sexta-feira, maio 18, 2007

O não-argumento

Na sequência de alguns relatos e comentários sobre alunos mal comportados, tenho a dizer o seguinte:

O facto de existirem alunos mal comportados, mal-educados, arrogantes, vai-à-merdistas etc... não é argumento contra a Educação Centrada no Aluno. Pelo contrário. É um facto que atesta a necessidade de mudança de sistema. É sinal de que algo está mal e que este modelo não é adequado.
Como já disse, proibir uma coisa não é necessariamente a melhor maneira de a combater. Um sistema com maior liberdade pode ter (na minha opinião, tem) benefícios.

A Educação centrada no Professor e no Conhecimento, que tem sido o modelo dos últimos 100 anos, produziu maus alunos, maus cidadãos. Obviamente que tudo isto não tem como único responsável o sistema de ensino. Os pais, a infame TV, a maldita internet, a falta de causas etc... são também responsáveis. Por isso mesmo, a Escola tem de educar aquilo que o resto deseduca. A TV ensina o "seguir as modas", o consumismo, o carneirismo... A internet, para muitos, não passa de Hi5, MSN, Youtube e Wikipedia para os trabalhos. Tudo apela à submissão e ao não-exercício da liberdade: pais, TV, net e o resto do mundo.
A escola tem de ser local de liberdade e responsabilidade. Tem de ser lugar de formação de cidadãos livres e não um mero local de trabalho para professores e continos, ou uma instituição que se limita à transmissão de conhecimentos.

Foi este sistema que criou esta geração. Quem está mal, muda.

26 comentários:

RioDoiro disse...

"A Educação centrada no Professor e no Conhecimento, que tem sido o modelo dos últimos 100 anos, produziu maus alunos, maus cidadãos."

"Foi este sistema que criou esta geração."

Moral da história: esta geração tem 100 anos.

baldassare disse...

Criou esta geração e as outras...

Essa lógica é do tipo: você sabe nadar, as baleias sabem nadar, logo... você é uma baleia.

Patuxa disse...

A Vida é Bela...nós é que damos cabo dela...

RioDoiro disse...

Oh Baldassare. Se lhe passa pela cabeça que o ensino do início do século XX tem algo de comum com o do início do século XXI, então o Baldassar vive no planeta dos gambosinos.

A matéria que se ensinava há 40 anos era de maior qualidade, quantidade, era ensinada, aprendida, etc.

Se o Baldassare assistisse a uma aula de pessoal mal comportado há 40 anos, pensaria estar num seminário.

Há 40 anos aprendia-se ou ia-se trabalhar. Ir "alancar" estava apenas a um passo do dia-a-dia da generalidade dos estudante. Ter más notas não era opção. Hoje, fazer merda numa aula é apenas entendido como "uma forma de estar". Faz-se merda hoje, e amanhã, e para o ano, e assim sucessivamente. Hoje, o "sistema" tem que "gramar" um aluno merdoso quase até que ele atinja a maioridade.

"Criou esta geração e as outras..."

Esta sua observação, como as outras do mesmo post, é apenas mais uma asneira no chorrilho.

RioDoiro disse...

O Baldassare demonstra os sintoma habituais do pessoal que supõe que o mundo começou ontem e que os recém-nascidos, como ele, vieram ao mundo para o libertar das trevas.

Que o ensino de hoje é o mesmo que o ministrado desde há 100 anos. Baldassare diz 100 como podia dizer 100000. Qualquer coisa serve.

De facto, se o mundo começou ontem, tudo o que está para trás é uma abstracção.

baldassare disse...

Quer no início do século XX, quer no início do século XXi a escola não está centrada no aluno. Era esse o meu ponto. É o mesmo sistema (centrado no professor e/ou no conhecimento), com diferenças. Diferenças que eram naturais, até porque, como você disse, eram poucos os que iam à escola. Mais do que saber aprender, era preciso ser-se rico.

É verdade que todo o sistema e os valores da Escola estão mal. E isso não é novo. E, segundo a minha opinião tudo tem de ser mudado, pelo futuro da sociedade.

Você quer a Escola mais conservadora. Então quer uma sociedade mais conservadora.
Eu quero uma escola mais liberal e democrática. Para uma sociedade mais liberal e democrática. São escolhas...

baldassare disse...

No seu comment, fica-se com a ideia que você defende a Escola do início do século XX, ou - pior - do meio do século XX...
Dá mesmo a sensação que quer uma escola como a de há quarenta anos, no tempo dos estrados, das meninas-de-cinco-olhos, das fotografias de Salazar nas paredes, da Mocidade Portuguesa, das reguadas e da quata classe. É mesmo?

RioDoiro disse...

"Quer no início do século XX, quer no início do século XXi a escola não está centrada no aluno. Era esse o meu ponto."

Aquilo em que a escola é centrada é uma discussão de gambosinos. É absolutamente irrelevante. A prova está em que a escola há 40 anos ensinava melhor, muito mais, em metade do tempo. Porquê? Porque não dava margem de manobra para os alunos andarem armados em parvos a cabularem e a pretenderem reinventar a roda.

O que a escola tem que ensinar são matérias estabilizadas há muitos anos: que se escreve da esquerda para a direita, a tabuada, a matemática básica, as ciências básicas, a literatura básica, a filosofia básica.

As coisas básicas são o que são: básicas.

"Eu quero uma escola mais liberal e democrática. Para uma sociedade mais liberal e democrática. São escolhas..."

A sua escolha é por uma sociedade de idiotas, burros, incompetentes, ignorantes mas bem equipados com chavões que, na sua suprema burrice, supõem valerem alguma coisa por si próprios.

RioDoiro disse...

"Dá mesmo a sensação que quer uma escola como a de há quarenta anos, no tempo dos estrados, das meninas-de-cinco-olhos, das fotografias de Salazar nas paredes, da Mocidade Portuguesa, das reguadas e da quata classe. É mesmo?"

"Estrados": mais uma baboseira. Calculo que o Baldassare defenda a destruição de tudo quanto é anfi-teatro. Qualquer ser humano minimamente inteligente percebe que o anfi-teatro é a melhor forma de muitas pessoas verem e ouvirem uma outra em contições. Porque é que o Baldassare pensa que os cinemas são como são? Com baixos custos, que melhor forma vê o Baldassare de permitir que 30 ou 40 gajos vejam o professor e o quadro? Queria que todas as salas fossem de anfi-teatro?

