quinta-feira, janeiro 11, 2007

TLEBS - comentário (convidado) à Petição contra a TLEBS

Achei que o comentário exaustivo que a Luísa Santos fez sobre a Petição contra a TLEBS merecia destaques de post, de maneira que fica aqui na íntegra, esperando a sua condescendência por não ter como pedir a sua autorização prévia para a republicação.
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Aproveitando a liberdade de expressão que me concede, aqui ficam a famosa petição e as minhas razões para não a subscrever:

" - A TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário) veio propor toda uma nova terminologia para a Gramática Portuguesa, em moldes experimentais. A experiência visa avaliar a adequação científica e pedagógica dos novos termos e definições linguísticas propostas, usando para tal os alunos como campo de experiência. A TLEBS faz dos alunos dos Ensinos Básico e Secundário cobaias de validação de teorias linguísticas consideradas desajustadas por muitos especialistas em Educação e em Língua e Literatura Portuguesas."

  • Aconteceu exactamente o mesmo após a publicação da Nomenclatura de 1967. Os alunos não estão a ser cobaias de validação de teorias linguísticas. Tanto quanto sei, uma teoria linguística é validada na própria área. Está a ser testada é a capacidade de se didactizar determinados termos.


"- A TLEBS, definida na Portaria n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro, como “experiência pedagógica” foi este ano lectivo de 2006/2007 alargada a todas as escolas do Ensino Básico e secundário - Portaria n.º 1147/2005 de 8 de Novembro."
  • Falso. A experiência pedagógica foi generalizada. A TLEBS não foi. Cada departamento tem a liberdade de gerir a introdução da TLEBS até à sua generalização.
"- Os alunos abrangidos pela “experiência pedagógica” TLEBS são:
Em 2006/2007 – os alunos do 3º, 5º, 7º, 9º e 12º anos de escolaridade, a nível nacional.
Em 2007/2008 – todos os níveis de escolaridade, do 1º ao 12º ano, ou seja, todas as crianças e jovens portugueses em idade escolar."
  • Como já sabemos o que é "experiência pedagógica", esta informação torna-se supérflua.
"- Os pais e encarregados de educação não foram chamados a dar a sua autorização para que os seus filhos e educandos integrassem a experiência TLEBS. O Estado Português fez uso abusivo da autorização implícita inerente à frequência da Escolaridade Obrigatória."
  • Demagogia em estado puro. Se os autores deste texto se tivessem dado ao trabalho de ler a documentação sobre a experiência pedagógica, percebiam que esta é definida como o processo de gestão dos termos por nós. Não me parece que precise de pedir autorização por escrito aos pais dos meus alunos para ir daqui à Faculdade de Letras fazer uma acção de formação que até sou eu que pago...Também não me parece que precise de lhes pedir autorização por escrito para ler uma base de dados...E também não me parece que precise de autorização por escrito para decidir se ensino aos meus alunos como identificar o sujeito em Novembro ou em Janeiro. Mas talvez precise. Desde há alguns anos que os pais mandam na escola. Mandam no funcionamento, mandam na disciplina e agora até querem ser quem decide o que se ensina.
"- O Estado Português permitiu-se introduzir na Escolaridade Obrigatória conteúdos experimentais não validados ou em fase de validação."
  • Já percebemos que há aqui uma certa confusão entre experiência pedagógica e conteúdo experimental...
"- O Ministério da Educação afirma que a TLEBS não é um conteúdo programático. Contudo os alunos estão a ser avaliados na disciplina de Língua Portuguesa / Português pelo conhecimento que têm da TLEBS, no respeitante ao funcionamento da Língua. Por Lei, apenas os conteúdos programáticos podem ser sujeitos a avaliação."
  • Acredito neste argumento! Façam queixa dos colegas que fazem perguntas sobre a TLEBS aos alunos. Eu faço avaliação sobre os conteúdos do programa. Agora se há quem faça avaliação sobre a TLEBS, é claro quem está errado.
"- A TLEBS confunde métodos experimentais de ensino com conteúdos experimentais."
  • Olhe que não... A confusão está na petição.
"- O esforço de aprendizagem que é exigido aos alunos pode ser inconsequente: o Ministério da Educação já admitiu parar ou rever o processo no final deste ano lectivo."
  • Mas como não admitiu rever os programas, os conteúdos vão ser os mesmos, pelo que o esforço de aprendizagem não é inconsequente.
"- Vários responsáveis do Ministério da Educação já afirmaram publicamente que a TLEBS não é para ser aplicada aos alunos, sendo dirigida apenas aos professores. É do conhecimento geral que inúmeros testes de Português efectuados neste início de ano lectivo nos anos abrangidos, continham perguntas de avaliação – qualitativa e quantitativa – sobre a TLEBS."
  • Falem com os docentes em causa. Estão em clara desobediência. Para quê culpar o Ministério por uma falha de um colega? Há tanto por onde pegar no Ministério.
"- Uma das linguistas responsáveis pela TLEBS, a Professora Catedrática Maria Helena Mira Mateus, afirmou à Antena 2, em entrevista transmitida no programa Um Certo Olhar, haver termos na TLEBS com os quais “não concorda muito”. A gravação áudio da entrevista está disponível nos arquivos da Rádio Difusão Portuguesa e também em http://www.goear.com/listen.php?v=992ab36 e em http://www.bolt.com/contratlebs/music/TLEBSEntrevista_Maria_Hel/2773513"
  • Maria Helena Mira Mateus "não concorda"... Daí ao erro vai um pulo imenso!
"- A Associação de Professores de Português é a entidade responsável pela formação de professores no âmbito da TLEBS, acreditada enquanto tal pelo Ministério da Educação."
  • Falso. Não é.
"- A Associação de Professores de Português, apesar de ser a favor da TLEBS, “não sabe ainda se esta terminologia é a terminologia de que o sistema educativo tem necessidade” e manifestou-se publicamente contra o alargamento da experiência pedagógica a toda a população escolar: “não se pode testar uma vacina da gripe inoculando toda a população”, foram palavras do seu Presidente."
  • Mas se se ler o documento da experiência pedagógica, é muito claro que cada escola decide a data da introdução de termos...
"- A formação de professores ainda está em curso. A nova TLEBS está a ser ministrada aos alunos sem que tivesse sido completada a formação dos professores. Os professores estão a ensinar o que ainda não sabem."
  • A minha formação é contínua. Tenho a certeza de que não sei tudo e que nunca saberei. Por este argumento, suspende-se todo o ensino...
"A Associação de Professores de Português está com dificuldades em conseguir dar formação a todos os professores, atempadamente."
  • Mas como a APP não é a entidade para o efeito... há mais oferta por aí.
"- Os alunos de 12º ano, depois de 11 anos a aprenderem Gramática Portuguesa fazendo uso da terminologia tradicional, vão ser avaliados, já este ano, pelo conhecimento que têm da Gramática Portuguesa segundo a nova TLEBS. Os exames de 12º ditam o acesso à Universidade. Há um futuro em jogo. Há um passado de estudo, esforço e trabalho que é deitado ao lixo."
  • Duvido que seja deitado ao lixo, porque os conteúdos dos programas são os mesmos. As mudanças verdadeiras são pontuais: algumas nas funções sintácticas, algumas nas classes de palavras, muitas na morfologia. Mas como o programa do 12º só inclui pragmática e semântica, se calhar o problema não é real.
"- Ninguém parece saber verdadeiramente o que é a TLEBS."
  • É a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário.
"E no entanto… Os alunos são obrigados a aprender a TLEBS e estão a ser avaliados pelo que sabem da TLEBS;"
  • Já foi dito.
"Os professores não têm uma posição comum e há situações reportadas de professores que declaram, em sala de aula, não concordar com a terminologia proposta pela TLEBS;"
  • Pois é. Eu também não concordo com o ECD, mas não gasto tempo de aula a declarar aos meus alunos as minhas convicções. Não é para isso que me pagam.
Já agora... Quando uma carta é assinada, deixa de ser anónima!

