quarta-feira, janeiro 31, 2007

TLEBS - Chega-lhe, Vasco, que ainda mexe!

Vasco Graça Moura, em coluna hoje no DN, numa carta dirigida aos professores de português ("Caro professor de português"), depois de sintetizar a história do afundamento da TLEBS, apela ao sentido patriótico, num exemplo da opinião pública a governar pela Ministra de que falava Guilherme Valente:
  • "Por isso, venho apelar ao seu sentido de responsabilidade cívica, cultural e profissional. Recuse-se a aplicar a TLEBS! Nem sequer se tratará de desobediência civil que, aliás, sempre se justificaria, atentos o imperativo de defesa da nossa língua e as demais circunstâncias.
  • E também não se pode falar aqui de respeito da legalidade: Andrade Peres já demonstrou que os programas são ilegais porque violaram legislação vigente à data da sua homologação, atribuindo valor legal a um simples documento de trabalho, além de que a homologação dos programas do secundário não está publicada no jornal oficial.
  • No vazio instaurado, a si, caro professor, o que lhe resta é ir ensinando, provisoriamente, com base na Nomenclatura Gramatical Portuguesa de 1967 e na Gramática de Celso Cunha e Lindley-Cintra. Não serão perfeitas nem inteiramente satisfatórias, mas pelo menos não bloqueiam as suas possibilidades de se assumir a sério como professor de Português.
  • Até a TLEBS ser objecto de uma revisão decente, só resta um caminho: se o ministério se obstina em não repor a vigência da Nomenclatura, reponhamo-la nós! "
(Seguindo a ordem natural das coisas, é de esperar que amanhã Eduardo Prado Coelho retome a temática no PÚBLICO...)

15 segundos de Álvaro de Campos

Apontamento

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Apontamento - Álvaro de Campos/Fernando Pessoa

Contra o eduquês

Guilherme Valente, hoje no PÚBLICO, considera que o Eduquês está à solta no Ministério da Educação, com a Ministra a assinar de cruz a prosa iluminada dos "especialistas" em Ciências da Educação de que se rodeia, para depois recuar pressionada pela opinião pública. Uma luta para continuar?

  • "Manifestando em todas as oportunidades a sua animosidade contra os exames, esta ministra quis, ou deixou que se pretendesse, acabar com o exame de Português, lembram-se? E a opinião pública obrigou-a a recuar. Depois seguiu-se o escândalo incompreensível dos exames de Química. Ontem foi a TLEBS; agora o fim do exame de Filosofia (não me lembro de decisão pedagógica e cívica tão ignorante e insensata como esta, a não ser, mais uma vez, que fosse de propósito); amanhã a alteração aparentemente absurda do regime de docência no básico, que será, de todos os erros, o que é mais imperativo travar."
  • "Mas poderemos estar sempre atentos a tudo, tantas são as medidas aberrantes, mas muitas mais discretas, não tendo, por isso, a cobertura dos media que alerta os cidadãos? Poderá tal situação continuar, a opinião pública a ter recorrentemente de se mobilizar para corrigir os erros da ministra? Inaceitável forma de governar: a ministra pensa, ou avaliza e promove medidas catastróficas, a opinião pública reage e o ministério recua. É a opinião pública a governar pela ministra (...)"

terça-feira, janeiro 30, 2007

Pergunta da semana

Porque é que em vez de cada escola ter o seu regulamento interno, não há um Regulamento Interno Nacional?

segunda-feira, janeiro 29, 2007

15 segundos de Alexandre O'Neil

Há uma altura em que, depois de se saber tudo, tem de se desaprender. Sucede assim com o escrever. Com o escrever do escritor, entenda-se. Eu, provavelmente poeta, estou a aprender a... desaprender. E para quê e como se desaprende? Para deixar de ronronar, para que o leitor, quando o nosso produto lhe chega às mãos, não exclame, satisfeito ou enfastiado: «- Cá está ele!».
Na verdura dos seus anos, a preocupação do escritor parece ser a da originalidade. Ser-se original é mostrar-se que se é diferente. E as pessoas gostam das primeiras piruetas que um sujeito dá. E o sujeito gosta de que as pessoas vejam nele um talento.
Atenção, vêm aí as receitas, as ideias feitas, os passes de mão, os clichés, os lugares selectos ou, mais comezinhamente, os lugares comuns. O escritor está instalado. Revê-se na sua obra. Começa a abalançar-se a voos mais altos, a mergulhos mais fundos. É a intelectualidade que o chama ao seu seio, o público que o põe, vertical, nas suas prateleiras. Arrumado.
Quase sem dar por isso, o escritor acomodou-se e tornou-se cómodo, quando propendia, nos seus verdes anos, a incomodar-se e a tornar-se incómodo. Organiza «dossiers» com os recortes das críticas que lhe fizeram ao longo da sua carreira (nome, já de si, chamuscante), vai a colóquios, celebrações, congressos. Ganha prémios.
É traduzido e publicado no estrangeiro. Por desfastio (e por que não?, algum dinheiro) aceita colaborar em conspícuas revistas ou em jornais efémeros como o dia a dia em que vão sendo publicados. Está de tal modo visível que já ninguém dá por ele. É o escritor.
Se as coisas continuarem indefinidamente assim, o escritor pode ser alcandorado a gloríola nacional, com todos os direitos inerentes a uma situação dessas: academia, nome de rua, estatueta ou estátua, tudo isso em devido tempo, quer dizer, já velho ou já morto o escritor.
Pedra campal sobre o assunto.

Alexandre O'Neill, in 'Uma Coisa em Forma de Assim'
Via Citador

sábado, janeiro 27, 2007

Carta de uma professora

Carta de uma professora em resposta a Miguel Sousa Tavares (recebida por email)

«Não é a primeira vez que tenho a oportunidade de ler textos escritos pelo jornalista Miguel Sousa Tavares. Anoto que escreve sobre tudo e mais alguma coisa, mesmo quando depois se verifica que conhece mal os problemas que aborda. É o caso, por exemplo, dos temas relacionados com a educação, com as escolas e com os professores. E pensava eu que o código deontológico dos jornalistas obrigava a realizar um trabalho prévio de pesquisa, a ouvir as partes envolvidas, para depois escrever sobre a temática de forma séria e isenta.

O senhor jornalista e a ministra que defende não devem saber o que é ter uma turma de 28 a 30 alunos, estando atenta aos que conversam com os colegas, aos que estão distraídos, ao que se levanta de repente para esmurrar o colega, aos que não passam os apontamentos escritos no quadro, ao que, de repente, resolve sair da sala de aula. Não sabe o trabalho que dá disciplinar uma turma. E o professor tem várias turmas.

O senhor jornalista não sabe (embora a ministra deva saber) o enorme trabalho burocrático que recai sobre os professores, a acrescer à planificação e preparação das aulas. O senhor jornalista não sabe (embora devesse saber) o que é ensinar obedecendo a programas baseados em doutrinas pedagógicas pimba, que têm como denominador comum o ódio visceral à História ou à Literatura, às Ciências ou à Filosofia, que substituíram conteúdos por competências, que transformaram a escola em lugar de recreio, tudo certificado por um Ministério em que impera a ignorância e a incompetência.

O senhor jornalista falta à verdade quando alude ao «flagelo do absentismo dos professores, sem paralelo em nenhum outro sector de actividade, público ou privado». Tal falsidade já foi desmentida com números e por mais de uma vez. Além do que, em nenhuma outra profissão, um simples atraso de 10 minutos significa uma falta imediata.