Aí está um bom exemplo da estupidez reinante. Para mostrarem superioridade? Porque acha que os palcos são montados num palanque?

“meninas-de-cinco-olhos” Nunca vi. Levei reguadas, mas o que mais temia era a reacção dos meus pais quando chegasse a casa. Era o tempo em que os pais eram mais que mamadeiras. Um professor bem amestrado (pela imbecilidade que o Baldassare defende) chateou um dos meus filhos porque ele ensinava o rebento dele tão cedo quanto possível – logo que ele se apercebia que a pimpolha estava em condições de desenvolvimento para as abordar. O professor chamou-lhe a atenção de que uma aluna mais instruída lhe causava problemas na aula porque sabia demais e depois resultava um desequilíbrio entre ela e os restantes alunos. Isto nada tem a ver com “centragens”. Tem a ver com pura estupidez. Quando entrei para a primária sabia ler, escrever, toda a tabuada, as operações aritméticas. Nunca, no tempo da menina-de-5-olhos, houve um problema por causa disso. Nessa altura o que interessava era que o aluno fosse bom. O resto era (como agora) conversa de gambosino.

“Salazar” É verdade. Naquela altura Salazar e Américo Tomás estavam presentes. E hoje onde está a omnipresença-de-serviço? Morangada, big-brothers, concursos, desenhos animados imbecis, crianças que viajam agarradas às consolas de jogos, doentes do SMS, alunos incapazes de ler um livro ou multiplicar um número por 10. As ditas fotos estavam penduradas na parede, mas ninguém lhes ligava peva. Não eram ídolos. Os ídolos de agora são junk (food dambém).

“Mocidade Portuguesa”. Ora aí está o local onde eu aprendi a jogar xadrez. Jogava bastante bem para a minha idade, mas não o suficiente para ganhar torneios. Só me apercebi do real significado da instituição depois do 25 de Abril. Naquela altura, pelo menos onde eu habitava, já não tinha o peso de outrora. E hoje? Que me diz das romarias para a bebedeira? A mocidade portuguesa de hoje tem a forma de “chots” (bebedeiras instantâneas), praxes fascistas com o beneplácito das escolas, alunos que se destacam dos outros por abarem com a peida ao ar livre. Quando andava no Liceu os colegas que eu e os meus colegas mais admirávamos eram os que tocavam instrumentos musicais e à volta dos quais nos reuníamos nos intervalos. E agora? Reúnem-se À volta dos zingarelhos MP3 que debitam música de complexidade equivalente 1 bit. Ouvem todos o mesmo tipo de música – parecem clones.

“Quarta classe” – Pois. Experimente pedir aos seus colegas para calcularem mentalmente 12.5% de 800 e vai ver onde anda a 4ª classe deles.

Nada havia de errado com o ensino do início dos anos 70, à excepção de ser acessível apenas a poucos. Mesmo assim, não se era recusado no liceu apenas por se ser de origem pobre. Não se entrava porque os livros eram caros, os transportes eram caros, e os catraios eram necessários às famílias como mão de obra que garantisse a subsistência da família toda (deles, inclusivé). Ahhh, mas havia uma vantagem. Se não se vivesse muito longe das escolas, conseguiam-se livros dos anos anteriores. Eram quase sempre os mesmos. E que vantagens haveria em obrigar a livros diferentes a cada novo ano lectivo?

O 25 de Abril foi um salto em frente em muita coisa, mas no ensino e na justiça quase nada avançou.

RioDoiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RioDoiro disse...

"Dá mesmo a sensação que quer uma escola como a de há quarenta anos, no tempo nas paredes, da Mocidade Portuguesa, dados estrados, das meninas-de-cinco-olhos, das fotografias de Salazar s reguadas e da quata classe. É mesmo?"


Este é um dos exemplos mais típicos da falta de cultura reinante. É uma prova da incapacidade em apreender-se algo mais que símbolos.

Aquilo que a generalidade dos alunos de hoje apreendem, não consegue passar daqui. Símbolos. Do estado novo só conseguem apreender símbolos, mas apenas os mais simples: os irrelevantes, como irrelevante é quase tudo o que julgam aprender.

Exemplos:

Da escola de então escapa-lhes a defesa da superioridade racial dos portugueses. Hoje já não se defende essa superioridade, mas a escola continua a ser incapaz de explicar que não há raças.

Da escola de então escapa-lhes o ódio aos espanhóis. Esse ódio foi substituído por um ódio aos americanos e por um ódio a si próprio.

... passou-se a odiar os dados (sem dados ninguém pensa, embora a generalidade deles suponha que é capaz de parir ideias baseadas em coisa nenhuma). Dados? Coisa da “outra senhora”, do tempo em que “até se tinha que aprender os rios”.

Se não se percebe que só se pensa com dados, como se irá perceber que fórmulas, ou funções, são dados capazes de transformar dados?

Chega-se a defender que dados e regras são espartilhos ao pensamento, tentando que bosta, por ser retorcida, passe a coisa artística.

baldassare disse...

Eu não lhe falei só de símbolos. A Mocidade Portuguesa não era um símbolo (pelo menos para mim...), a quarta classe obrigatória não era um símbolo, as reguadas não eram um símbolo, o elitismo não era um símbolo. Eram realidades para muitos.
Mas também é verdade que os símbolos que falo simbolizavam realidades. Opressão, inexistência de incentivo à criatividade, patriotismo, anti-espanhóis e colonialismo eram realidades.

Todo o resto do seu texto, bem podia estar num cartaz da União Nacional: "Se quereis a ordem, votai Salazar!". Dizer que a Escola era melhor nessa altura é inacreditável. A Escola era tudo o que a escola não deve ser. Pior que uma escola que só ensina, era uma escola que era meio de propaganda ao regime.
Quero acreditar que este seu comment foi apenas um momento esporádico de nostalgia...

RioDoiro disse...

"Dizer que a Escola era melhor nessa altura é inacreditável. A Escola era tudo o que a escola não deve ser. Pior que uma escola que só ensina, era uma escola que era meio de propaganda ao regime.
Quero acreditar que este seu comment foi apenas um momento esporádico de nostalgia..."

