Alunos aderem ao cibercopianço
2006/10/14 23:34 Sara Marques
Copiam trabalhos inteiros da internet, porque «a tentação é demasiado grande» e até conseguem boas notas em poucos minutos. Professores dizem que o problema é o excesso de informação
Utilizar a internet para pesquisar informações para trabalhos escolares e académicos é prática habitual nos estudantes portugueses e até é incentivada pelos professores. O problema começa quando os alunos passam o limite da pesquisa e copiam trabalhos inteiros.
Segundo a agência Reuters, 37 por cento dos universitários norte-americanos admite ter copiado partes de trabalhos da internet e 77 por cento dos alunos considera que isso não é um assunto sério.
Por cá, a realidade não é diferente e o plágio começa logo nos estudantes mais novos. Anabela tem 19 e já frequenta a universidade, mas admite que terminou o secundário «sem nunca ter lido Os Maias», apesar de a obra ser de leitura obrigatória. O motivo foi mesmo «preguiça». «O livro tem tantas páginas que não dá vontade de ler», conta a estudante.
Anabela explicou ao PortugalDiário que começou por ler «o resumo da obra na internet», depois, quando o professor pediu à turma um trabalho de análise da obra, recorreu novamente às novas tecnologias. Durante a pesquisa «tropecei num fórum onde os alunos disponibilizavam os trabalhos escolares e havia lá um trabalho sobre Os Maias», contou a jovem que admitiu que «a tentação foi grande demais».
Anabela, que vive no Porto, acabou por entregar um trabalho realizado por um aluno do Algarve e até ficou contente com a nota. «Tive 13 e só demorei 10 minutos a fazer a pesquisa e o download. E o professor nunca soube que não fui eu a fazer», admitiu, ligeiramente envergonhada.
«Nem imaginam quantos sites há sobre os sonetos de Camões»
Patrícia tem 15 anos e passa várias horas por dia online. «Quando chego da escola, ligo-me logo (à internet), para falar com os amigos», contou. E os trabalhos de casa? Esses são feitos ao mesmo tempo, muitos até com recurso à internet.
Garante que nunca copiou um trabalho inteiro, mas admite que copia parágrafos inteiros. Quando se trata de «trabalhos de História, Geografia, ou disciplinas assim», considera que não se trata de copiar e diz que é «pesquisa», mesmo quando copia «partes grandes» do trabalho.
A estudante só admite fazer «batota» quando se trata de textos de análise. E dá um exemplo: «A minha professora de português pediu para identificarmos as figuras de estilo de um soneto de Camões. Fui à internet e estava o poema com as figuras de estilo todas. Depois de encontrar, não ia fechar o site», disse Patrícia. «Nem imaginam quantos sites há sobre os sonetos de Camões. É quase impossível não encontrar», afirmou, em jeito de justificação.
Não há uma exigência excessiva.
Para o presidente da Associação de Professores de Português (APP), Paulo Feytor Pinto, o problema dos trabalhos copiados já não é novidade. «Agora é a internet, mas dantes eram as sebentas», explicou ao PortugalDiário.
O responsável até compreende que copiar trabalhos de português seja uma tentação muito grande já que «há muita informação disponível sobre as obras de leitura obrigatória».
Paulo Feytor Pinto não considera que seja a elevada exigência dos programas o que leva os alunos a copiar. «Talvez por estarem tão habituados a serem obrigados a memorizar, não sejam capazes de analisar um texto, mas não há uma exigência excessiva», afirmou.
O professor considera que uma forma de resolver este problema seria «dar liberdades às escolas na escolha nas obras a leccionar». Mas a questão também se prende com o facto de estes trabalhos serem realizados em casa, «assim, o professor não vê se é realmente o aluno quem o faz».
O responsável até compreende que copiar trabalhos de português seja uma tentação muito grande já que «há muita informação disponível sobre as obras de leitura obrigatória».
Paulo Feytor Pinto não considera que seja a elevada exigência dos programas o que leva os alunos a copiar. «Talvez por estarem tão habituados a serem obrigados a memorizar, não sejam capazes de analisar um texto, mas não há uma exigência excessiva», afirmou.
O professor considera que uma forma de resolver este problema seria «dar liberdades às escolas na escolha nas obras a leccionar». Mas a questão também se prende com o facto de estes trabalhos serem realizados em casa, «assim, o professor não vê se é realmente o aluno quem o faz».
E, segundo o responsável da APP, os alunos não se limitam a copiar os trabalhos, chegando mesmo a decorar textos inteiros, que depois reproduzem nos exames.
2 comentários:
e tirar informações inteiras de livros nas bibliotecas, é mais justo só porque dá mais trabalho?
e tirar textos da net ou de livros e mudar apenas a construção das frases?
e inventar?... sem ovos não se fazem omoletes!
É que esta moda de cada professor pedir um trabalho de pesquisa por período insita realmente ao Copy paste... mas que mal tem??? não se pode inventar informações e mudar apenas as frases não me parece melhorar (é como copiar a resposta de um teste mas mudar a construção da frase...)
As tecnologias servem para nos ajudar e se não fossem tantos trabalhos, alguns sem nenhum interesse, isso não acontecia. E se acontecesse, ao menos os alunos não tinham desculpa!
"Professores dizem que o problema é o excesso de informação"
O problema é dos professores, estão mesmo a pedi-las!
A reconfiguração das tarefas tradicionais deve ser uma prioridade dos professores, para evitar o simples copy/past, que não traz grandes vantagens de aprendizagem...
De qualquer maneira, o google funciona nos 2 sentidos: as frases suspeitas quando pesquisadas levam directamente à fonte, e à consequente desclassificação do trabalho... É só um incentivo à reformulação do que se encontra, que isso sempre traz qualquer coisinha ao processo de aprendizagem...
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