O senhor jornalista não sabe (embora a ministra tenha obrigação de saber) o que é chegar a uma turma que se não conhece, para substituir uma professora que está a ser operada e ouvir os alunos gritarem contra aquela «filha da puta» que, segundo eles, pouco ou nada veio acrescentar ao trabalho pedagógico que vinha a ser desenvolvido.

O senhor jornalista não imagina o que é leccionar turmas em que um aluno tem fome, outro é portador de hepatite, um terceiro chega tarde porque a mãe não o acordou (embora receba o rendimento mínimo nacional para pôr o filho a pé e colocá-lo na escola), um quarto é portador de uma arma branca com que está a ameaçar os colegas. Não imagina (ou não quer imaginar) o que é leccionar quando a miséria cresce nas famílias, pois «em casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão».

O senhor jornalista não tem sequer a sensibilidade para se por no lugar dos professores e professoras insultados e até agredidos, em resultado de um clima de indisciplina que cresceu com as aulas de substituição, nos moldes em que estão a ser concretizadas. O senhor jornalista não percebe a sensação que se tem em perder tempo, fazendo uma coisa que pedagogicamente não serve para nada, a não ser para fazer crescer a indisciplina, para cansar e dificultar cada vez mais o estudo sério do professor. Quando, no caso da signatária, até podia continuar a ocupar esse tempo com a investigação em áreas e temas que interessam ao país.

O senhor jornalista recria um novo conceito de justiça. Não castiga o delinquente, mas faz o justo pagar pelo pecador, neste caso o geral dos professores penalizados pela falta dum colega. Aliás, o senhor jornalista insulta os professores, todos os professores, uma casta corporativa com privilégios que ninguém conhece e que não quer trabalhar, fazendo as tais aulas de substituição.

O senhor jornalista insulta, ainda, todos os médicos acusando-os de passar atestados, em regra falsos. E tal como o Ministério, num estranho regresso ao passado, o senhor jornalista passa por cima da lei, neste caso o antigo Estatuto da Carreira Docente, que mandava pagar as aulas de substituição. Aparentemente, o propósito do jornalista Miguel Sousa Tavares não era discutir com seriedade. Era sim (do alto da sua arrogância e prosápia) provocar os professores, os médicos e até os juízes, três castas corporativas. Tudo com o propósito de levar a água ao moinho da política neoliberal do governo, neste caso do Ministério da Educação.

Dalila Cabrita Mateus, professora, doutora em História Moderna e Contemporânea».

sexta-feira, janeiro 26, 2007

TLEBS - o cadáver adiado

Jorge Pedreira, secretário de Estado adjunto da Educação, anunciou que "o Governo vai suspender a aplicação nas escolas da nova Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário (TLEBS)" numa portaria que será publicada em Fevereiro.

Aparentemente, o que se vai suspender é a "experimentação generalizada" (um conceito que não deve ser confundido com "generalização", que já se encontrava suspensa desde Dezembro).

Para o ano, recomeça-se outra vez, depois de corrigida e revista pelo linguista João Costa (recentemente atacado por alegados interesses na TLEBS - o homem é linguista, é claro que tem grande interesse na coisa) e o professor de Literatura e Análise Literária Vítor Aguiar e Silva (a quem ainda não se descobriu nenhuma prima, que tenha uma amiga, que tenha um namorado, que tenha dado um parecer ou ido tomar café com ninguém ligado à concepção da TLEBS).
  • "No próximo ano lectivo, a TLEBS pode ser aplicada como experiência-piloto, num grupo restrito de escolas, informa o secretário de Estado. "A decisão política tem de se adaptar à viabilidade técnica. Se houver condições técnicas para avançar [para a generalização em 2008/2009], avançaremos", acrescenta Pedreira.
Onde é que já ouvi isto? Curioso é a conclusão da notícia, confirmando a tendência de afastar o ónus desta equipa ministerial, desde que a coisa começou a dar para o torto:
  • "A TLEBS foi aprovada pelo Governo de Santana Lopes e tem sido alvo de fortes críticas por parte de especialistas, pais e professores."
Assim se vê a jogada para descartar de vez a TLEBS para as calendas... Questões que ficam no ar, por responder:
  • O que fazer aos manuais de 7º ano, adoptados no ano passado, cumprindo na generalidade as indicações da TLEBS? Em 2997/2008 teremos os alunos de 7º ano a fazer uma experiência virtual, para esquecer rapidamente no ano seguinte?
  • Quando se descongelar a adopção de manuais, vão-se reformular os de 7º ano, que deverão ser os primeiros, ou retoma-se no 8º ano, deixando os de 7º "com erros "entretanto corrigidos?
  • As acções de formação feitas por professores sobre uma matéria "com erros" serão creditadas na mesma?
  • Qual o contentor em que se deve "arquivar" o trabalho já realizado por centenas de departamentos de língua portuguesa em agrupamentos por todo o país: azul, amarelo ou verde?
  • Que palavras para os que se têm ingloriamente esforçado por cumprir as indicações do ME (até agora) de generalização da TLEBS e que palavras para os que se têm estoicamente marimbando para o cumprimento das indicações do ME até agora?

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Para a próxima aula tragam oito cêntimos para pagar as fotocópias.

Um dos maiores escândalos nas escolas públicas: não há dinheiro para fotocópias. É verdade... não há dinheiro para a escola pagar fotocópias!

Mas ainda se se poupasse em tudo, não havia problema. Existem situações de austeridade, e se fosse disso que se tratasse, era compreensível. Mas a verdade é que as escolas estão a abarrotar-se de computadores, portáteis, monitores LCD nos conselhos executivos, MagicBoards (quadros electrónicos) nas salas de aula, projectores, DVDs etc...

Como é que é possível estar-se assim a “racionar” nas fotocópias, quando se gastam milhares de Euros em equipamento que, sendo bom e pedagógico, é, em comparação com as fotocópias, acessório???

Que vergonha para a escola pública! Quase todas as semanas os meus professores pedem a cada aluno da turma 8 cêntimos, 16 cêntimos, 20 cêntimos... para pagar fotocópias de aprendizagem! Quase que parece que estão a mendigar e, embora 8 cêntimos não seja grande coisa, é embaraçoso para os alunos, professores e para a Instituição-Escola, não haver dinheiro para fotocópias e haver para quadros electrónicos...

Em vez de encherem a escola de luxos e ecrãs, tenham em atenção os “bens essenciais” da escola, entre os quais as fotocópias.

TLEBS - R.I.P.