O 25 de Abril resolveu muitos problemas mas ainda não resolveu este: a qualidade do ensino.

A escola da altura era usada para muita coisa que não devia ser, é verdade, e agora também. A livralhada escolar está cheia de propaganda politicamente correcta. Lixo. Muito lixo. A cada página. Aliás, muda todos os anos. Como se explica que o que se aprendeu o ano passado já não se aprenda este? Então? O ano passado de nada serviu? E este ano, vale a pena estudar? Para o ano já não será assim!

A realidade tem destas coisas. Da escola de então há uma nostalgia indesmentível: apredia-se melhor, mais, em menos tempo. ... sem aulas de substituição e sem professores a faltar.

"a quarta classe obrigatória não era um símbolo".

Não era, e o 9º ano de que uma boa parte desiste ou que nada aprende é o quê? Apenas o pretensiosismo de tapar um com outro mais "práfrentex". Naquela altura como agora a obrigatoriedade era treta.

"o elitismo não era um símbolo"

O elitismo, como as raças, é algo que existe na sua cabeça. Se estivesse nas minhas turmas perceberia. Havia gajos que iam para a escola rotos e descalços (não eram poucos). Os restantes alunos ajudavam.

Aquilo a que você chama elitismo era resultante da impossibilidade dos pais poderem sustentar filhos que não ajudavam à obtenção de recursos. Neste momento só frequenta ensino de qualidade ao nível do da altura é quem pode pagar ensino privado. O ensino privado elitista e de qualidade instalou-se aproveitando a brecha aberta na demolição sistemática que tem tido lugar na qualidade do ensino oficial.

E há ainda uma outra faceta: o ensino privado criado com o beneplácito oficial destinado a distribuir canudos aos que teimam em ter um canudo e o não conseguem. E não estou a falar de universidades. Estou a falar do 12º. Há casos em que é o estado a pagar, outros casos pelos particulares, outros, casos mistos.

Desde o 25 de Abril que o estado tem apenas baixado fasquias de cada vez que os resultados são maus.

"A Mocidade Portuguesa não era um símbolo (pelo menos para mim...)"

Diz muito bem: para si. Não surpreende. Você vive no mundo dos símbolos, dos mitos, das crenças. Um resquício do estado novo. Conhecimento verificável não é consigo: apenas criatividade per si. Há quem lhe chame masturbação mental.

"Opressão, inexistência de incentivo à criatividade, patriotismo, anti-espanhóis e colonialismo eram realidades. "

Havia opressão, mas tinha pouco significado ao nível do básico (falando ao nível de agora - na altura tinha outro nome).

Os incentivos à criatividade têm sido a coisa mais perniciosa à criatividade que se tem inventado.

Quem é intrinsecamente criativo não precisa incentivos.

Ao nível a que estamos a falar, a criatividade expressa-se por meios que estão à disposição há muitas gerações. As ferramentas que mais têm destruído a criatividade têm sido as calculadoras e os computadores. A malta está convencida que os computadores substituem a aprendizagem de coisas básicas e isso é falso. Servem apenas para que fiquem convencidos que sabem alguma coisa.

Só faz sentido falar em calculadoras a partir da raiz quadrada e da trigonometria. Hoje, temos calculadoras na primária.

(a história dos 12,5% de 800, como vai?)

Os computadores ainda são pior. Copy, paste, e tá a andar.

O colonialismo era e é uma realidade. Nunca como depois do 25 de Abril as populações africanas das ex colónias foram tão exploradas, mal tratadas, obrigadas a guerrear, nunca tanta gente morreu quanto depois da descolonização. Mas agora os colonos são africanos, levam a bênçãm de todo o mundo politicamente correcto. Que diz do que se passa na Guiné? Em Angola, Moçambique? Os únicos locais, neste países, onde há desenvolvimento, é no perímetro das instalações das multinacionais e nos bairros do pessoal político (basicamente tribal).

Olhe o Zimbabwe, que maravilha. Agora comem ratos. Não acredita?

Dizer que o ensino antes do 25 de Abril era uma coisa tenebrosa é fácil. Serve apenas para esconder que o ensino se tem sistematicamente degradado de então par cá.

"Se quereis a ordem, votai Salazar!".

Guarde lá essa para si, que é dado a chavões e crenças. É justamente a pessoal dado a crenças onde os ditadores (de esquerda ou de direita) vão buscar apoiantes. É só trocar o nome.

"Pior que uma escola que só ensina, era uma escola que era meio de propaganda ao regime."

Hoje a propaganda não é ao regime. A propaganda hoje é ao politicamente correcto - uma forma niilista de ver o mundo. Quer um exemplo? Aquecimento global. Existe, e existe, e existe, e é provocado pelo CO2. Como este há muitos. Pura propaganda, lavagem ao cérebro.

Estão-se a criar pessoas incapazes de pensar. Nada têm na cabeça.

A generalidade doa alunos nem consegue dizer o que gostaria de fazer quando acabar a escola. Ah, já me esquecia do futebol.

E que diz você de uma escola que nem ensina?

RioDoiro disse...

Antes do 25 de Abril Muitas crianças não iam à escola. É difícil quantificar, mas uma boa parte porque não se podia dar a esse luxo (o que implica que perceberiam que faria falta), outras porque não lhes interessava.

Não lhes interessava. Isto lembra-lhe algo?

De onde vinha este desinteresse? Dos pais, que não percebiam que teria interesse.

Muitos colegas meus saíram da escola (primária inclusive), porque os pais achavam que aquilo não teria interesse algum. Afirmar isto não é politicamente correcto, mas era assim.

Claro que se pode dizer que os pais eram mais ou manos abrutalhados. Pois eram. Eram abrutalhados e tinham na maioria dos casos, possibilidade de custear o ensino (passagens. livros, etc, as propinas àquele nível eram pouco significativas). Na primária nada se pagava.

Passámos de um convencimento em que a escola não servia para nada para um outro convencimento, de que a escola é uma "coisa" onde se anda e se sai com aproveitamento.

É uma forma de ver a coisa tão abrutalhada como a anterior porque se tem vindo a por de parte o papel do aluno: o de aprender.

A escola não é suposto ser apenas um loca onde se deambula. É suposto ser um local onde se trepa.

