O coro dos cornudos,
acompanhado por São Pedro em surdina,
entoa a moralidade, após ter limpado as últimas lagrimetas
e suspirando como só os cornudos sabem
XX
Mulher não queiras sabida
nem com vício desusado,
que podes perder a vida
na estafa de dar ao rabo.
XXI
Escolhe donzela discreta
com os três no seu lugar.
Examina-lhe bem a greta,
não te vá ela enganar...
XXII
E depois de veres o bicho
e as maneiras que tem
a funcionar a capricho,
já sabes se te convém.
XXIII
Mulher calma, é estimá-la
como a santa no altar.
Cabra douda, é rifá-la...
- Que não venhas cá parar.
XXIV
Este conselho te dão,
e não te levam dinheiro...
os cornudos que aqui estão
com São Pedro hospitaleiro.
XXV
Invejosos quase todos
dos conos que o mundo guarda.
Fazem mais um bocado de lamentação.
(Nota do autor: «Quase», porque entretanto brincavam uns com os outros.
«Rabolices!» )
Mas se fornicas a rodos
tua vinda aqui não tarda!
Recomeça a moralidade,
estilo estão verdes, não prestam. Alguns bêbados,
cornudos despeitados ou amargurados.
Vozes pastosas. Deve ler-se: viiinho... velhiiinho...
XXVI
Melhor que a mulher é o vinho
que faz esquecer a mulher...
que faz dum amor já velhinho
ressurgir novo prazer.
Finale, muito católico
XXVII
Assim termina o lamento
pois recordar é sofrer.
Ama e fode. É bom sustento!
E por nós reza um pater.
Luiz Pacheco, Coro de escánio e lamentações dos cornudos em volta de são pedro
in "Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica"
Selecção, prefácio e notas de Natália Correia
Antígona/frenesi, 1999
1 comentário:
Uma grande perda!!!
Adorava o carisma deste grande homem!
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