terça-feira, dezembro 04, 2007

Gestores ou professores?

Devem as escolas ser geridas por pessoas formadas em Gestão?

Há duas questões a ponderar: Primeiro: será que só é possível eficácia com gestores formados? Segundo: será que um gestor consegue compreender o que é estar a dar uma aula, e gerir a escola melhor que um professor?

É óbvio que alguem com curso de Gestão tem mais capacidade de gestão que alguém que não é formado nessa área. E também é óbvio que alguém que nunca foi professor tem mais dificuldade em avaliar as situações de professores e alunos que lhe chegam ao gabinete.

Será que a gestão escolar necessita assim tanto de "optimização" e "eficácia"? Ou a principal função de um director é avaliar propostas e problemas do dia-a-dia escolar?

Numa escola, o que mais há a gerir são os recursos humanos. De resto, é papel, água, bar, cantina, retroprojectores e pouco mais... E as cantinas já estão delegadas a empresas de catering escolar, portanto o que há materialmente a gerir é pouco.
Mas mesmo esse pouco precisa de ser bem gerido...

A melhor solução é professores com cursos de formação sobre gestão e gestão de R.H.
Podiam ser cursos promovidos pelo ME. O importante é haver formação na área da gestão escolar para professores que queiram ser directores de escolas. Sem isso, corremos o risco de ter má gestão das nossas escolas.

É necessário melhorar a gestão, mas nunca pôr a gerir uma escola uma pessoa que não conhece por dentro as salas de aula.

10 comentários:

Ctrl disse...

E pela mesma lógica, é bom ter um ministro da educação que não conhece por dentro as salas de aulas do ensino básico e secundário, excepto enquanto aluno?
A terra a quem a trabalha...

RioDoiro disse...

Ter um gestor (formado) a gerir uma escola é como matar moscas com canhão.

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JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Estou como o range-o-dente. Se as escolas são tão difíceis de gerir que sejam precisos gestores profissionais, então a batalha já está perdida há muito tempo; é porque a confusão que resulta do gigantismo burocrático, da profusão legislativa e do delírio pedagógico atingiu tais proporções que uma escola já não pode ser o que deve ser: muito simplesmente, uma escola.

RioDoiro disse...

José Luís Sarmento:
"muito simplesmente, uma escola."

Nem mais.

Eu suponho que o tipo de tiradas em causa se deve ao mundo-ervilha: o estudante que vê o mundo na escola. Explicando melhor, a escola é todo o seu mundo e, a prazo, tende militantemente a negar a existência de outro. É, aliás, um dos falhanços da escola: não quer assustar as criancinhas revelando-lhes o mundo tal como é, com receio de que elas fiquem "traumatizadas". A escola que parece pretender criar uma nova classe: a dos palermas.

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baldassare disse...

O ponto do Ctrl.Alt.Del é interessante. Será que um ministro da educação que tivesse sido professor pediria mais esforços aos professores? Aumentaria a idade da reforma para os 65 (imaginando-se a dar aulas aos 65 anos)? Criaria uma nova classe de professores (sabendo da tensão que iria causar)?

"A terra a quem a trabalha...". Por enquanto, nem que fosse "a terra a quem já a trabalhou alguma vez na vida"...

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

range-o-dente:
Você agora fez-me lembrar uma frase de Hannah Arendt: a escola serve para ensinar aos alunos o que o mundo é, e não como se deve viver (estou a citar de memória e as palavras exactas podem não ser estas).

RioDoiro disse...

Caro José Luís Sarmento,

http://pt.wikiquote.org/wiki/Hannah_Arendt

Voilá.

"A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver"

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RioDoiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
RioDoiro disse...

Baldassare:
"Será que um ministro da educação que tivesse sido professor pediria mais esforços aos professores? Aumentaria a idade da reforma para os 65 (imaginando-se a dar aulas aos 65 anos)? "

Em que é que o esforço dos professores se distingue da generalidade das profisões? Pelo facto de se ter que aturar selvagens? Isso nada tem a ver com os 65. Quanto muito deveriam os selvagens ser transferidos para o zoo.

Baldassare:
"Criaria uma nova classe de professores (sabendo da tensão que iria causar)"

Apenas ajustes de intendência, irrelevantes em função da guerra civil na sala de aula. Uma guerra de comadres despoletada por uma bruxa que voa sem brevet.

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alf disse...

range-o-dente

Essa do mundo ervilha é das coisas mais acertadas que tenho lido sobre as escolas. Esse é um tema muito importante e penso que era um bom tema a desenvolver no seu blogue.

Não conhecia nada da Arendt.

Estou farto de dizer a amigos sobre a maneira como educam os filhos: a vossa função de educadores é ensinarem aos vossos filhos como é o mundo, não é criarem uma bolha de facilidades à volta deles.