Como se isso não bastasse, uma colecção de oportunistas, uma cáfila de caciques (poderei explicar melhor) tomaram o Ministério da Educação e trataram de ir convencendo o pessoal que quem bem educaria seria a escola, não a família.

O problema é que o mundo continua a rodar quer nós queiramos quer não, e a incapacidade da nossa sociedade em competir com as restantes é gritante.

Eu calculo que o Baldassare não goste da palavra competir, mas isso é um problema seu. O mundo, tal como existe, é um mundo de competição. No planeta dos gambosinos não será. No Zimbabwe competem por ratos, na Coreia do Norte não se sabe.

A comunidade europeia tem despejado montanhas de notas em Portugal, mas está a ficar cansada de o fazer. E mais, insiste em chamar-nos a atenção de que a malta continua a ser pouco qualificada. "Qualificada": isto lembra-lhe alguma coisa? E como se isso não bastasse, países como a Polónia, estão cheios de pedalada: aquela malta aprende, qualifica-se, concorre.

Só quem apanha com alunos dos antigos países do "amanhã cantante" percebe o que é ter pedalada. Têm pedalada e ainda se riem, entre dentes, da burrice crónica dos nossos alunos. Nem a língua é, para eles, um problema.

Já alguns me explicaram (por outras palavras) que a nossa escola é, para eles, apenas um recreio. E não o dizem no mesmo sentido em que os nossos alunos a encaram. O que eles dizem é que, aprender o que lhes ensinamos, é tão fácil como brincar no recreio.

Quer o Baldassare queira quer não, o sistema de ensino é incapaz de impor metas, padrões, etc. A cada nova tentativa segue-se um recuo maior que a tentativa.

Os professores têm tiveram aqui enorme responsabilidade porque, no passado, deixaram que os sindicatos seus representantes trocassem regalias por silêncios.

Se o Baldassare pensa que a escola é um local onde a criatividade é suposto imperar, engana-se. A escola (repito, ao nível do básico) é um local onde os alunos é suposto aprenderem as ferramentas básicas que lhes permitam vir a ser criativos. Senão, até uma bosta é "criatividade".

A escola tem basicamente vindo a criar gajos quem nem sequer são capazes de explicar as ideias tontas de que são acometidos.

O 25 de Abril consegui coisas espectaculares mas, nesta matéria, praticamente nada ainda conseguiu.

Dou-lhe um outro exemplo gritante: o recorrente.

O recorrente foi criado para permitir que os alunos acabassem os respectivos anos à velocidade que pudessem. Era suposto estudarem por eles próprios, ajudados por professores numa espécie de regime self-service - a matéria estava organizada em unidades e, para cada uma delas fazia-se um exame.

Os anos foram passando e foi-se percebendo que os alunos eram cada vez mais incapazes de estudar por meios próprios (ler a matéria, fazer perguntas, fazer exercícios, etc), e teve que se voltar à história das aulas convencionais.

De entre esses alunos, os mais incapazes eram os mais novos. Ficavam em pânico quando lhes diziam: está aí a matéria, estudem, se tiverem dúvidas perguntem.

A maioria deles debandava, os outros sofriam, os mais velhos riam-se.

Estar-se neste cenário, não é uma vitória do 25 de Abril. É uma derrota. E olhe que a força está do lado da realidade. O 25 de Abril não se fez para esconder a realidade. Essa era a máxima do tempo da outra senhora.

Das duas uma: ou o Baldassare não quer ver a realidade ou não a vê. Mas isso são problemas seus. É da sua responsabilidade resolver esses problemas consigo próprio.

Desenrasque-se.

baldassare disse...

Você vem-me para aqui com textos tão grandes, que eu nem sei por onde começar...

1ºcomment:

-Não compare a propaganda de antes do 25 de Abril com a propaganda (que a há) de hoje. Antes, a propaganda era muito mais agressiva e anti-democrática. Mas concordo que hoje também há propaganda. Olhe, hoje em Português vamos ver um filme contra a pena de morte, porque alguns alunos disseram que eram a favor da pena de morte... depois vai haver um debate. Embora seja absolutamente contra a pena de morte, já disse à professora que, se a opinião desses alunos mudar, eu no debate "finjo" que sou a favor da pena de morte... Claro que há propaganda! Mas é menor e com objectivos diferentes.

- Quanto à história da quarta classe, não tem razão. A matéria que se dá hoje no 9º é de longe mais difícil que a da 4ª classe de antigamente. Veja o caso da matemática... funções, estatística, vectores, geometria, equações de 2º grau, inequações etc... É preciso raciocínio e lógica (basta ver o exame do ano passado). Ok, vocês tinham de saber os rios de Angola, mas de resto, o 9º ano de hoje é muito mais avançado que a 4ª classe de antes do 25A. Sem dúvida.

- Não compare o abandono escolar de 2007 com o de antes de 1974... É raro ver um jovem sem o 9º ano.

- Quanto ao elitismo: os que não podem pagar o privado podem não ter tanta qualidade de ensino, mas ao menos vão à escola e têm tantas oportunidades como os outros. E há bons professores no público.

- "'A Mocidade Portuguesa não era um símbolo (pelo menos para mim...)' Diz muito bem: para si." Desta frase, suponho que para si, a Mocidade era um símbolo. Quem manda? Quem manda? (Agora você: "Salazar! Salazar!")

- A criatividade tem de ser estimulada. A Escola é também um local de descoberta de vocações.

-Pelo que diz, defende o colonialismo. Nós, europeus, temos que educar os povos não-civilizados. É a sua concepção do mundo... Agora, também lhe digo: quando os ingleses mandavam no Zimbabwe, será que os nativos não comiam ratos? Se calhar comiam roastbief com molho inglês...

2ºcomment:

- Você diz que o conceito dos pais era abrutalhado (concordo). Diz que hoje, o conceito (inclusive dos pais) é ainda mais abrutalhado (também concordo). Ou seja, as famílias podem educar mal. Mas depois defende que as famílias é que devem educar, não a escola.
É a escola quem deve educar. Não se pode deixar o futuro individual de uma criança, ou de uma geração inteira, ao cuidado da família. Porque a família pode ser má, pode errar. A escola também pode errar, mas é mais fácil reorganizar o ensino do que reorganizar cada uma das famílias...
É a escola que deve educar as gerações. As famílias também, mas não tudo.