Em dia de entrega na A.R. da petição contra a TLEBS, por José Nunes, li o artigo de João Peres do Expresso da semana passada (via):
  • a suspensão imediata e generalizada da TLEBS em todos os níveis dos Ensinos Básico e Secundário (conjuntamente com as actividades de dita «formação» e o gabinete de apoio que a secundam) e a reposição provisória da anterior Nomenclatura, até que se encontrem soluções legalmente válidas e cientificamente correctas. Ao mesmo tempo, seria crucial que a Senhora Ministra nomeasse uma comissão pluridisciplinar com pedagogos, psicólogos, professores de Língua Portuguesa, linguistas - que poderiam, por exemplo, ser os catedráticos de Linguística e de Didáctica do Português em exercício no país e não envolvidos na TLEBS - e especialistas de Estudos Literários (incluindo Aguiar e Silva), com a missão de fazer o ponto da situação actual e propor objectivos a atingir e acções a empreender. Finalmente, deveriam ser sondados o Brasil e os demais países lusófonos sobre o seu interesse em aderir ao processo.
A ler na íntegra. Lapidar.

quarta-feira, janeiro 24, 2007

Prémio Nacional de Professores

O Ministério da Educação lançou hoje o Prémio Nacional de Professores:
  • "O objectivo deste prémio, a conceder a partir de 2007, é reconhecer e galardoar aqueles que contribuam de forma excepcional para a qualidade do sistema de ensino nos seus mais variados aspectos, quer no exercício da actividade docente propriamente dita, em contacto directo com alunos, quer na defesa de boas práticas e condutas com impacto na dignificação e na valorização da escola."
A um (1) professor(a), de qualquer nível de ensino, será então atribuído um prémio monetário de €25.000, após análise aprofundada das candidaturas que hão-de aparecer, por um ilustre júri (que entre si deve receber mais em ajudas de custo que o valor do prémio) presidido por Daniel Sampaio.

Acho que a escolha de um psicólogo para presidente do Júri é acertada, dado o estado de nervos em que o ME anda a pôr os professores.

A proposta de candidatos é limitada aos conselhos executivos, às associações profissionais de professores ou a 50 docentes do mesmo agrupamento de escola ou do mesmo grupo disciplinar, mas só a 1 por agrupamento (lá estão as malvadas cotas, não pode haver 2 professores excelentes no mesmo agrupamento...).

Ao PÚBLICO, Maria de Lurdes Rodrigues explica que "não está prevista a possibilidade de também os alunos poderem propor um professor, já que há uma dimensão profissional e técnica que requer a validação pelos pares ou pelas instituições". Pois é, já me esquecia que os alunos e os pais só podem avaliar um professor para progressão na carreira, um aspecto secundário, quando se trata de coisas sérias como prémios já não são capazes...

Fico à espera da lista de candidatos, para ver quem tem espírito de lavadeira de Caneças para participar nesta jogada de branqueamento propangandística...

Por mim, acho que a melhor resposta que os professores podiam dar era ignorar esta fantochada e não candidatar absolutamente ninguém. Ou então propor massivamente Maria de Lurdes Rodrigues, como única candidata, a nossa líder, o nosso exemplo...

terça-feira, janeiro 23, 2007

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Esclarecimento: "rentabilizar" recursos

Acabei de perceber o que é que a Ministra quer dizer quando fala de rentabilizar os recursos das escolas:

"Rentabilizar é cortar rente com habilidade."

[via: Ironia do Destino]

15 segundos de Gaiteiros de lisboa

Eu tenho um terreno
Mas não tenho enxada
Tenho uma carrinha
Mas é emprestada

Tenho água no poço
Mas está salgada
Com estas sementes
Eu não faço nada

Eu tenho e não tenho
Ando assim, que sorte!
Ando em meias tintas
Nem fraco nem forte...

Eu tenho e não tenho
Não é que me importe
Ninguém me confunde
Nem a própria morte

Ando ao que vier
Ao azar da sorte
Nem cá e nem lá
Nem fraco nem forte...

Tenho um cão de guarda
Dorme o dia inteiro
E tenho uma vaca
Mas pago ao leiteiro

Galinhas e porcos
Já não há dinheiro
Um cão e uma vaca
E eu no poleiro

Eu tenho e não tenho
Ando assim, que sorte!
Ando em meias tintas
Nem fraco nem forte...

Minha casa é grande
Mas chove lá dentro
Tenho um lindo fato
Mas já lá não entro

Eu sei tanta coisa
Mas não me concentro
Tenho a açorda pronta
Falta-me o coentro

Hoje tenho tempo
Está a chover
Amanhã faz sol
Mas não vou poder

É uma canseira
Não vê quem não quer
Que vida agitada
Tudo por fazer!

Eu tenho e não tenho
Ando assim, que sorte!
Ando em meias tintas
Nem fraco nem forte...

Gaiteiros de Lisboa- Nem fraco nem forte- Sátiro (2006)
Letra: Amélia Muge

domingo, janeiro 21, 2007

O Problema Essencial

“O principal problema da educação de hoje é os alunos não virem para as aulas com uma predisposição para aprender

A minha professora de Português in “Lição nº53 e 54”

Concordo. Sem dúvida que a aprendizagem é uma coisa que necessita de concentração e persistência e alguns não têm estas características. A preguiça de alguns alastra a toda a turma, que, sem a intervenção do professor (que pode ir desde a repreensão oral à expulsão), fica completamente “no ar”. E com isto critico-me a mim mesmo também. É impossível manter a concentração em alguns ambientes que se criam nas salas de aula (ambientes esses que por vezes são criados também pelos professores...).

Talvez a melhor maneira de, na escola do século XXI, encarar este problema, seja criar alternativas aos que não querem/podem/conseguem estudar. Tem que se criar outra perspectiva de vida para quem não é bom o suficiente para ir para a universidade.

No sistema actual, todos os alunos que terminam o 9º ano são encaminhados para os cursos cientifico-humanísticos, que dão acesso posterior às universidades. Sob o pretexto hipócrita do “vale a pena tentar”, muitos acabam mal o 12º e vão trabalhar para caixas de supermercado... e a sociedade continua a mandar pessoas que têm poucas hipóteses de conseguirem acabar a universidade para esses cursos, em vez de ajudar os jovens a procurar empregos de que eles gostem, onde valham a pena os anos de estudo (teórico e manual) investido.

Uma pessoa aqui há tempos disse-me “quem vai para os cursos técnicos e profissionais são os burros!”. Quem nunca ouviu “Mas ele/ela é formado/a?”, referindo-se à única formação possível como a universitária?

A realidade é esta: o acesso ao “ensino superior” sempre foi restringido a uma minoria. Só que antigamente o critério era o dinheiro e hoje são (ou deveriam ser) as capacidades.

Por isso é que eu defendo a escolha das escolas (em que o critério para entrar nas melhores escolas seriam as médias e não o melhor bairro), os manuais emprestados pela escola, o ensino profissional/técnico como alternativa, o fim dos TPCs obrigatórios....

Talvez o problema essencial na educação seja toda a estrutura e sociedade (alunos, professores, cominicação social, pais e amigos incluidos), que empurra todos os alunos para um sítio onde não querem estar, e donde, provavelmente, não irão tirar nenhum benefício futuro: a sala de aulas.

Porque hoje é domingo - programa japonês de motivação para andar de bicicleta

sexta-feira, janeiro 19, 2007

TLEBS - os velhos dos marretas


Arriscam-se a ficarem definitivamente como os velhos dos marretas: às 4ªs Vasco Graça Moura diz "mata" à TLEBS e à 5ª Eduardo Prado Coelho diz "esfola"...


