domingo, outubro 08, 2006

"Os alunos estão cada vez mais arrogantes"

" Os alunos estão cada vez mais arrogantes"

Esta frase dá que pensar. Porque é que assim é? Reconheço que nas aulas, nos corredores, na relação com os professores e até com os colegas, os alunos estão cada vez mais arrogantes.
A explicação não é fácil de encontrar (pelo menos não será tão fácil como alguns pensam. Não é só os Morangos com Açúcar que tornam os alunos arrogantes).
A mim, um mero aluno, cabe-me tentar perceber este fenómeno.

Acho que arrogância puxa arrogância e a arrogância dos professores perante os alunos criou uma geração de alunos mais arrogantes para com os professores.

O facto de hoje em dia, a Escola estar centrada no Professor e não no Aluno faz com que os professores tenham a responsabilidade de manterem uma certa maneira de estar perante os alunos que visa, não a simples transmissão de conhecimentos e valores, mas a hierarquização da escola que mais tarde se vai transpor para uma sociedade cada vez mais hierárquica.

A realidade é esta: os professores entram numa aula cheios de medo dos alunos. A reacção dos alunos é sempre temida por parte dos professores. Não há nenhum professor que, sobretudo no início do ano lectivo, não tema não conseguir o “controlo” da turma- o que é, diga-se de passagem, uma reacção natural! 26 alunos com 14 a 18 anos sentados, a avaliar cada gesto, cada frase, sempre à espera de um deslize que coloque o professor sem a necessária postura para conseguir o “controlo” (essa palavra...) é um cenário, no mínimo, medonho.

Perante isto, com uma mistura de vários complexos, preconceitos e outras coisas que levariam muito tempo a serem explicadas, o Professor assume quase sempre uma postura infantilmente arrogante e superior. É este o tipo de professor que eu mais detesto, aquele que acha que tem de ter cara de mau para controlar a turma.

Chego a detestar mais esta característica do que a parcialidade na avaliação.

Infelizmente, apesar de algumas excepções, é este o tipo de professor que pulula nas escolas do país... e é este o estereótipo que os alunos têm dos professores.

Como já disse anteriormente, arrogância puxa arrogância e os alunos, infelizmente, não dão a outra face e assim que podem, mostram arrogância para com os professores.


Como mudar esta situação? Se isso algum dia vier a acontecer, irá ser algo que teoricamente é fácil, mas na prática será extremamente difícil.

Deixar de centrar o ensino no Professor, mas sim centrá-lo naqueles que são os utentes do serviço, naqueles que deveriam fazer parte do topo das prioridades na Escola, naqueles sem os quais a Escola não poderia nunca existir: Os Alunos.

Centrar a Escola nos Alunos é fazer alterações reais na vida escolar. Umas pequenas outras grandes. Podia-se começar por abolir a palavra “setôr”; a estupidez que é os professores- alguns- tratarem os alunos por “tu” e os alunos serem obrigados a tratar os professores por “você”, o que definia logo uma “deshierarquização”. Cada um tratava o outro pelo nome e se não se lembrassem do nome tratavam-se mutuamente por você ou por tu, consoante o acordado. Depois, os professores deviam começar a encarar a escola de um modo diferente, deixar de pensar que eles estão ali a fazer aos alunos um favor, quando isso não é verdade. Encarar as aulas, não como uma maneira de se superiorizarem aos alunos, mas com uma estratégia de transmissão mútua de conhecimentos, vivências, valores, ideias, formação, tudo num ambiente de cordialidade. Mais uma coisa: se o professor notasse que um aluno não queria ali estar e estava a perturbar a aula prejudicando todos os alunos, convidava-o a sair e continuava a aula com os que realmente queriam aprender. Para isso era necessária a desburocratizarão da escola... é que hoje, um professor que expulsar um aluno da aula tem de preencher um relatório, entregar não sei aonde... enfim, é o cabo dos trabalhos! Assim expulsavam-se os alunos que eram “arrogantes” e evitava-se o contágio da arrogância a professor e alunos (não confundir arrogância com subserviência ou menino-do-professorismo!)


Há que, de uma vez por todas, romper com o passado nas escolas, criando uma escola verdadeiramente democrática e sem todas as hierarquias desnecessárias e neofascistas, que em vez de contribuírem para o bom funcionamento da Escola, estão a criar futuros cidadãos arrogantes e que vão querer fazer o mesmo aos outros quando estes estiverem no topo das hierarquias, estejam eles em que profissão estiverem.

Porque uma escola do futuro não é só uma escola a abarrotar de computadores e polidesportivos, mas tem de ser uma escola que crie cidadãos melhores para uma sociedade melhor.

2 comentários:

Wilma Frederico Caldeira disse...

Quanta bobagem!!!!!

Zoroastro disse...

Senso comum empoderado.