-"Eu calculo que o Baldassare não goste da palavra competir, mas isso é um problema seu." Engana-se. Uma educação centrada no aluno é muito mais competitiva. Veja este meu texto
http://educacaocor-de-rosa.blogspot.com/
2007/03/escola-centrada-no-aluno-e-educao-mais.html

-"Países como a Polónia". Viu o made in europa, não foi? Eu também vi. Como deve calcular, não me entusiasmou. A escola polaca é boa na transmissão de conhecimentos. Mas isso, a meu ver, não chega. Os governantes ultra-conservadores, chauvinistas e neo-nazis da Polónia estão, atravéz da Escola, a planear uma sociedade polaca futura com valores que já julgava abominados por todos.

-"A força está do lado da realidade". E a realidade é esta: hoje a escola não está bem. Mas está melhor que há 40 anos.

RioDoiro disse...

"propaganda era muito mais agressiva e anti-democrática"

Propaganda é propaganda. Mentira. A sua insidiosidade não é independente do sistema político, pois não, mas por isso ela é muito mais perigosa num sistema democrático que numa ditadura.

Acerca do filme que vai ver, o Baldassare adoptará a estratégia que achar melhor. Mas não se esqueça que pode estar errada. Por mim, sou contra a pena de morte em geral. Devo no entanto dizer, que não peco o sono quando facínoras que matam milhares de pessoas são executados.

"A matéria que se dá hoje no 9º é de longe mais difícil que a da 4ª classe de antigamente."

Ó Baldassare. Mas hoje quando se chega ao 9º já se estudaram mais 5 anos que na antiga 4ª classe (já para não falar na pré-primária). Você está a comparar alhos com bugalhos.

Você tem que comparar o que então se aprendia com 4 anos de estudo com o que hoje se sabe com 4 anos de estudo (mesmo esquecendo a pré-primária).

"... mas de resto, o 9º ano de hoje é muito mais avançado que a 4ª classe de antes do 25A. Sem dúvida."

Claro. 9 elefantes são mais pesados que 4 mas a sua matemática do 9º não lho permite perceber.

"É raro ver um jovem sem o 9º ano."

É? E o Baldassare está convencido que a existência de canudo é garantia de alguma coisa? Desconhece que a palavra de ordem entre os professores é "passar" por causa dos "ratios"?

"E há bons professores no público"

Mas o sistema público nivela por baixo (como algum privado).

De que vale distribuir canudos de 12º a alunos que só têm a pedalada do básico? Os primeiros enganados são os alunos. Esse truque ainda funciona no mundo do estado, mas não funciona nas empresas privadas. Aí, testa-se. Se não sabe, lerpa. Com ou sem canudo.

"Quem manda? Quem manda? (Agora você: "Salazar! Salazar!"

Essa foi uma realidade anterior à minha vinda ao mundo. Pelo menos no centro do país.

Quando o Baldassare diz que em 100 anos foi tudo igual, dá esse resultado. A ditadura dos anos 50 não foi igual à dos 60, nem dos 70. Foi ditadura, mas foi-se modificando.

Já agora, para perceber onde comparações disparatadas levam, lembre-se que a seguir ao 25 de Abril os escuteiros foram comparados à mocidade portuguesa. E se o Baldassare investigar um pouco, vai descobrir que ainda hoje, muita gente, rosna, entre dentes, exactamente isso.

"- A criatividade tem de ser estimulada. A Escola é também um local de descoberta de vocações. "

Devia ser, mas não é. E já foi. Uma das razões porque não é deve-se a problemas de disciplina. As aulas práticas tendem a ser incontroláveis. Os professores evitam-nas por não terem mecanismos para manter a disciplina.

Em letras, a pergunta mais ouvida quando se manda fazer um redacção (a que agora se chama, pomposamente, composição), é "De que tamanho"? Quantos alunos ultrapassam o máximo? Quantos realmente raciocinam e não apenas enchem chouriços?

"-Pelo que diz, defende o colonialismo." Não, não defendo. Na melhor das hipóteses o Baldassare não saberá ler. Mas apesar de o não defender não tenho os olhos suficientemente tapados para perceber que não quereria viver naquilo em que as ex colónias caíram depois da descolonização.

O que não desejo para mim não defendo para os outros. Nessa altura defendia descolonização e, em tese, continuaria a defender. Mas isso não me impede de perceber que, nessa matéria, também o 25 de Abril falhou (por marginal responsabilidade dos portugueses, devo dizer). Já agora, faz (fez) algum sentido chamar aos refugiados que vieram das ex colónias "retornados"?

"Mas depois defende que as famílias é que devem educar, não a escola. "

Pois o drama está aqui. O Baldassare ainda não percebeu?

Como julga você possível a um professor manter uma relação de tipo familiar (família funcional) com cada um dos alunos? A coisa rebenta logo pelo facto de os membros da família se manterem (salvo fatalidade ou divórcio - outra chaga) e os professores irem mudando, quanto mais não seja porque os alunos progridem.

Você acha possível que um professor possa manter uma relação familiar com centenas de alunos? E os alunos uma relação familiar com dezenas de professores?

Equilibrar as coisas com aqueles que não têm, de todo ou em parte uma família, já é imensamente complexo. As instituições que o fazem sabem-no. E você quer extrapolar isso para a escola?

Não é essa, nem pode ser, a função da escola. Há instituições (que também incluem escola) para o fazerem. ... e tem-se visto com que montanhas de problemas.

A luta está em desabrutalhar as famílias. Não no apoio a uma ideia abrutalhada de as substituir.

Então você quer substituir um Sol nublado pela Lua?

"Viu o made in europa, não foi?" Não sei do que fala. Não dou atenção a essas coisas via TV. Cheiram-me, demasiado, a propaganda.

"A escola polaca é boa na transmissão de conhecimentos. Mas isso, a meu ver, não chega."

Isso é a seu ver. Mas é esse começo que permite o que o Baldassare pretende sem passar por ele.

Uma cabeça sem conhecimentos redunda no abrutalhamento de que falámos antes. Só se pensa com dados, sejam ele de que tipo forem. Sem conhecimentos está-se permanentemente a fazer papel de parvo - a reinventar a roda.