Beijinhos (como diz, quem sabe se não estamos agora lado a lado no CRE da minha escola)
Luísa

2 comentários:

Ctrl disse...

Esta argumentação assenta em grande parte de uma falsa premissa: a de que seria possível fazer experimentação pedagógica da TLEBS sem a TLEBS...

Afirma a Luísa que o que foi generalizado foi a experiência pedagógica, não a TLEBS. Como é que é possível experimentar pedogicamente a TLEBS sem abordar a TLEBS? Ao trazer os conteúdos da TLEBS para as aulas, numa experiência generalizada, podemos afirmar que só estamos a generalizar a experiência e não o seu conteúdo?!

Quanto a serem os pais a mandar nas escolas, até para decidir o que se ensina, olhe que há muitas boas escolas dos EUA onde isso funciona assim, e bem. Aí está uma experiência que gostava de ver generalizada por cá...

Há realmente conteúdos experimentais em fase de validação, ou não seria necessário tanta revisão como a que se está actualmente a fazer.

Quanto à formação, o próprio director-geral da DGICD reconhece na sua entrevista que há falta de formação para os professores de português, o que em qualquer escola (excepto as piloto) se reclama. Não desmerecendo os méritos da auto-formação, dadas as dúvidas e discussões nos fóruns da gramaticª.pt, parece fundamental que haja realmente formação, com respostas consistentes, fundamentadas e que evitam o "na minha opinião" da formadora, que não levam a lado nenhum.

Já agora, quando uma carta anónima é assinada por uma pessoa que a lê, pode deixar de o ser, mas não deixa de ser anónima quando à sua proveniência. Quem escreveu a carta que assinou? Com que agenda? Por que se escondeu? Por que não podemos discutir essa carta lá, como o fazemos aqui?

Fliscorno disse...

Uma gracinha sobre o assunto:
A Experiência Pedagógica TLEBS
:-)