sábado, abril 21, 2007

Os contra-sensos da CONFAP

Uma das medidas do novo Estatuto do Aluno é permitir aos professores afastar os alunos indisciplinados das tarefas extra-curriculares, como visitas de estudo, por exemplo.

Hoje, no PÚBLICO, Fernando Gomes, presidente da mesa da assembleia geral da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), vem afirmar que isso é "um contra-senso" e que as actividades extracurriculares "têm um papel importante na integração social dos alunos", sobretudo os problemáticos.

Por que motivo deverão alunos que agridem, ofendem, perturbam colegas, professores e funcionários (algumas concretizações do conceito de "aluno indisciplinado") participar nas actividades extra-curriculares, muitas vezes fora da escola, à responsabilidade do professor organizador? Terá a CONFAP noção do risco que muitas vezes significa para o professor levar para fora da escola à sua responsabilidade um aluno que não respeita a sua autoridade? Não será uma aprendizagem significativa para o aluno perceber que primeiro tem o dever de respeitar o grupo em que se integra na escola, para ter o direito de acompanhar o grupo fora da escola?

Para a CONFAP, aparentemente, os direitos devem prevalecer sobre os deveres, em nome da integração politicamente correcta. Sugere-se à CONFAP que organize grupos de acompanhamento e que os disponibilize às escolas para promover a integração dos alunos nestas situações nas actividades extra-curriculares. Talvez depois de acompanhar alguns destes alunos numas saídas mudem de opinião.

6 comentários:

baldassare disse...

Assino por baixo.
A Escola, como educadora que deve ser, tem que dar liberdade aos alunos. Mas, caso eles não usem bem a sua liberdade, têm que assumir as responsabilidades e sofrer as consequências, desde que estas sejam pedagógicas.
Acho pedagógico o não poder ir a uma visita de estudo porque se portou mal.

RioDoiro disse...

Defina, por favor, "sofrer consequências pedagógicas".

RioDoiro disse...

"Acho pedagógico o não poder ir a uma visita de estudo porque se portou mal."

E essa imposição não resulta de um exercício de poder?

Nan disse...

E a escola, como a família, não é um sistema de poder? A liberdade aprende-se. Eu posso sempre deixar que as minhas filhas, em pleno uso da total liberdade, experimentem enfiar um garfo na tomada da electricidade para verem oque acontece. Mas como mãe e educadora prefiro dar-lhes uma palmada na mão e dizer firmemente « Isso não se faz.»

RioDoiro disse...

Catarina, não diga isso ao Baldassare que ele acha que se está a cortar a liberdade que assiste a qualquer criança ou adolescente de seguir na senda das suas "crenças" e/ou "ideias".

Assino por baixo o que a Catarina escreveu.

baldassare disse...

Range:
Não é uma posição de poder, mas sim de liberdade. A liberdade, quando é mal utilizada, deve ser restringida, como é óbvio. Não para todos, mas para aquele que usou mal a liberdade.
Foi dada liberdade ao aluno e este usou-a mal. Não vai à visita de estudo. É uma penalização aceitável e pedagógica, que fará possivelmente o aluno mudar de atitude. Faz parte da minha teoria da educação Centrada no Aluno a responsabilização do mesmo.

Catarina e Range:
Não podemos fazer na escola aquilo que se faz numa família. Até porque há alunos que vêm de famílias diferentes e de contextos diferentes. Se a escola funcionasse como uma família, que modelo de família seria escolhido? Já sei. Para vocês seria o modelo de família em que o pai dá palmadas nos filhos.
O que a catarina faz com as suas filhas, é consigo (até certo ponto). O que se faz numa escola pública é público. E o que é público deve, a meu ver, ensinar a liberdade, dando liberdade.

Quanto ao R-O-D, acho muito engraçado uma coisa: defende que quem deve dar educação são as famílias, e que a escola só deve ensinar a matéria. E depois, acha que a escola deve mudar os valores daqueles que vêm com "crenças" e "ideias" de casa (há quem chame a isto educar...)
Quem defende que a escola deve ser um mero instrumento de transmissão de conhecimentos, e que a educação de uma geração deve ser feita SÓ PELAS FAMÍLIAS, não defende que a escola deve mudar a educação dessas famílias.
Mas R-O-D defende as duas. Quem educa são as famílias, mas "como (...) educadora prefiro dar-lhes uma palmada na mão e dizer firmemente « Isso não se faz.»".

Custa-me sinceramente ver professores tão desiludidos com a geração que criaram.