Quanto aos pormenores políticos da Polónia, com que concordo, nada têm a ver com os resultados conseguidos no ensino, como não tinham antes do 25 de Abril.

Você faz uma ideia da bronca que rebenta numa escola suíça se um aluno tem uma negativa? Ou o Baldassare ainda pensa que a Suíça são só bancos? Ou numa escola escabdinava. Ou numa escola de um qualquer país que não esteja aflito com a concorrência chinesa?

Só com conhecimento se têm ferramentas para ganhar asas. De contrário, só sai esperteza saloia, abrutalhada.

"Mas está melhor que há 40 anos"

As instalações são melhores, os equipamentos em geral, etc.

O único e mais tecnologicamente avançado que havia na minha escola primária era a lâmpada incandescente do tecto. Saí de lá a saber ler, a escrever, a contar (matematicamente e de conversa), a conhecer os rudimentos (bastante falsificados) da história de Portugal, etc. A este respeito, a nova primária é uma catástrofe (a não ser que o Baldassare a compare com o 9ºano - o que só atesta a incompetência do sistema contemporâneo).

Para atirar poeira aos olhos do pessoal o ministério resolver impingir inglês. Muito bem. Mas então, quando aprendem os alunos português?

Você faz uma ideia do corrupiu que havia no meu 5º ano (escala de agora) para ir à Biblioteca Municipal levantar livros para ler? E não eram morangadas, eram canhanhos.

Olhe, foi por aí que eu entrei pela ciência e pelos livros da Argonauta.

Nessa altura não podia comprar livros. Posteriormente comecei a comprar e depois de os assimilar vendia-os, para comprar mais.

Até arrepia olhar para as estantes de uma escola básica: só lixo incipiente. Se não for não é lido. E é esta incapacidade em pôr os alunos a ler o que devem que leva às cedências de deixar ler o que querem. Tem a ver com a sua obsessão na centragem da escola no aluno. Querem merda, levam merda. O centro são eles.

É preciso conhecer (ter dados) para compreender as coisas e poder criar. De outra forma nada nos distingue dos bisontes: largam uma bosta, sai uma peça de arte.

RioDoiro disse...

O seu artigo "A Escola Centrada no Aluno e a Educação mais competitiva" tem pouco por que se lhe pegue.

Para que se aprenda mais, a primeira medida a tomar terá que ser a de subir a fasquia e deixar bem claro que a fasquia está mais alta.

O problema é que, tendo-se aberto a caixa de pandora, duvido que haja força política para o fazer, porque nenhum governo resistiria a 95% de chumbos.

De seguida colocar o aluno no centro da coisa (como você gosta de dizer) informando-o que está nas mãos dele provar que aprendeu.

Enquanto se pensar que a estimulação do aluno vem sempre de fora (de outra entidade que não o próprio aluno), o aluno nunca mexerá uma palha no sentido de procurar o seu próprio caminho e o seu próprio estímulo. A cada estimulação que receba seguir-se-há uma nova espera pela próxima estimulação.

É fácil dizer que o aluno precisa ser estimulado. O que é difícil é dizer é em que momento deverá ficar o aluno por conta própria. E quanto mais tarte for, mas dependência se criará.

"Se há maior liberdade na gestão do tempo, os alunos tomam consciência que têm de lutar por eles próprios, aproveitando as ajudas dos professores."

É verdade, mas e então a história da estimulação. Em que ficamos? É o aluno que deve ter a batata quente na mão o deve ser a escola?

O Baldassare dá uma no cravo outra na ferradura.

"Sou a favor da redução da carga horária"

Antes do 25 de Abril era assim. Se calhar o Baldasare é salazarista.

"Os alunos que não quisessem de maneira nenhuma ir a estas aulas (para aproveitarem melhor o tempo, para se divertirem, para fazerem o que quisessem), ir-se-iam esforçar para terem bons resultados, a fim de não serem obrigados a ir às aulas de apoio..."

Obrigar? Mas o Baldassare não é pela liberdade? Talvez aquela matéria não lhe interesse e ele tenha uma tese alternativa. Para quê obrigara a ir à aula? Afinal, se ele não souber escrever talvez se venha a tratar de um língua alternativa ainda desconhecida.

E como é que o Baldassare "obriga" a ir aos apoios se não consegue obrigar a ir às aulas regulares?

É sempre a mesma conversa ... uma no cravo, outra na ferradura. O que o Baldassare defende não tem qualquer consistência.

O Baltassare declara implicitamente que os alunos podem ter autonomia suficiente para poderem não querer ir a umas aulas. Depois diz que seria de os obrigar a ir às outras ...

Então você acha que os alunos nestas circunstâncias são parvos para não perceberem que se não há forma de os obrigar a ir a umas aulas, não há forma para as outras?

Se o não deixarem sair da escola fica por ali aos chutos à portas. Se for à aula será para falar de futebol, ou de fazer merda para ser expulso.

O Baldassare acha que a esperteza está toda do seu lado? Se calhar não era má ideia conhecer melhor o mundo e as reacções humanas.

"Actualmente, o bom aluno não tem recompensa. Ao bom aluno, pelo contrário, exige-se-lhe maior participação, ajudar os colegas, mais trabalho...
Uma Educação Centrada no Aluno premiaria os melhores com menos horas obrigatórias."

Este é um parágrafo absolutamente inqualificável vindo de um aluno.

O bom aluno não tem recompensa? Então, ter boas notas não é a recompensa? Que quereria você que lhes "dessem gajas/gajos"?

Porque não gosta você de ajudar os colegas? Talvez porque perceba que eles estão à mama dos melhores alunos. Mas então o Baldassare não gosta de ter que estimular os colegas?

O Baldassare está numa encruzilhada mas não quer tirar daí as consequências.

Experimente este raciocínio: Uma forma que os cábulas têm de levar a deles avante consiste em pôr toda a gente ao serviço deles: professores e colegas.

E porque é que eles levam a deles avante? Porque o sistema e os colegas cedem à chantagem.

Primeiro o Baldassare argumenta no sentido de declarar que quem quiser bolota que trepe (responsabilidade ao aluno), logo a seguir que o aluno só deve apanhar a bolota por interposto escravo (o colega que o estimule).

