracão, vi a minha vó cum jornal dibaxo du braço e pensei: "É ÓBVIO qui ela vai cagá. Ela num sabe lê!".

Ctrl disse...

Parece que não somos os únicos com uma capacidade espantosa de dizer o óbvio. Quer ver um exemplo:

"No plano da motivação, os alunos aderiram de forma muito positiva às actividades e aos materiais didácticos utilizados. Tal se deve, segundo cremos, à escolha cuidadosa e exigente das obras de arte exploradas nas aulas, visto que se optou por levar aos discentes textos literários (poemas, contos, excertos de narrativas), obras de pintura, escultura e fotografias bem como peças musicais capazes de os motivar."
in http://linguascidadania.blogspot.com/


Crêem que os alunos foram motivados porque optaram por usar materiais capazes de os motivar?! Parabéns pelos resultados alcançados pela sua investigação, ficámos muito mais enriquecidos, para alguma coisa ainda vai servindo a Universidade e os seus Centros de Estudos Comparativos. La Palice não diria melhor, saía mais barato e nem precisava de selo europeu... Mas se fosse meu aluno, esta prosa não chegava para o 10...