Na sua habitual crónica no PÚBLICO, Eduardo Prado Coelho começa por afirmar peremptoriamente:
  • "A TLEBS levou agora um golpe mortal. Os manuais que tinham adoptado, melhor ou pior, a nova terminologia, foram suspensos, o que significa que o ensino dos anos correspondentes voltou a ser de perfil tradicional."
Aproveita para reconhecer à polémica da TLEBS, que dá (talvez um pouco precipitadamente por terminada) um "mérito indiscutível":

  • "Conseguiu que a maioria da opinião pública, em particular os pais, estivesse contra uma tal iniciativa. E os professores também: 4000 assinaturas contra. Isto é, mesmo aqueles que ignoravam o problema e sobretudo as suas implicações (por exemplo, o modo como matava o Plano Nacional de Leitura) tomaram consciência dele e tornaram-se desfavoráveis."
Não termina sem lançar uma farpazinha aos linguistas:
  • "O que tornava difícil a discussão era o facto de os inventores da TLEBS considerarem que todas as pessoas que intervinham ignoravam a linguística por completo. Posso garantir-lhes que não é bem assim."

quinta-feira, janeiro 18, 2007

TLEBS - suspensão dos manuais do 8º ano

Valter Lemos, o genial Secretário de Estado da Educação, diz hoje ao DN, a propósito da suspensão de adopção de manuais do 8º ano de Língua Portuguesa, que:
  • "não há nenhuma indicação" de que estes alunos se deparem em 2007/2008 com um conflito entre termos novos e antigos."
Certo, excepto o pormenor de os alunos de 7º ano andarem a dar a formação de palavras e para o ano abrirem o Manual e descobrirem que afinal não há palavras formadas por parassíntese, ou que as funções sintácticas de complemento proposicional que estão a aprender são afinal, no manual de 8º ano, complementos circunstanciais, ou que as subclasses dos nomes já não são animados, contáveis ou humanos, só para dar 3 exemplos.

Os alunos não se vão deparar com conflitos entre termos?! Tanta incompetência, meu deus...

Nem nós...



[via Anterozóide]

quarta-feira, janeiro 17, 2007

"Insânia e inconstitucionalidade"

Hoje é 4ª feira, dia de coluna de Vasco Graça Moura no DN, por isso, dia de cascar na TLEBS... Retomando o tema dos fora-da-lei, que já tínhamos abordado aqui na EC-D-R, VGM começa por acusar o ME de, na sua insânia, "carnavalizar a gramática" (gosto da expressão):

  • "A insânia tomou conta do ministério e a TLEBS mais não fez do que criar a carnavalização da gramática, com todas as grotescas consequências inerentes para a aprendizagem da língua e para a cidadania."
Sintetiza o óbvio em relação à TLEBS:
  • "Não é um instrumento relevante para o ensino, mas um factor de dificultação e desaprendizagem;
  • não contribui para a valorização do património colectivo que é a língua, mas para a sua desagregação acelerada;
  • não permite qualquer progresso específico ou transversal e interdisciplinar, antes envolve o desnorte de professores e alunos e um grave retrocesso escolar na transmissão, aquisição e utilização dos conhecimentos;
  • não estabiliza nenhum aspecto da língua ou do seu ensino, antes esboroa a visão do mundo que a língua transporta (George Steiner), com terrível lesão do seu papel como factor de identidade."
E, depois de confrontar o dever da constituição de "assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa", remata:
  • "A TLEBS viola escandalosamente todos os preceitos constitucionais acima referidos, pelo que tanto a Portaria 1488/2004 que a aprova como ela em si mesma, e ainda a Portaria 1147/2005, são materialmente inconstitucionais."
Chegarão os paliativos que se preparam para salvar o que quer que seja? Espero muito sinceramente que João Costa esteja à altura da sua reputação científica e que Vítor Aguiar e Silva forneça a dose de realismo necessária à revisão da TLEBS. O maior receio? O que nasce torto...

O sucesso do sistema educativo Indiano

A propósito da visita de Cavaco Silva à Índia, e antecipando desde já o que poderá ser eventualmente o próximo paradigma a seguir pelos génios que nos governam, aqui fica a chave do sucesso do sistema educativo Indiano, segundo Rahool Pai Panandiker*, hoje, no PÚBLICO:

  • "Não há explicações milagrosas. O "sucesso" do sistema educativo indiano é fruto do acesso livre e obrigatório à educação, da alteração paradigmática sobre valor de educação e da simples vontade e empenho do estudante médio indiano."
  • Primeiro, a educação nos níveis primário e secundário foi tornada acessível, mesmo nas aldeias mais remotas, de modo gratuito e obrigatório. Dado este facto, as leis de probabilidade numa população de 1,3 biliões ajudam a criar uma vasta massa de potenciais cientistas e engenheiros.
  • Segundo, há uma mudança paradigmática e consideravelmente mais optimista na mentalidade do indivíduo de que a educação é realmente a via para um futuro melhor. Esta mudança não deve ser menosprezada, na medida em que ela constitui uma enorme força mobilizadora para a performance e excelência. Os pais da crescente população indiana da classe média, actualmente em 350 milhões de pessoas, transmitiram valores de sacrifício orientados para a educação dos seus filhos, apostando mais nesta "lotaria educativa" do que em qualquer outra.
  • Terceiro, trabalho árduo permanente. O estudante indiano médio "bem sucedido" ao entrar no famoso IIT (Indian Institute of Technology) poderá gastar 14 a 16 horas por dia a estudar durante um a dois anos, antes de fazer a prova geral de acesso para as instituições de referência. Este é um argumento não muito diferente dos modelos darwinianos - sobrevivência dos mais aptos. Estas instituições e muitas outras estão fornecidas com estudantes de primeira qualidade - inteligentes, trabalhadores e com vontade de desafiar o mundo e logo necessitam pouco de "tratamento".
*Natural de Goa, membro do The Boston Consulting Group e um dos responsáveis pela concepção do site da Presidência dedicado ao acompanhamento permanente da visita de Cavaco Silva à Índia

terça-feira, janeiro 16, 2007

Professor único?! Professor tutor?!

Parece que a fúria legislativa do ME não tem limites. Sem deixar o pó assentar nas recentes ilegalidades, disparam mais rápido do que a própria sombra, desta vez contra o 2º Ciclo. Como noticia o Diário Económico hoje:
  • "Este sistema prevê a existência de “um professor tutor que tenha capacidade para leccionar as áreas básicas (Português, Matemática, Ciências da Natureza, História, Geografia de Portugal e Expressões) apoiado por docentes de outras áreas profissionais” acrescentou o governante [Valter Lemos]."
A confirmação de que o Ministério vive num estado distópico, se alguém precisava ainda de uma, será certamente esta. Mesmo com todas as boas vontades em formar a próxima geração de professores nestes moldes, a questão é, ao ritmo a que as novas colocações se vão dar (redução de lugares + aumento da idade de reforma) esses novos professores só entrarão no sistema lá para 2020...

Ora isto deixa a implementação desta medida aos professores de 2º ciclo existentes. Como se passará a formação desta gente? Terão cursos à pressão, como os complementos de licenciaturas em 6 meses para os bacharéis, há uns anos, para ir dar as áreas que não são da sua formação de base? Estarão daqui a 1 ano professores de matemática recauchutados a dar português e a implementar a TLEBS? Ou será que a fava vai calhar aos de Educação Visual?

Depois ainda temos de gramar com a cara de sonso de Valter Lemos a justificar na TV que "temos os resultados mais baixos da Europa neste ciclo, temos que fazer alguma coisa"... Por que não começar por mandar às urtigas as áreas não curriculares? Só aí reduzia-se logo em 3 o número assustador de disciplinas e professores...

E já agora, porquê "professor tutor"?! Porque não ensina nada, é um "facilitador de aprendizagens"?! Tenham vergonha...

