quarta-feira, março 21, 2007

Dia Mundia da Poesia

PEREGRINO E HÓSPEDE SOBRE A TERRA

Meu único país é sempre onde estou bem
é onde pago o bem com sofrimento
é onde num momento tudo tenho
O meu país agora são os mesmos campos verdes
que no outono vi tristes e desolados
e onde nem me pedem passaporte
pois neles nasci e morro a cada instante
que a paz não é palavra para mim
O malmequer a erva o pessegueiro em flor
asseguram o mínimo de dor indispensável
a quem na felicidade que tivesse
veria uma reforma e um insulto
A vida recomeça e o sol brilha
a tudo isto chamam primavera
mas nada disto cabe numa só palavra
abstracta quando tudo é tão concreto e vário
O meu país são todos os amigos
que conquisto e que perco a cada instante
Os meus amigos são os mais recentes
os dos demais países os que mal conheço e
tenho de abandonar porque me vou embora
pois eu nunca estou bem aonde estou
nem mesmo estou sequer aonde estou
Eu não sou muito grande nasci numa aldeia
mas o país que tinha já de si pequeno
fizeram-no pequeno para mim
os donos das pessoas e das terras
os vendilhões das almas no templo do mundo
Sou donde estou e só sou português
por ter em portugal olhado a luz pela primeira vez

Ruy Belo, País Possível; Editorial Presença, p 51, 2ª edição, Julho 1998

1 comentário:

linfoma_a-escrota disse...

Quelque chose subjuga o delírio a
permanecer quieto no seu ovni em potência,
é alguém de maiúscula tonificada que
impede a mistura barbitúrica de se despentear
à pedrada, em especial nesta festa académica,
utilizada para evacuar toneladas de tabús
inaceitáveis à luz da decência apresentável,
é muito útil para não reparar em ninguém
que te motive em particular, vais tropeçando
e roubando o que te apetecer, personificando
existências à escolha para desapareceres...

Pouco sábios acreditam estar longe da razão,
mostram-no e materializam sotaques com chicotes
que utilizam, sociológicamente são gigolos-sativa,
para procurar postura à eloquência desportista,
sabem distorcer versículos a partir da sugestão escutada
na colmeia à nascença, géneros patriarcais de
alienação posteriormente ensinada a copiar o colega,
é desnecessário reprimir ou tornar-se-á a deriva
mestra lacerada duma ingestão atormentada pela
falta de são excesso singelamente tresloucado.

Lembro-me que bastava menear a cabeça
consoante a entoação dos barulhos dentifrícos
da professora que decadentemente dedilhava
seu cantil de caipirinha51 mal disfarçada,
juntamente com os diversos zanex e clonix
cuja dose variava consoante seu druida supunha,
com um tom tão monótono e declaradamente
aborrecido de ali estar de manhã a aturar-nos,
lá nos entretivemos espicaçando sua fácil fúria.

Vi de tudo, tanto quem merecia medalhas
de puritanismo, como heranças de hereges que
cobiçavam presidir lobbies da espreguiçadeira,
excelsos locutores desaproveitados perante a
admoestada diáspora hormonal, os que ditavam,
despachavam dúvidas e partiam à acção de formação,
aqueles que não se continham a chorar por perdão e
os bons samaritanos tentando divergir do programa.

Todos os progenitores sabem jogar ao sorriso
anódino que oculta a grande muralha da tensão
psíquica, absolvem-se em cadeia e culpam o governo
que coragem não tem para decapitar privilégios, é
facílimo julgar e ir traíndo à gincana das ratoeiras
adequadas nas reuniões de mães enfrascadas pelo
ritalin das ideias inviáveis e ciúme incondicional.

in QUIMICOTERAPIA 2004


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