Então em que ficamos? Como se dia habitualmente, essa já eu me tinha esquecido.

RioDoiro disse...

Há qui um texto que valerá a pena ler.

http://range-o-dente.blogspot.com/2007/05/enganaram-se.html

RioDoiro disse...

http://pascal.iseg.utl.pt/~ncrato/Recortes/Recortes.html
Esta série de textos espelha bem o sarilho em que o eduquês nos meteu. Ao país inteiro, em particular aos alunos.

RioDoiro disse...

Esta serve ao seu problema da motivação: apenas mais uma das duas crenças (errada, é bom dever).

http://pascal.iseg.utl.pt/~ncrato/Expresso/MotivacaoAutoconfianca_Expresso_20050312.htm
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A motivação e a autoconfiança

Discute-se há muito em pedagogia qual o papel da motivação e da autoconfiança. Há uma corrente que pretende explicar o insucesso escolar pela falta de motivação dos estudantes. Apenas. De onde deduz que bastaria motivar e moralizar os alunos, pois assim eles acabariam por aprender.

A ideia é simples e entra facilmente no senso comum. «Pois é... eu quando estava na escola não gostava de matemática e foi por isso que chumbei. Mas houve um ano em que tive um óptimo professor e então tive uma nota razoável», diz-se frequentemente. Parece irrefutável, mas se pensarmos um pouco vemos que as coisas são capazes de ser mais complexas. Não se aprende porque não se está motivado ou não se está motivado porque não se consegue aprender? Se calhar, o tal bom professor limitou-se a trabalhar melhor a matéria e, percebendo-a finalmente, o aluno passou a apreciá-la, a estar mais motivado e a ter mais autoconfiança.

Os estudos estatísticos mostram que o domínio das matérias escolares está correlacionado com a motivação e a autoconfiança, mas fica-se sem saber qual é a variável que causa a outra. Os pedagogos equilibrados tentam motivar os alunos ao mesmo tempo que os levam a trabalhar e compreender as matérias, sabendo que é este último objectivo que é fundamental. O dogmatismo de alguns teóricos da pedagogia, contudo, põe a tónica unicamente na motivação - todo o insucesso se explicaria pelo desinteresse dos estudantes.

Foi certamente este dogmatismo que levou a escrever no programa oficial do 1º ciclo (1990): «A tarefa principal que se põe aos professores é conseguir que as crianças, desde cedo, aprendam a gostar de matemática». Parece ser apenas uma declaração de boas intenções, mas percebe-se o erro: se o essencial é que as crianças gostem da matéria, então todo o ensino deve estar dirigido para coisas que divirtam os alunos; as matérias e a aprendizagem passam para segundo plano.

Este velho debate começa a ser resolvido pela experiência. E pela ciência, nomeadamente pelos estudos estatísticos feitos pelos psicólogos experimentais, que há quase uma dezena de anos têm vindo a analisar directamente este problema. Um desses trabalhos, elaborado por quatro psicólogos norte-americanos e canadianos ao longo dos últimos anos, acaba de merecer as honras do «Scientific American» (292-1, págs. 70-77).

Numa tentativa de avaliar se a autoconfiança conduz a bons resultados académicos, os investigadores estudaram milhares de estudantes do ensino secundário e verificaram que a correlação entre a autoconfiança e os resultados posteriores é extremamente pequena, na ordem dos 10%. Em contraste, a correlação entre a aprendizagem num ano e os resultados em anos posteriores é muito elevada, quase 90%, o que leva a concluir que a preparação académica é factor decisivo para o sucesso. Afinal, nada que o bom senso não tivesse previsto.

Mas talvez o resultado mais curioso seja a descoberta dos aspectos negativos da autoconfiança. Comparando estudantes que receberam mensagens destinadas a motivá-los com estudantes que receberam mensagens destinadas a responsabilizá-los, os investigadores chegaram à conclusão que os primeiros tendem a desmotivar-se sempre que obtêm maus resultados e que os segundos, na mesma situação, tendem a assumir responsabilidades e a melhorar o seu estudo. Mais importante ainda: os segundos adoptaram estratégias de controlo do seu trabalho e obtiveram, em média, melhores resultados. Surpreendente? Talvez não.

Nuno Crato

RioDoiro disse...

ATENÇÃO

Se lhe apetecer responder a estes meus comentários, faça-o com tempo. É muita fruta junta.

Sugiro que dê tempo, leia os links, pense e depois decida.

Por mim, não há pressa.

baldassare disse...

Eu não disse que o aluno tinha de ser estimulado. A CRIATIVIDADE do aluno tem de ser estimulada. Todas as suas críticas são baseadas nesse suposto contrasenso entre "estimular o aluno" e "dar liberdade ao aluno". Só que o que eu quero ver estimulado é a criatividade. E estimular não é obrigar.
Mas comecemos pelo princípio:

- Eu comparei a escolaridade obrigatória de antes do 25A com a escolaridade obrigatória de hoje.
Mas olhe que foi você que começou a comparar a 4ª classe com o 9º ano: «"a quarta classe obrigatória não era um símbolo".

Não era, e o 9º ano de que uma boa parte desiste ou que nada aprende é o quê? Apenas o pretensiosismo de tapar um com outro mais "práfrentex". Naquela altura como agora a obrigatoriedade era treta.»

Mas ao menos estamos de acordo. O 9º ano de agora é incomparável à antiga 4ª classe.

- "Quantos alunos ultrapassam o máximo[de linhas da composição]?"
Eu, já houve tempos em que passei as linhas máximas. Hoje não o faço porque os professores descontam na nota. No meu último teste de Inglês a professora mandou fazer uma composição de 60-70 palavras. A partir das 70 palavras, simplesmente não lia o texto. E descontava pontuação. Por acaso fiz 72 palavras. Que se lixe!

- "Como julga você possível a um professor manter uma relação de tipo familiar (família funcional) com cada um dos alunos?"
Mas quem disse que queria uma relação tipo familiar. Às famílias cabe o afecto, o conforto, e uma parte da educação. Mas a Escola é também responsável pela educação das gerações. A Escola, para mim, é mais que um local de transmissão de conhecimentos. Se fosse só isso, até se podia ficar em casa a estudar. A Escola educa e é reflectida na sociedade futura. É assim que tem de ser encarada.