Pergunta da Semana

Existindo professores desempregados e professores a mais, porque é que os professores vão-se reformar mais tarde?

segunda-feira, janeiro 15, 2007

"Uma vergonha para a democracia"

Reflectindo sobre as decisões dos tribunais que dão razão ao alunos que reclamaram a repetição dos exames de Química e Física, Santana Castilho, hoje no PÚBLICO, sintetiza o processo e as críticas que o acompanharam, questionando o papel do Ministério da Educação e a passividade da sociedade perante tantos atropelos da legalidade:

  • "Não é uma vergonha para a democracia toda esta trapalhada?"
  • "Toda esta vergonha precisava de ser lavada, com a demissão dos responsáveis. Mas o país está doente e incapaz de expurgar os seus males: dum lado, o poder autista que acredita em reformas sem critério; do outro uma sociedade cansada, descrente, abandonada ao medo propagandeado de ter ainda pior se não aceitar passivamente isto. Uma vergonha para a democracia"

15 segundos de Aldous Huxley

Educação Colectiva Não Funciona A nossa política educacional baseia-se em duas enormes falácias. A primeira é a que considera o intelecto como uma caixa habitada por ideias autónomas, cujos números podem aumentar-se pelo simples processo de abrir a tampa da caixa e introduzir-lhes novas ideias. A segunda falácia, é que, todas as mentes são semelhantes e podem lucrar como o mesmo sistema de ensino. Todos os sistemas oficiais de educação são sistemas para bombear os mesmos conhecimentos pelos mesmos métodos, para dentro de mentes radicalmente diferentes.
Sendo as mentes organismos vivos e não caixotes do lixo, irremediavelmente dissimilares e não uniformes, os sistemas oficiais de educação não são como seria de esperar, particularmente afortunados. Que as esperanças dos educadores ardorosos da época democrática cheguem alguma vez a ser cumpridas parece extremamente duvidoso. Os grandes homens não podem fazer-se por encomenda por qualquer método de ensino por mais perfeito que seja.
O máximo que podemos esperar fazer é ensinar todo o indivíduo a atingir todas as suas potencialidades e tornar-se completamente ele próprio. Mas o eu de um indivíduo será o eu de Shakespeare, o eu de outro será o eu de Flecknoe. Os sistemas de educação prevalecentes não só falham em tornar Flecknoes em Shakespeares (nenhum método de educação fará isso alguma vez); falham em fazer dos Flecknoes o melhor. A Flecknoe não é dada sequer uma oportunidade para se tornar ele próprio. Congenitamente um sub-homem, ele está condenado pela educação a passar a sua vida como um sub-sub-homem.

Aldous Huxley, in 'Sobre a Democracia e Outros Estudos'
Via Citador

domingo, janeiro 14, 2007

Porque hoje é domingo - The Thousand Hands



" Artists from China Disabled People's Performing Art Troupe (CDPPAT). Following the leading dancer Tai Lihua, about 20 hearing-impaired girls come together to become one multi-armed goddess. Their performance became a nationwide sensation." [via 22 over 7]

sábado, janeiro 13, 2007

Os fora-da-lei


São José Almeida sintetiza hoje no PÚBLICO a carreira de fora-da-lei lançada pela senhora Ministra (fazemos a ressalva que ainda estão a decorrer muitos processos, pelo que este post poderá ficar desactualizado rapidamente):

"As decisões da ministra da Educação declaradas ilegais ou anuladas pelos tribunais parecem ser como as cerejas: o problema é começar... O seu mandato começa a assemelhar-se a uma cascata de actos ilegais e arbitrariedades a que os tribunais têm de pôr cobro. Desde a repetição de exames até ao pagamento como horas extraordinárias das aulas de substituição, passando pela implosão da ordem de regresso às escolas de origem dada a meio do ano lectivo aos professores destacados por razões de saúde, não há medida, no voluntarismo da ministra, que não esbarre ou não exceda as fronteiras da legalidade.

É evidente que no Ministério da Educação há um gabinete jurídico que tem obrigação de assessorar a ministra e de lhe dizer quando as suas vontades não são compagináveis com a lei, em vez de fazerem pareceres martelados em que manipulam a legalidade para agradar as chefias e ao poder. Mas a responsabilidade política é da ministra e dos seus secretários de Estado. E a ideia que transparece do Ministério da Educação, neste momento, é de que é ocupado por uma equipa que age fora da lei."

Videovigilância nas escolas

A Ministra quer generalizar a videovigilância nas escolas. Parece genuinamente preocupada com o efeito, será que consegue perceber as causas de a violência dentro das escolas ter aumentado 15% no ano passado? O comentário de uma leitora do PÚBLICO parece-me elucidativo:

Fazem o mal e a caramunha. Promoveram a violênci...
Por Maria José de Almeida - Lisboa
Fazem o mal e a caramunha. Promoveram a violência nas escolas, ao insultarem os professores, acusando-os de nada fazerem e de serem incompetentes. Continuaram a promover a violência nas escolas ao criarem as tais aulas de substituição, em que um professor ou professora é colocado numa turma que não conhece e que não o quer. E acentuaram ainda mais a violência, ao promoverem uma política que aumenta a miséria das famílias, que descarregam nos filhos e estes nos professores. De modo que a violência atingiu nalgumas escolas expressão inaudita. E agora avançam com os sistemas de videovigilância. A actual equipa da Educação devia era ir a banhos, deixando o Ministério a alguém mais competente. "

sexta-feira, janeiro 12, 2007

TeLEtuBbieS.

"A TLEBS é uma grande invenção. Inicialmente concebida para uniformizar a terminologia da gramática portuguesa, pode agora ser adaptada pelas escolas às condições de cada turma e grau de ensino, é ignorada pela população adulta que continua a raciocinar de acordo com a terminologia antiga e desconhecida nos países onde vive 95% dos falantes da língua portuguesa. É o costume. Como no caso do Esperanto, a criação de uma linguagem universal acabou por contribuir para criar mais uma linguagem que só será falada por uma pequena facção de entusiastas.".

JoaoMiranda no Blasfémias

Não podia estar mais de acordo.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

TLEBS - comentário (convidado) à Petição contra a TLEBS

Achei que o comentário exaustivo que a Luísa Santos fez sobre a Petição contra a TLEBS merecia destaques de post, de maneira que fica aqui na íntegra, esperando a sua condescendência por não ter como pedir a sua autorização prévia para a republicação.
Ctrl.Alt.Del

Aproveitando a liberdade de expressão que me concede, aqui ficam a famosa petição e as minhas razões para não a subscrever:

" - A TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário) veio propor toda uma nova terminologia para a Gramática Portuguesa, em moldes experimentais. A experiência visa avaliar a adequação científica e pedagógica dos novos termos e definições linguísticas propostas, usando para tal os alunos como campo de experiência. A TLEBS faz dos alunos dos Ensinos Básico e Secundário cobaias de validação de teorias linguísticas consideradas desajustadas por muitos especialistas em Educação e em Língua e Literatura Portuguesas."

  • Aconteceu exactamente o mesmo após a publicação da Nomenclatura de 1967. Os alunos não estão a ser cobaias de validação de teorias linguísticas. Tanto quanto sei, uma teoria linguística é validada na própria área. Está a ser testada é a capacidade de se didactizar determinados termos.


