terça-feira, fevereiro 26, 2008

O debate

Então, os professores desta casa não viram o debate???

Bem... eu vi-o todo e fiquei a dormir no sofá. Hoje até dormi uma sesta para "acabar a noite", coisa que já não fazia desde o verão...
Eu vou analisar a coisa como um adepto de um clube analisa o jogo da sua própria equipa (que é a equipa que está contra a ministra, diga-se de passagem).

De quem eu gostei mais na equipa: Sindicatos e Professora Fernanda Valez. Eu sei que é inadmissível não vir para aqui dizer que os sindicatos estão mortos. Mas na verdade não estão. Foram muito mais oportunos que o "Movimento Cívico" que lá estava.
A FenProf foi a que argumentou melhor contra o sistema de avaliação, e veio com material do qual a Ministra não estava à espera (acho estranho que ela não soubesse... se calhar não lhe deu jeito saber...).
O último sindicalista, não me lembra o nome nem o sindicato, o que disse que o Novo modelo de gestão ia reforçar a centralidade do sistema, também falou muito bem.
Portanto, temos Mário Nogueira da FenProf a ser o melhor da sala a argumentar contra o sistema de avaliação, e [esse tal que não me lembra o nome, mas que era o último... estão a ver?] a ser o melhor em relação ao NMGE (já merece uma sigla!).

Porque é que estes foram os melhores? Por causa da resposta falaciosa da ministra. Mário Nogueira diz que o sistema de escolha dos professores titulares não avalia necessariamente os melhores, pois os titulares não são os que dão melhores aulas, mas os que "fazem mais coisas giras"... Como é que MLR responde? Tenta pôr na boca do Mário Nogueira que os titulares são os piores professores, quando não foi isso que ele disse. Ele disse é que este sistema não permeia em teoria os professores que dão melhor as aulas, mas sim os que andaram em mais conselhos e direcções.
A ministra podia ter respondido "Pois, mas o objectivo é encontrar líderes e não óptimos educadores". Era mais honesto, porque é essa a realidade. Mas aí caía a suposta justeza desta avaliação.
Além disso, quando ela vem com "O problema aqui não é financeiro", toda a gente ficou "Nããã... que ideia!"
Quanto ao NMGE, [o tal sindicalista... porra, alguém me sabe dizer o nome dele?] diz que, sendo a direcção máxima da escola unipessoalizada, há mais dependência em relação ao poder central ministerial, e não mais autonomia, como se quer fazer passar. E vai daí, MLR responde "O Director é naturalmente dependente do ME" Tudo bem! Agora não me venham é falar de autonomia, e depois dizer frases destas...
Ainda quanto ao NMGE faltou lá quem dissesse "nós não queremos autonomia das escolas. O problema da educação não é a gestão escolar, e o actual modelo de gestão tem dado bons resultados."

O 3º melhor titular foi a professora Fernanda Valez. Deu a carne para canhão, para poder dizer aquilo que todos os professores pensam: "Senhora Ministra, Você é uma Vaca". Não o disse assim, mas disse que ela não tinha perfil, que ela conseguiu unir os professores contra ela, e mais uma data de críticas de maneira abrupta e à bruta!

De resto, muito mal o gajo da t-shirt. Não é só a maneira como disse. É o que disse. O facilitismo não era o tema. Os sindicatos "burocratas" não eram o inimigo. Valeu-lhe a frase "a ministra mente com cara de verdade". Mas perfiro muito mais a serenidade com que a professora Valez atacou. Quanto ao nosso professor do ano, foi usado sempre pela moderadora como água para a fervura. Mas água que ainda assim está morninha, mas que quando lhe perguntam de quem é a culpa vem-se com o "é de todos".
É claro que a maioria dos professores adorou estas duas figuras. O do professor revoltado que "coitado, faltou-lhe a expressividade" e o do professor veterano que era "um sabichão das grécias" (pelo menos os professores com os quais eu falei). Aos sindicatos, já os professores não ligam. A malta quer é "movimentos", greves convocadas por SMS, espontaniedade e nada de burocracias. Os sindicatos são uns chulos, as greves já ningué as faz, as negociações são cedências. Agora, já nem a formação se faz nos sindicatos, por isso de que é que eles valem?... Com essa lógica, a situação dos professores vai ficar ainda pior. É necessário tecnocratas, burocratas, gente chata e com gravata para poder negociar e fazer lobby com o governo. Sim, lobby, meus medricas! Pressão, greves de 15 dias, processos no tribunal, causar 3000€ de prejuízo ao estado!

