domingo, novembro 26, 2006

Véus

O Vaticano está preocupado com a utilização do véu pelas mulheres muçulmanas. Como dizia o Daniel Oliveira no seu “Arrastão”, lata não lhes falta! Então, a Igreja que incentivava (não há muito tempo) as mulheres a usarem um véu, que cobre freiras com um véu, que adora a virgem Maria (que usa véu)... diz agora que o véu islâmico é uma preocupação para a cultura “ocidental”?

Esta questão do véu já foi analisada por muita gente em muitos artigos, blogues, conversas com o taxista etc... mas, já que estamos num blogue sobre educação, a pergunta que se coloca é: E nas salas de aula, deverá ser permitido ou proibido o véu?

Um dos principais argumentos que levam muitos a estar a favor da proibição do véu islâmico é que este esconde a cara (nos casos de alguns tipos de véu) e isso pode não ser “socialmente aceite” por todos.
Nas aulas, é verdade que o eye-contact influi muito no relacionamento entre professor e aluno. Mas a liberdade de cada um de ter as suas crenças e de se vestir segundo a sua vontade supera, na minha perspectiva, qualquer convenção social.
Diz-se que o véu é rebaixante para a mulher. Talvez, mas isso cabe à mulher decidir. Talvez para muitas muçulmanas a não utilização do véu pode ser, isso sim, rebaixante. A liberdade individual tem de ser preservada.

O véu deve poder ser utilizado por quem o entender. Assim como o boné, o chapéu ou os óculos de cor... cada indivíduo deve poder escolher a sua maneira de vestir, mesmo dentro da sala de aula.

A globalização traz-nos novas responsabilidades e novas liberdades. Com a chegada de novos povos ao nosso território temos que saber conviver com as novas culturas, mesmo que isso nos custe, durante um tempo.

Só podemos exigir democracia nos países árabes quando cá tivermos a plena democracia.

Na França, berço da democracia europeia, é proibido o véu islâmico, crucifixos explícitos e t-shirts com o símbolo da marijuana... tão triste confundir-se leicidade com autoritarismo cultural!

2 comentários:

Ctrl disse...

A escola é também a escola da socialização. A liberdade individual existe em função de uma liberdade colectiva, a de coexistir pacificamente, nem que isso signifique que todos têm de abdicar de um pouco da sua liberdade individual.

Ou os putos dos gangs podem usar óculos escuros e pistola nas aulas?

Ou os Rasta podem fumar a sua ganza na escola?

Ou os nudistas podem andar nus na escola?

Ou os toxicodependentes têm direito a sala de chuto e troca de seringas na escola?

Ou os budistas podem levar o gongo para a aula?

Ou os hindus podem levar a vaca para a escola?

E por que é que havemos de exigir democracia aos países árabes, se cultural e historicamente estão tão longe dela? Porque a nossa cultura é melhor e, portanto, exportável? E se fossem eles a exigir que pusessemos o rei outra vez a mandar?

baldassare disse...

exactamente. a nossa cultura não é melhor que a deles. mas só podemos querer que eles importem (que é diferente de sermos nós a exportar) a democracia, se nós, democratas, a pratiquemos a 100%.

é verdade, a questão do véu é extremamente polémica, e é difícil dizer-se "os muçulmanos podem levar véu para a escola mas os outros não podem usar gorro, porque estão a esconder a cara", assim como é difícil dizer-se "não quero saber das tuas convicções pesoais, mas aqui tens que mostrar a face porque as outras também mostram... e tu tens que ser igual às outras".
neste caso acho que a liberdade da muçulmana não querer mostrar a face não colide com a liberdade de quem quer que seja de ver a cara da muçulmana. acho que, neste caso não há crise...