É nesse momento que se torna necessário lembrar duas verdades básicas de qualquer reforma.
A primeira: as reformas verdadeiras fazem-se com as pessoas reais. É fácil imaginar reformas com as pessoas que ainda não existem e achincalhar as que existem. Mais difícil é reconhecer que, se queremos restaurar a autoridade do professor na sala de aula, alguma coisa teremos de fazer para restaurar o seu prestígio na sociedade. Se queremos que os professores ganhem autonomia e se adaptem aos alunos que têm pela frente, em algum momento teremos de lhes dar confiança. E, acima de tudo, teremos de perceber que é com estes professores que qualquer reforma se fará, e que entre estes (ou quaisquer outros professores, da Tanzânia à Tasmânia) os excelentes serão sempre uma minoria. Uma reforma é um exercício de realismo.
A segunda razão parte precisamente daí: no mundo real, uma reforma séria precisa tanto de identificar o que está bem como corrigir o que está mal. Não devemos exigir para o país e para educação um ponto de partida diferente do que aplicamos nas nossas vidas e nas nossas casas: saber onde não precisamos de mexer, onde não vamos gastar energias, para nos concentrarmos no que é decisivo. E isto não tem nada a ver com conservadorismo. Ser de esquerda, ser progressista como outrora se dizia, significa querer construir em cima do que já conseguimos. Quem quiser recomeçar do zero, fá-lo por sua conta e risco; na verdade andará sempre muito próximo do zero. Não se esqueçam que "começar do zero" é vantajoso apenas para políticos e governantes: por pouco que façam parece sempre qualquer coisa. Eu, pelo contrário, acreditarei no primeiro reformista português que me diga o que não é preciso fazer, para que se possa fazer o resto.
[O título deste texto foi roubado a um texto de Daniel Davies no The Guardian. Mais uma vez, se funciona bem, não há razões para não reutilizar.] in PÚBLICO, 07.10.2006, Rui Tavares, Historiador
sábado, outubro 07, 2006
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