Meus amigos professores: deixem-se de "movimentos" ou de revoltas sem consequências. Os sindicatos provaram ontém que não há MLR ou Fátima Campos Ferreira que tire razão à causa dos professores. São os melhores a estudar os dossiês, logo são os melhores a argumentar. São os mais burocratas, logo são os que conseguem achar falhas numa lei injusta. São os mais serenos, logo são os que conseguem melhores resultados. São os mais organizados e estruturados, logo são os que conseguem juntar mais professores na luta. São os burocratas que os professores precisam para defender os seus direitos. Eu disse direitos? Então emendo: os seus interesses.
Não tenham medo de estruturas, de burocracias, de chavões. Um movimento é muito mais giro e bonito, mas não vos leva a lado nenhum. Sejam burocratas, lobistas, interesseiros, corporativistas, porque se não, tiram-vos tudo.

5 comentários:

Ctrl disse...

Não vejo pornografia.

RioDoiro disse...

"Meus amigos professores: deixem-se de "movimentos" ou de revoltas sem consequências."

Pois, pois. Convém manter a malta em regimento ao melhor estilo da Mocidade Portuguesa.

Há que proibir qualquer ajuntamento de mais de uma pessoa.

Baldassare: você é uma nódoa.

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RioDoiro disse...

http://educar.wordpress.com/2008/02/29/resistencias-colectivas-a-apede/#comment-31087

Pois.

baldassare disse...

Range-o-dente,
a malta faz o que quer, e um gajo da malta até pode ir gritar para a rua sozinho, mas vai ter muito menos impacto do que se estiver numa luta organizada.

Você é que é uma nódoa. Repare que eu dou um conselho aos professores ("deixem-se de "movimentos" ou de revoltas sem consequências"), mas daí o Range-o-dente tira a conclusão que eu pretendo proibir os movimentos cívicos.

O que eu disse no texto foi que as estruturas sindicais estão hoje muito melhor organizadas e estruturadas do que os movimentos.
No debate isso viu-se claramente, nos tribunais isso viu-se claramente, na organização de campanhas e manifestações isso vê-se claramente. Quem não quer ver, tem todo o direito de convocar manifes por SMS ou ir para um debate contra uma ministra altamente preparada e burocráta, falar no vago e todo engasgado. Depois se isso tem menos consequências e visibilidade pública, isso é com ele...
Não tente pôr na minha boca aquilo que eu não disse! Não seja ministra!

RioDoiro disse...

"O que eu disse no texto foi que as estruturas sindicais estão hoje muito melhor organizadas e estruturadas do que os movimentos"

O Baldassare é uma nódoa. Ainda não percebeu que as estruturas sindicais fazem parte do problema? O Baldassare pensa que o problema se resolve à barra dos tribunais?

Se assim fosse, porquê manifestações? Os dirigentes sindicais seria coisa suficiente.

A guerra só pode ser ganha se a generalidade da população perceber que os professores têm razão. Até agora, as lutas continuam a soar a problemas de dinheiro e, enquanto assim for, o resto da população, em particular aqueles que não trabalham para o estado ouvem apenas gritaria por dinheiro - que lhes sai do bolso.

"São os mais burocratas, logo são os que conseguem achar falhas numa lei injusta."

Isto é uma palermice pegada. O governo colmatará as falhas na lei de uma penada - é o governo (e a AR controlada pelo PS) quem faz a lei. Procurar falhas na lei servirá apenas de paninho quente numa infecção. O governo poderá recuar um pouco mas, no fulcral, nada mudará.

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