"- A TLEBS, definida na Portaria n.º 1488/2004, de 24 de Dezembro, como “experiência pedagógica” foi este ano lectivo de 2006/2007 alargada a todas as escolas do Ensino Básico e secundário - Portaria n.º 1147/2005 de 8 de Novembro."
  • Falso. A experiência pedagógica foi generalizada. A TLEBS não foi. Cada departamento tem a liberdade de gerir a introdução da TLEBS até à sua generalização.
"- Os alunos abrangidos pela “experiência pedagógica” TLEBS são:
Em 2006/2007 – os alunos do 3º, 5º, 7º, 9º e 12º anos de escolaridade, a nível nacional.
Em 2007/2008 – todos os níveis de escolaridade, do 1º ao 12º ano, ou seja, todas as crianças e jovens portugueses em idade escolar."
  • Como já sabemos o que é "experiência pedagógica", esta informação torna-se supérflua.
"- Os pais e encarregados de educação não foram chamados a dar a sua autorização para que os seus filhos e educandos integrassem a experiência TLEBS. O Estado Português fez uso abusivo da autorização implícita inerente à frequência da Escolaridade Obrigatória."
  • Demagogia em estado puro. Se os autores deste texto se tivessem dado ao trabalho de ler a documentação sobre a experiência pedagógica, percebiam que esta é definida como o processo de gestão dos termos por nós. Não me parece que precise de pedir autorização por escrito aos pais dos meus alunos para ir daqui à Faculdade de Letras fazer uma acção de formação que até sou eu que pago...Também não me parece que precise de lhes pedir autorização por escrito para ler uma base de dados...E também não me parece que precise de autorização por escrito para decidir se ensino aos meus alunos como identificar o sujeito em Novembro ou em Janeiro. Mas talvez precise. Desde há alguns anos que os pais mandam na escola. Mandam no funcionamento, mandam na disciplina e agora até querem ser quem decide o que se ensina.
"- O Estado Português permitiu-se introduzir na Escolaridade Obrigatória conteúdos experimentais não validados ou em fase de validação."
  • Já percebemos que há aqui uma certa confusão entre experiência pedagógica e conteúdo experimental...
"- O Ministério da Educação afirma que a TLEBS não é um conteúdo programático. Contudo os alunos estão a ser avaliados na disciplina de Língua Portuguesa / Português pelo conhecimento que têm da TLEBS, no respeitante ao funcionamento da Língua. Por Lei, apenas os conteúdos programáticos podem ser sujeitos a avaliação."
  • Acredito neste argumento! Façam queixa dos colegas que fazem perguntas sobre a TLEBS aos alunos. Eu faço avaliação sobre os conteúdos do programa. Agora se há quem faça avaliação sobre a TLEBS, é claro quem está errado.
"- A TLEBS confunde métodos experimentais de ensino com conteúdos experimentais."
  • Olhe que não... A confusão está na petição.
"- O esforço de aprendizagem que é exigido aos alunos pode ser inconsequente: o Ministério da Educação já admitiu parar ou rever o processo no final deste ano lectivo."
  • Mas como não admitiu rever os programas, os conteúdos vão ser os mesmos, pelo que o esforço de aprendizagem não é inconsequente.
"- Vários responsáveis do Ministério da Educação já afirmaram publicamente que a TLEBS não é para ser aplicada aos alunos, sendo dirigida apenas aos professores. É do conhecimento geral que inúmeros testes de Português efectuados neste início de ano lectivo nos anos abrangidos, continham perguntas de avaliação – qualitativa e quantitativa – sobre a TLEBS."
  • Falem com os docentes em causa. Estão em clara desobediência. Para quê culpar o Ministério por uma falha de um colega? Há tanto por onde pegar no Ministério.
"- Uma das linguistas responsáveis pela TLEBS, a Professora Catedrática Maria Helena Mira Mateus, afirmou à Antena 2, em entrevista transmitida no programa Um Certo Olhar, haver termos na TLEBS com os quais “não concorda muito”. A gravação áudio da entrevista está disponível nos arquivos da Rádio Difusão Portuguesa e também em http://www.goear.com/listen.php?v=992ab36 e em http://www.bolt.com/contratlebs/music/TLEBSEntrevista_Maria_Hel/2773513"
  • Maria Helena Mira Mateus "não concorda"... Daí ao erro vai um pulo imenso!
"- A Associação de Professores de Português é a entidade responsável pela formação de professores no âmbito da TLEBS, acreditada enquanto tal pelo Ministério da Educação."
  • Falso. Não é.
"- A Associação de Professores de Português, apesar de ser a favor da TLEBS, “não sabe ainda se esta terminologia é a terminologia de que o sistema educativo tem necessidade” e manifestou-se publicamente contra o alargamento da experiência pedagógica a toda a população escolar: “não se pode testar uma vacina da gripe inoculando toda a população”, foram palavras do seu Presidente."
  • Mas se se ler o documento da experiência pedagógica, é muito claro que cada escola decide a data da introdução de termos...
"- A formação de professores ainda está em curso. A nova TLEBS está a ser ministrada aos alunos sem que tivesse sido completada a formação dos professores. Os professores estão a ensinar o que ainda não sabem."
  • A minha formação é contínua. Tenho a certeza de que não sei tudo e que nunca saberei. Por este argumento, suspende-se todo o ensino...
"A Associação de Professores de Português está com dificuldades em conseguir dar formação a todos os professores, atempadamente."
  • Mas como a APP não é a entidade para o efeito... há mais oferta por aí.
"- Os alunos de 12º ano, depois de 11 anos a aprenderem Gramática Portuguesa fazendo uso da terminologia tradicional, vão ser avaliados, já este ano, pelo conhecimento que têm da Gramática Portuguesa segundo a nova TLEBS. Os exames de 12º ditam o acesso à Universidade. Há um futuro em jogo. Há um passado de estudo, esforço e trabalho que é deitado ao lixo."
  • Duvido que seja deitado ao lixo, porque os conteúdos dos programas são os mesmos. As mudanças verdadeiras são pontuais: algumas nas funções sintácticas, algumas nas classes de palavras, muitas na morfologia. Mas como o programa do 12º só inclui pragmática e semântica, se calhar o problema não é real.
"- Ninguém parece saber verdadeiramente o que é a TLEBS."
  • É a Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário.
"E no entanto… Os alunos são obrigados a aprender a TLEBS e estão a ser avaliados pelo que sabem da TLEBS;"
  • Já foi dito.
"Os professores não têm uma posição comum e há situações reportadas de professores que declaram, em sala de aula, não concordar com a terminologia proposta pela TLEBS;"
  • Pois é. Eu também não concordo com o ECD, mas não gasto tempo de aula a declarar aos meus alunos as minhas convicções. Não é para isso que me pagam.
Já agora... Quando uma carta é assinada, deixa de ser anónima!

Beijinhos (como diz, quem sabe se não estamos agora lado a lado no CRE da minha escola)
Luísa

Em teoria...

Pegando no comment de Ctrl.Alt.Del à Pergunta da Semana de Terça feira passada (Porque é que existem TPCs, se uns têm explicadores e outros não?), onde respondia que era "porque em teoria, os tpcs são para ser feitos pelo aluno sozinho, tenha ou não explicador, computador ou pão com manteiga à mesa...", conto-vos o que se passou na minha última aula de Economia A.

Recebemos um convite para um concurso promovido pelo ISEG (Instituto superior de Economia e Gestão) e pelo SantanderTotta, em que se pedia para, individualmente, quem quisesse participar fizesse um trabalho de 20 páginas sobre qualquer tema de Economia A do programa.

Os prémios eram aliciantes: 1500€, isenção de propinas no 1º ano e, no caso de ter uma nota igual ou superior a 14, isenção de propinas até ao 3º.

