sábado, maio 12, 2007

Poesia Matemática

O Post do Ctrl.Alt.Del fez-me lembrar um poema que eu trouxe duma Sessão Prática do ProfMat-2006, e que dramatizei, juntamente com o meu par pedagógico (uma professora de Língua Portuguesa, 5 estrelas) com uma turma de 6º ano (uma turma 5 estrelas)! O resultado foi muuuuuito giro, os ensaios foram todos feitos durante as aulas de Estudo Acompanhado, pois tinhamos um bloco de 90 minutos por semana! Os fatos foram todos do guarda-roupa (que é muito grande, graças às enumeras festas realizadas pela minha mãe aqui na terriolazinha onde habito) daqui de casa! Todos os outros adereços foram feitos pelos alunos, os quais adoraram fazer a peça! Eu adorei, e iria adorar ter a oportunidade de leccionar mesmo Oficina de Teatro...issssso é que era a loucura!...Deixa-me descer à Terra que já estou a divagar buuuéééé...
Passemos à leitura...

Poesia Matemática

Millôr Fernandes


Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.


Texto extraído do livro "
Tempo e Contratempo", Edições O Cruzeiro - Rio de Janeiro, 1954, pág. sem número, publicado com o pseudônimo de Vão Gogo.

Tudo sobre Millôr Fernandes e sua obra em "Biografias".

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sei se a sessão prática do ProfMat foi uma que eu dinamizei em Évora. De qualquer modo, apraz-me que tenha sido feita uma actividade com este poema.
Quanto à "Oficina de Teatro"... Não sei se as regras vão mudar, mas até agora funcionavam assim: um professor do quadro (ou outro, desde que garanta a continuidade na escola)apresenta uma proposta fundamentada (basta ao Conselho Pedagógico)de leccionar a disciplina como "de educação artística, oferta da escola". Foi, praticamente assim que aconteceu comigo há 5 anos atrás. E será agora a altura ideal de o fazer. Tente. Se precisar de ajuda, contacte-me.
José Fernandes
(zefern@megamail.pt)