-Os conhecimentos são uma parte da Escola. Uma parte importante, mas uma parte.

- "Quanto aos pormenores políticos da Polónia, com que concordo" Pois.

-"Até arrepia olhar para as estantes de uma escola básica: só lixo incipiente." Concordo.


-Quanto ao seu segundo comment, estamos conversados. Eu não disse estimular o aluno. Disse estimular a sua criatividade. E estimular não é obrigar.

-Obrigar um aluno que não tem boas notas a ir a aulas de apoio, parece-me razoável. Faz parte do princípio de liberdade-responsabilidade. O aluno teve liberdade. Não a aproveitou, teve más notas... é educado à responsabilidade atravéz de aulas extra. E tem um apoio mais individualizado, porque os alunos que não necessitam não estão na aula. Sinceramente, acho que esta é uma ideia razoável e positiva para todos... mesmo no contexto actual(porque há coisas na Educação centrada no Aluno que só terão resultado em conjunto).

-"E como é que o Baldassare "obriga" a ir aos apoios se não consegue obrigar a ir às aulas regulares?"
Ele vai, se quiser, às aulas regulares. Se não fôr e tiver más notas, é obrigado a ir a todas as aulas e a aulas de apoio. É tudo uma questão de liberdade-responsabilidade. Tem liberdade e usa-a bem: dá-se-lhe mais liberdade. Tem liberdade e usa-a mal: é obrigado a assumir as responsabilidades. É assim que se educa uma geração.

- "O bom aluno não tem recompensa? Então, ter boas notas não é a recompensa? Que quereria você que lhes "dessem gajas/gajos"?"
Não, redução da carga horária chega-me. E escolha de escolas segundo o aproveitamento, não segundo o bairro/zona do país, já agora. E bolsas de estudo, se possível.

baldassare disse...

Já agora: desafio-o a fazer um comment no seu blog sobre a Escola ideal para si.

RioDoiro disse...

"Eu não disse que o aluno tinha de ser estimulado. A CRIATIVIDADE do aluno tem de ser estimulada."

Ah sim. Pois. Mais um gambosino.

O Baldassare tem um método extraterrestre para estimular a criatividade do aluno, sem estimular o aluno propriamente dito. Em boa verdade, o Baldassare nem precisa ir à escola, basta enviar lá a sua criatividade.

Oh Baldassare. Eu tenho estado a perder tempo consigo, mas se você me vem com tiradas destas fica sozinho. Ou então diga simplesmente que pretende ficar sozinho com as suas crenças disparatadas de que esta é um excelente exemplo.

"Mas olhe que foi você que começou a comparar a 4ª classe com o 9º ano: «"a quarta classe obrigatória não era um símbolo"."

E onde está a comparação?

"Naquela altura como agora a obrigatoriedade era treta."

Claro que era. Você é que falou nela como se tivesse importância alguma. Você chamou-a cá porque é um dos disparates do mundo politicamente correcto (o que não se adapta à realidade).

"Mas ao menos estamos de acordo. O 9º ano de agora é incomparável à antiga 4ª classe."

Você não sabe ler. E porque havia de ser comparável? Já experimentou comparar um sabonete e um autocarro, ou o Baldassare usa-os indistintamente?

"Eu, já houve tempos em que passei as linhas máximas. Hoje não o faço porque os professores descontam na nota. No meu último teste de Inglês a professora mandou fazer uma composição de 60-70 palavras. A partir das 70 palavras, simplesmente não lia o texto. E descontava pontuação. Por acaso fiz 72 palavras. Que se lixe!"

Tá a ver onde já vai o disparate?

O disparate não está em não ler o resto, se do ponto de vista do que o professor pretende o pedaço lido chegar. O disparate está em premiar a incompetência.

"A Escola educa e é reflectida na sociedade futura. É assim que tem de ser encarada." Você encare-a como quiser. Mas essa não é a realidade. Nem nunca foi nem é em parte alguma. ... o problema dos gambosinos.

... e quanto mais insiste em educar, menos educa. Porque será?

"Sinceramente, acho que esta é uma ideia razoável e positiva para todos... " A ideia é boa, mas para o planeta dos gambosinos. E você acredita que a generalidade dos alunos que têm más notas aparece às aulas de apoio de livre vontade? Por mim poderia ser assim, se o sistema encarasse a hipótese de os chumbar sem delongas. Mas o sistema 'envergonha-se' de os chumbar porque supõe ser directamente culpado pretendendo esconder que é indirectamente culpado. E daí 'pede-lhes' pelas alminhas para estarem na sala, para ver se encontra forma de não os chumbar.

"Ele vai, se quiser, às aulas regulares. Se não fôr e tiver más notas, é obrigado a ir a todas as aulas e a aulas de apoio. É tudo uma questão de liberdade-responsabilidade. Tem liberdade e usa-a bem: dá-se-lhe mais liberdade. Tem liberdade e usa-a mal: é obrigado a assumir as responsabilidades. É assim que se educa uma geração."

Você continua a negar a realidade e a descrever o planeta dos gambosinos.

"E bolsas de estudo, se possível." Sim, a partir de 15 valores.

A escolha das escolas é uma possibilidade interessante que eu suponho que dificilmente será posta em prática porque aparecerão logo idiotas a reclamar que os que não puderem pagar transportes terão que ficar na escola para onde ninguém quer ir - e a reclamar que o sistema é elitista.

Claro que aparecerão outros idiotas a reclamar que os transportes sejam pagos.

RioDoiro disse...

Acerca da sua comparação da antiga 4ª classe com o 9º:

Você já reparou que a antiga quarta classe era conseguida em 4 anos e o 9º apenas em 9?

Como compara você 4 com 9?

Você não reparou que só o facto de fazer uma comparação destas é um atestado de incompetência ao ensino pós 25 de Abril?

... e experimente comparar o nº de horas de aulas de então e de agora (então eram quase metade) ... Mesmo que o factor fosse .7, você estaria a comparar a 3ª classe com o 9º ano.

RioDoiro disse...

"Já agora: desafio-o a fazer um comment no seu blog sobre a Escola ideal para si."

Voilá.

http://range-o-dente.blogspot.com/2007/05/possvel-sada-do-lamaal.html