E, alem disto... tcharan... oferta de um acesso gratuito a uma pós graduação no ISEG para o professor. Então se o trabalho é feito pelo aluno! (E não me venham com a história que o professor que deu a matéria tem mérito... 20 páginas!!! Ó setor, ajude-me aí!)

Isto é mesmo feito para os dos colégios privados, que têm ajudinha preciosa dos professores!
Deixo então uma segunda Pergunta da Semana para quem me quiser esclarecer:

Se é um trabalho feito por um aluno, porque é que o professor recebe uma pós-graduação?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

TLEBS - big brother is watching you

No site de apoio à implementação da TLEBS Gramaticª.pt, uma questão colocada no Fórum Geral _Experimentação da Tlebs por um participante mereceu a seguinte resposta por parte de uma das principais responsáveis pelo site, Assunção Caldeira Cabral:

"Colega Filinto, boa noite!
Em primeiro lugar, deixe-me cumprimentá-lo e desejar-lhe as boas vindas a esta plataforma, onde entrou pela primeira vez há 5 dias, a 5 de Janeiro deste novo ano de 2007. De então para cá, contam-se 148 registos, uma média de 30 por dia, tendo mesmo atingido os 58 no dia 9, ontem, o que é óptimo. Tanto entusiasmo deixa-me muito contente, a mim e a toda a comunidade que frequenta e alimenta este projecto desde Setembro. Nestas circunstâncias, o colega Filinto há-de concordar que as queixas quanto à falta de respostas às suas questões revelam uma impaciência só desculpável pela ansiedade e nervosismo que nos tem apoquentado."

Este tipo de informação sobre os utilizadores está oculto aos outros participantes, é normalmente reservado aos responsáveis pelo espaço. É extremamente deselegante a sua revelação pública, como que a reduzir o participante à sua insignificância de novato no site, por um lado, e a mostrar a este (e a todos os outros) que os responsáveis pelo site vigiam os movimentos dos utilizadores na plataforma, não hesitando em revelá-los, se for caso disso.

Considerando as inflamadas indignações de uma leitora, na nossa caixa de comentários, sobre a protecção da privacidade dos autores deste blogue, é caso para perguntar: é isto que prefere?

Cuidado com o que dizem e com o que vêem no Gramaticª.pt, tudo o que disserem ou onde (e quanto tempo) estiverem pode e será utilizado contra si...

terça-feira, janeiro 09, 2007

Pergunta da semana?

Porque é que existem TPCs, se uns têm explicadores e outros não?

Liberdade de Escolha- sim ou não

Será que é legítimo a escolha de escolas?

Eu considero que sim. É claro que todas as escolas deviam ser boas, ter a mesma qualidade de ensino, as mesmas actividades, os mesmos professores, os mesmos continos e até... os mesmos alunos. Mas isso é uma utopia irrealizável. Existem diferentes realidades sociais, diferentes tipos de professores etc... portanto as escolas são diferentes.

Mas a lei actual não reconhece isso. A lei parte do pressuposto que todas as escolas públicas têm o mesmo programa, todos os professores são de igual qualidade e, no fundo, todas as escolas públicas são iguais, logo, não há motivo para a escolha da escola a pertencer se todas têm a mesma qualidade. Como já disse anteriormente a realidade é bem diferente.

Portanto, acho que deveria existir a possibilidade de escolha de uma escola, mesmo que não fosse a da área de residência.

Porque o que acontece agora é que os meninos dos bairros ricos vão para as escolas do bairro rico e os meninos dos bairros pobres vão para as escolas dos bairros pobres. Os meninos do Interior vão para as escolas do interior e vão ter os professores que não conseguiram ir para a escola de Lisboa ou do Porto.

As escolas deviam poder ser escolhidas pelos pais e alunos e só entravam os melhores alunos (os que tivessem melhores notas numa espécie de exame diagnóstico). Haveriam depois segundas, terceiras, quartas... opções de escola. É claro que haveria sempre possibilidade de ir para uma escola não muito longe de casa.

Este sistema de escolha não seria perfeito. É claro que os piores alunos ficariam com piores escolas. Mas neste sistema são os mais pobres que ficam com as piores escolas. Ambos os casos são uma injustiça, mas como as escolas não são iguais, eu prefiro o critério “melhor/pior aluno” do que o critério “melhor/pior família” (ou “melhor/pior bairro”).

segunda-feira, janeiro 08, 2007

TLEBS - a contra-petição

A nossa leitora Catarina teve a gentileza de partilhar connosco o endereço de uma carta em género de petição para enviar directamente à senhora Ministra, a favor da TLEBS.

Os proponentes, anónimos, tratam a TLEBS por tu (aliás, por Tlebs, a sigla é para os ignorantes), assumem-se como professores de Língua Portuguesa e de Português que têm "estudado e trabalhado directamente com a Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário, (TLEBS) utilizando-a como referência no trabalho directo em sala de aula, na construção de materiais de apoio sobre conteúdos relativos ao funcionamento da língua, na elaboração de respostas sobre conceitos gramaticais a professores, alunos e outros consulentes, na formação de professores do 1.º ciclo, de professores de Língua Portuguesa do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e de professores de Português do ensino secundário."

Se formos a ver bem, só haverá cerca de 14 professores em Portugal que façam isto tudo, por isso, não é tão anónima assim... Apesar do apelo a que os professores subscrevam e enviem para a Ministra, além dos 14, poucos mais poderão em consciência subscrever uma carta que identifica os seus signatários nestes termos...

A que se deve esta contra-petição? Da ladaínha do costume sobressai o pormenor: a TLEBS permite "descrições mais rigorosas e abrangentes da língua portuguesa, que arrastam mudanças conceptuais e metodológicas fundamentais no ensino do funcionamento da língua". Reparem que estas pessoas não falam do ensino de Português ou de Língua Portuguesa, mas do ensino do funcionamento da língua... Já estão a ver quem são estes cromos?

Depois, os iluminados proponentes tendo em conta a possibilidade do cenário da revogação da TLEBS se concretizar, apresentam à Ministra as 10 consequências que daí poderiam advir (serão estas as 10 razões anunciadas no exórdio, com 6 das quais teríamos de concordar claramente para poder assinar? Por que não estão numeradas? Afinal são consequências ou razões?! Estes linguistas estão muito à frente...):

• A revogação instalaria, de forma legal, a desorientação conceptual e metodológica nos professores do 1.º ciclo e das disciplinas de Língua Portuguesa e de Português, únicos profissionais que, em Portugal, ensinam a disciplina.

  • Tenho dúvidas: "de forma legal" até é bom, porque a "desorientação" já reina com a generalização da TLEBS, assim era uma maneira de legalizar as coisas, tipo como o abordo ou as drogas leves... Ou será um brasileirismo, tipo "na boa", "tudo legal"?

A revogação implicaria a destruição de um trabalho que é composto por uma lista de termos e por uma base de dados. Ao revogar-se a lista, a base de dados, que pode constituir valioso instrumento de trabalho, deixaria de ter suporte legal.

  • Tenho dúvidas: a revogação implicaria a destruição da base de dados, tipo explosões e tudo? É pena, porque até acho que eles podiam continuar a brincar com ela, nos seus tempos livres. Ou eles têm medo por deixar de ser legal e não querem ir presos por mexer nela depois de revogada?

A revogação implicaria aceitar a generalização de que a Tlebs não presta, no seu conjunto, a partir dos casos particulares que todos, incluindo autores, aceitam que sejam reformulados na base de dados e na lista de termos.

