- "Ironicamente, os linguistas não são capazes de comunicar com a comunidade. Mas não lamentemos demasiado os académicos, que só têm de se queixar pelas suas culpas, principalmente quando a impotência desliza para o "não falem do que não sabem", como fez Maria Helena Mira Mateus. Os académicos têm de entender que, quando está em causa a generalização dos seus saberes, não só é natural como desejável que as pessoas acabem "falando do que não sabem". Ou falamos todos do que não sabemos, ou sucumbimos à ditadura tecnocrática - e se os especialistas querem ajudar ao debate a melhor maneira de o fazer não é exigir-lhe que termine."
Mas a nota fundamental não é essa, mas sim aquilo que já todos perceberam:
- "Além de que, se os linguistas tivessem pensado no resultado final, teriam feito bem em trabalhar menos e não mais: a TLEBS desce efectivamente a um nível minucioso que, como se viu, atrapalhou mais do que ajudou. Se eu fosse linguista, teria especial cuidado com este particular, porque já se chegou ao ponto em que Vasco Graça Moura conseguiu convencer as pessoas de que o linguista é o inimigo da língua e abomina a literatura.
A proposta de divisão do português de Rui Tavares:
- "De um lado, teríamos a Literatura, não só pelo benefício que dela resulta para a língua, mas reconhecendo a centralidade das letras na cultura universal. Os clássicos da literatura em Língua Portuguesa continuariam a ser o núcleo fundamental desta disciplina, mas tampouco há razão para excluir dela alguns clássicos fundamentais em tradução."
- "Do outro lado, a Linguagem. Mais uma vez, o eixo central seria a Língua Portuguesa, mas não nos deteríamos aí. Desde os saberes clássicos com contributos pragmáticos - a retórica, a gramática e a dialéctica - à análise de discurso, à construção de argumentos e às distinções entre fonética, morfologia e sintaxe."
Para os linguistas, sugestões destas servem perfeitamente os seus propósitos, na linha do que já conseguiram para o ensino secundário, em que empurraram a literatura para uma disciplina opcional, que nem sequer é necessária para entrar num curso de línguas e literaturas modernas, enquanto na disciplina de português se analisam regulamentos e se vão lendo textos dos média (vulgo ler as gordas dos jornais) e coisas tais, para chegarmos à legitimação pelo uso... Percebestes?
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