Questiono o interesse público e até o interesse comercial de uma transmissão de uma tourada. Para quem não gosta de tourada, não lhe interessa. Para quem gosta de tourada, penso que é muito mais emotivo ver na arena...
Mas agora não vou falar dessa questão. O que eu quero chamar à atenção é o nome do programa. "Duas dinastias"... e em que dia aparece o programa cujo nome começa por "Duas dinastias"? Dia 4 de Outubro.
Um dia antes da comemoração da instauração da república, na televisão paga por todos nós, na televisão do Estado Republicano, surge um programa tauromático com o nome "Duas Dinastias, Duas Gerações". Não estou a dizer que a RTP faz apologia da monarquia. Apenas acho inapropriado dar esse nome a um programa no dia 4 de Outubro...
Mas o que vale é que hoje não é 4 de Outubro. Hoje é 5 de Outubro e comemora-se o dia em que foi implementado em Portugal o único sistema que garante que o chefe de estado é democraticamente eleito. Portanto, o único sistema verdadeiramente democrático.
Viva a República!
9 comentários:
"Para quem não gosta de tourada, não lhe interessa."
Só quem gostar de touradas está em posição para fazer uma afirmação dessas.
Das duas uma: ou na sua 'perspectiva' de democracia cabe a determinação do que as pessoas adultas têm ou não que gostar ou então gosta de touradas e sabe do que fala.
Viva a república, mas não a vejo com os óculos de verdade absoluta como o Baldassare parece vê-la.
Em caso de dúvida,
http://range-o-dente.blogspot.com/2006/08/as-trevas-das-touradas.html
.
"Países como a França ou a Inglaterra, que não entraram na "moda" nazi-fascista que varreu o resto da Europa Ocidental, são hoje as democracias mais aprimoradas da Europa."
"Hoje é 5 de Outubro e comemora-se o dia em que foi implementado em Portugal o único sistema que garante que o chefe de estado é democraticamente eleito. Portanto, o único sistema verdadeiramente democrático."
É impressão minha, ou há aqui um conflito de "primores"?
.
Range-o-Dente,
A França e a Inglaterra são duas das democracias mais aprimoradas (não perfeitas...) da Europa. E são-no porque escaparam à moda das ditaduras.
O facto de eu achar a Inglaterra uma boa democracia não impede que eu ache que há um aspecto que falha nessa democracia: o facto de o chefe de estado sê-lo porque nasceu filho de chefe de estado, e não porque foi escolhido pelo povo.
Também lhe digo: na democracia francesa, que referi nessa citação como sendo uma boa democracia, aponto um aspecto que não é democrático: é proibido usar símbolos religiosos em locais públicos, e isso inclui véus islâmicos, batinas dos padres e até "crucifixos esplícitos"... mais: é proíbido negar o holocausto e o genocídio dos arménios. Também não se podem usar t-shirts com a folha da marijuana.
Esqueceu-se de citar outra frase, no primeiro texto: não há democracias perfeitas.
Quanto ao que disse no primeiro comment, deve ter feito confusão:
""Para quem não gosta de tourada, não lhe interessa."
Só quem gostar de touradas está em posição para fazer uma afirmação dessas."
Penso que o que quer dizer é: só pode dizer que as touradas na TV não têm interesse os que gostam de touradas.
Eu disse o que disse porque a tourada é uma tradição (à qual não me associo, mas também não me oponho), uma arte e celebração da vida no mundo rural. É uma coisa para se sentir o cheiro a cavalo, para se ver in loco a brutalidade da besta e a astúcia do homem. Pelo menos, é a concepção romântica que tenho da tourada, e a concepção romântica que tenho do aficionado de tourada é a de alguém que vai à arena.
Parti do pressuposto que a tourada é para se ver ao vivo. De qualquer maneira, para apoiar a minha concepção romântica das touradas tenho as audiências das transmissões de tourada na TV. Estas confirmam que, até do ponto de vista comercial, as touradas são uma má aposta. Não interessa aos que não gostam. Não faz vibrar os que gostam.
Não me venha questionar a minha cultura democrática só porque sou contra transmissões de tourada na televisão do estado. Repare: do estado. Se houvesse uma TouradaTV ou um canal privado que passasse muita tourada, não iria questionar essa opção comercial. Como sou eu que pago parte do que recebe a RTP, penso que tenho o direito de achar que as transmissões de tourada são fúteis, assim como o meu caro tem o direito de achar muito bem que estas sejam transmitidas. E ao fazermos isso, não estamos a ser anti-democráticos, antes pelo contrário.
A época do come e cala já acabou. Já que como e pago para comer uma coisa que não gosto, ao menos deixem-me reclamar... sem a boca cheia :-)
O problema com a sua concepção democrática está no ponto em que opina por terceiros.
"Para quem não gosta de tourada, não lhe interessa"
Eu não gosto de touradas porque são um voyeurismo à violência. Suponho que deveriam ser proibidas, como o são a luta de cães, Mas enfim, o mundo não é perfeito. Sei do que falo porque levei com elas enquanto criança.
O Baldassare projecta sobre outros a inevitabilidade do seu raciocínio.
.
Desculpe, mas quem não gosta de touradas não lhe interessa as touradas na TV. Penso que isso é óbvio!
Se não gosta de touradas ao vivo, não gosta de touradas transmitidas na TV...
Não está em causa se se gosta ou não. O que está em causa é que o Baldassare projecta a sua opinião como sendo a única possível de outros:
"Para quem não gosta de tourada, não lhe interessa".
Há muita coisa de que não gosto e me interesse.
às vezes interesso-me exactamente para tentar perceber porque não gosto.
Não gosto de guerra mas interesso-me muitíssimo por elas. Porquê? Para saber como se lá chega (chegou) para, na medida das minhas possibilidades as poder evitar.
"Desculpe, mas quem não gosta de touradas não lhe interessa as touradas na TV. Penso que isso é óbvio!"
Mas pensa mal. Mais uma projecção da sua lógica em prioridade sobre a lógica de outros.
De facto não gosto de ver touradas nem na TV nem de outras formas. Mas poderia, mesmo assim, ter algum interesse em vê-las. E poderia ter um milhão de razões para isso.
Já agora, não gosto de touradas mas gosto de largadas de touros. E gosto de ver cavaleiros e cavalos.
.
Enviar um comentário