  • Tenho dúvidas: é que me deve ter escapado o artigo (deve ter saído em revista científica da APL, que pornografia não entra cá em casa) com os termos que "os autores aceitam que sejam reformulados"...

• Da revogação, pressupor-se-ia que os professores não têm capacidade para, conhecendo explicações sofisticadas, conseguirem transmitir aos alunos o entusiasmo pelo funcionamento da língua.

  • Tenho dúvidas: então as explicações sobre linguística que aprendi na Faculdade há alguns anos não eram "sofisticadas"?! (Quero o dinheiro das propinas de volta!) E não consegui à mesma transmitir "entusiasmo pelo funcionamento da língua" (não é pelo português nem pela língua portuguesa, entenda-se)?

• A revogação implicaria desperdícios muito elevados, humanos e materiais, em trabalho e empenhamento.

  • Tenho dúvidas: então o director-geral da DGIDC, Luís Capucha, não veio há dias dizer que não houve ainda formação suficiente para todos os professores? Aproveitava-se para poupar no que falta gastar. Ou será que o que os preocupa é o desperdício do seu "trabalho e empenhamento" em sacar mais uns cobres a dar formação e coisas tais? Ou será que o presidente da APL, João Costa, está a fazer a revisão da TLEBS à borla?

• A revogação alimentaria o erro de se considerar que, em educação, é pela destruição que se resolvem as coisas.

  • Tenho dúvidas: então não significaria que, em democracia, os cidadãos podem ter por vezes mais poder que as corporações, sejam de mafiosos, sejam de linguistas?

Bom, lamentavelmente, tenho dúvidas em pelo menos 6 das 10 razões e não poderei subscrever a carta. Pode ser que amanhã...

15 segundos de Manuel Bernardes


Não há modo de mandar, ou ensinar mais forte, e suave, do que o exemplo: persuade sem retórica, impele sem violência, reduz sem porfia, convence sem debate, todas as dúvidas desata, e corta caladamente todas as desculpas. Pelo contrário, fazer uma coisa, e mandar, ou aconselhar outra, é querer endireitar a sombra da vara torcida.

Manuel Bernardes, in 'Luz e Calor'

Estou de volta

Depois desta interrupção de quase um mês devido a problemas técnicos na minha Internet ADSL e à minha preguiça em ir ao EspaçoInternet, voltei à Educação Cor-de-Rosa.
Comigo voltam as rubricas "15 segundos de..." à Segunda-feira e "Pergunta da Semana" à terça.
E de maneiras que é isto.

sábado, janeiro 06, 2007

TLEBS - o rosto político

O actual rosto político responsável pela TLEBS, Luís Capucha (director-geral da DGIDC - Direcção Geral da Inovação e Desenvolvimento Curricular), apareceu hoje (finalmente) pelas páginas do PÚBLICO a debitar a cartilha oficial.

Reconhece que a TLEBS tem deficiências (que bem que lhe fica - ainda que tardiamente - a humildade deste reconhecimento) e divulga os nomes que estarão a revê-la: o nosso conhecido e recém-empossado presidente da Associação de Professores de Línguística, João Costa, e o reputado professor de literatura e análise literária Vítor Aguiar e Silva.

A adaptação da TLEBS aos diferentes níveis de ensino deverá ser feita por Olívia Figueiredo e Vítor Manuel Oliveira e fica prometido debate público antes da homologação, em termos não definidos. Fica ainda a ideia genial de "sujeitar a TLEBS a um teste prático: saber se os alunos que aprenderam com a terminologia têm melhores resultados a Português", comparando os resultados dos exames do 9º e 12º anos (como se as turmas das escolas-piloto tivessem as mesmas condições que a generalidade das outras).

Só mais duas citações:
  • "A TLEBS pode ajudar a combater o insucesso." (pois, é isso e bolos...)
  • "Não queremos que a TLEBS seja um corpo estranho nas escolas." (já é um bocado tarde para isto...)
Por que será que não surpreende que o senhor seja (à imagem da sua - nossa - patroa) sociólogo e do ISCTE...

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Como aprendem as crianças?


01:31
NAPCAN, Australia's National Association for the Prevention of Child Abuse and Neglect, launched a thought-provoking television/cinema campaign this year with "Children See, Children Do".

quinta-feira, janeiro 04, 2007

O Ministério Pimba da Educação

Desidério Murcho, em artigo de opinião hoje no PÚBLICO, remete a falta de vontade que se ensine o que quer que seja que emana do ME para o universo Pimba do entretenimento, defendendo que "o conhecimento tem valor intrínseco, em si e por si, e é do maior interesse público protegê-lo e transmiti-lo, e ensinar a produzi-lo - e só a escola pode fazer isso, ainda que infelizmente o tenha de fazer contra o Ministério pimba da Educação".

Algumas citações:

  • "O cerne da excelência do ensino é a solidez científica dos currículos e a formação científica dos professores, mas as discussões públicas nacionais sobre educação nunca abordam estes aspectos centrais. Até parece que tudo o resto é que é a finalidade do ensino, quando na verdade são apenas meios."
  • "As desastrosas doutrinas pedagógicas que imperam em Portugal, algo pós-modernaças e "construtivistas", são elitistas - apesar de fingirem o contrário - e têm por denominador comum um ódio visceral às Ciências, à Matemática, à História, à Gramática, à Literatura, à Filosofia; enfim, a tudo o que se pareça com verdadeiros conteúdos escolares. Em vez de conteúdos, fala-se de competências - como se pudesse haver competências sem conteúdos. E em vez de se distinguir cuidadosamente o que são verdadeiros conteúdos escolares do resto, procura-se transformar a escola numa espécie de entretenimento com ademanes de educação para a cidadania - tudo, menos ensinar seriamente Matemática ou Geografia ou Filosofia ou História ou Música."
  • "Ao mesmo tempo que os estudantes são massacrados com inúmeras disciplinas vácuas sem qualquer centralidade escolar, não têm uma educação básica em Música, nem em Literatura ou Filosofia ou Geografia. Se um estudante de 15 anos quer saber alguma coisa sobre estas coisas, tem de o fazer fora da escola. Mas se quiser brincar aos índios, pode fazê-lo nas chamadas "actividades educativas", em substituição das aulas de Matemática. É esta a educação pimba que temos."

  • "Os pedagogos ministeriais vão passando de governo para governo, conseguindo ora mudar a Gramática toda, prejudicando gravemente a possibilidade da excelência do ensino do Português (se antes poucos professores sabiam e ensinavam Gramática, agora ainda menos - ou será que a ideia é mesmo essa?), ora suspender documentos que introduzem conteúdos científicos sérios num programa que carece deles (como foi o caso da badalada suspensão das Orientações de Leccionação do Programa de Filosofia). "

  • "Mas quando é o próprio ministério da educação que não acredita no valor intrínseco do conhecimento, dificultando cada vez mais o estudo aos muitos professores sérios que temos por esse país fora, afogando-os em trabalho burocrático e em horas contabilizadas nas escolas só para marcar ponto, que se pode esperar do nosso futuro? Como poderemos recuperar o tempo perdido, tanto no que respeita ao ensino da Matemática como no que respeita às outras disciplinas? Seja qual for a estratégia, o primeiro axioma tem de ser este: o conhecimento tem valor intrínseco, em si e por si, e é do maior interesse público protegê-lo e transmiti-lo, e ensinar a produzi-lo - e só a escola pode fazer isso, ainda que infelizmente o tenha de fazer contra o Ministério pimba da Educação."