quinta-feira, novembro 09, 2006

Faz de conta

Em carta do director do PÚBLICO, o leitor Júlio Marques, de VNGaia, põe o dedo na ferida do faz de conta que governa a educação cor-de-rosa em Portugal...


"(...) Estou igualmente em crer que os fracos resultados que obtêm se devem a uma política educativa desastrosa desde há muitos anos e que leva a que às organizações onde trabalham não sejam pedidas contas. Porque de contas se trata. Faz de conta o governo que governa, fazem de conta os alunos que aprendem, fazem de conta os professores que ensinam. Fazem de conta os sindicatos que os professores são todos tão bons, que todos em carreira chegam ao topo. Fazem de conta que as leis, nomeadamente a do Estatuto da Carreira Docente, sempre foi cumprida e que pelos seus brilhantes resultados deveria ser mantida.

Faz-se de conta que para a educadora que dá de comer às criancinhas enquanto canta o Come a papa Joana come a papa e o professor que ensina a Fenomenologia do Espírito se requer igual grau académico e igual retribuição. Faz-se de conta que a boa vontade proposta por Kant deveria ser o único imperativo a reger a actividade docente. Faz-se de conta que na carreira docente alguns professores, para transitarem ao 8.º escalão, não tiveram que prestar provas públicas (como a memória é curta!). Faz-se de conta que muitos professores que estão agora no topo da carreira não se licenciaram num ano sem precisarem sequer de deixar de trabalhar. Faz-se de conta que não havia escolas públicas a esvaziarem-se de alunos onde os professores com poucas horas iam leccionar para os colégios ao lado que se iam enchendo. Faz-se de conta que a formação contínua dos professores era uma resposta aos seus problemas profissionais e das suas escolas. Faz-se de conta que não houve professores que se reformaram aos cinquenta anos porque compraram tempo de serviço que faz de conta que existiu. Faz-se de conta que existiu uma coisa chamada "Área-Escola?", uma disciplina chamada Desenvolvimento Social e Pessoal (DPS), um movimento da Escola Cultural (como seria possível uma escola não ser cultural?!). Faz-se de conta que é normal um aluno de 7.º ano ter 15 (quinze) disciplinas. Faz-se de conta que é normal os ministros da Educação terem muito boas ideias sobre o assunto depois de terem sido ministros e escreverem livros interessantes.

De tanto fazer de conta até fazemos de conta que a conta que contamos há-de ser levada a sério.(...)"

1 comentário:

baldassare disse...

a cena é: um professor que dá segundo ciclo, terceiro ciclo ou até secundário está tão habilitado para dar a primária como o professor primário para dar secundário, ou seja,nem um nem outro podem ensinar graus diferentes porque sabem ensinar a diferentes idades e níveis.
Eu por saber o AEIOU não quer dizer que esteja habilitado para o ensinar aos miúdos da primária, e para lidar com alunos daquela idade!