sábado, setembro 16, 2006

O Problema da escola pública

O problema da escola pública é precisamente esse: ser pública. Ser livre, receber todos e esforçar-se para que TODOS nela (a escola pública) consigam vencer, consigam ter os conhecimentos que são necessários para a vida.

As sociedades europeias tentaram encaixar esta “escola de todos” no modelo a que chamam “democracia”.

Alguns países conseguiram melhor que outros esta utopia, claramente difícil de conceber e manter.

O país que, na minha opinião, conseguiu construir uma melhor escola pública foi (estejam descansados que não vou falar dos países escandinavos) a França.

Em que é que o modelo francês é diferente do nosso? Em tudo.

·Em França, tem-se consciência que nascemos todos iguais, sim senhora, mas devido ao agregado familiar, ao ambiente em que fomos criados, aos recursos dos pais etc, etc, etc... diferenciamo-nos uns dos outros. Ou seja, nascemos todos iguais, com as mesmas oportunidades, a mesma liberdade..., mas ao longo da vida vamos mudando, o que nos torna diferentes uns dos outros, com maiores capacidades, uns para umas coisas, outros para outras coisas (é esta a grande diferença entre comunismo e democracia...).

· Esta consciência traduz-se em não ser obrigatório chegar ao 9ºano para se ter o ensino básico obrigatório completo, ou seja, se um aluno tem 13 anos e ainda está no 4ºano, esse aluno não tem capacidades para chegar ao 9º, logo, a escola propões-lhe acabar o 4º e fazer um curso técnico. Aprender uma profissão, para que não fique sem sustento para o resto da vida. Outro aluno, por exemplo, tem capacidade só para fazer o 6º... acaba o 6ºano e inicia um curso profissional que, como é obvio tem mais valor que o curso após o 4ºano. Depois do 9º, a mesma coisa: ou prossegue os estudos, ou aprende uma profissão... isto é uma escola pública preocupada com o futuro dos alunos, uma escola DEMOCRÁTICA. Evita o abandono escolar, ajuda realmente os alunos nas necessidades individuais de cada um e não no abstracto, no todo.

· Na França, a educação para a cidadania começa bem cedo. Como? A escola empresta os livros ao aluno por um ano lectivo e no final do ano, o aluno deve devolvê-los. Se o livro estiver em condições, passa para o ano seguinte, para outro aluno. Se estiver estragado, rasgado, riscado... ou se o aluno simplesmente quiser guardar o manual, tem de o pagar. Como ouvi dizer o presidente das associações de pais de Portugal, “um trabalhador, quando vai trabalhar para uma fábrica, está à espera que estejam lá os materiais e as ferramentas para trabalhar. Da mesma maneira a escola deve ter os manuais à disposição do aluno.” Além disso, o aluno aprende desde bem cedo que o que não é dele não é para estragar, e se estragar, vai sofrer as consequências. Mais um exemplo do que é uma escola DEMOCRÁTICA, que ajuda economicamente os pais, evitando mais uma vez o abandono escolar pelos mais pobres, e “ensina” a democracia desde cedo, nos aspectos que realmente importam na vida em comunidade e não na palhaçada que é, por cá, a “eleição do delegado de turma”.

· Em França, a escola começa, não aos seis, mas aos quatro na “escola maternal”, como é chamada. Durante alguns anos antes da entrada no 1º ano, há uma escola que serve para divertir e entreter os alunos e, sobretudo, atenuar as diferenças de conhecimentos. É que cá em Portugal, dependendo da fineza das famílias, há alunos que chegam à primária que nem sabem pegar num lápis e outros que já sabem quase escrever. Na “maternal”, começa-se, num ambiente descontraído a pôr todos ao mesmo nível e explicar-lhes um pouco de como vai ser a vida na escola primária.

Isto sim, é democracia na escola. Podem não chegar todos ao 9ºano, mas os que chegam sabem ler e os que não chegaram, não foram abandonados pela sociedade.

Isto sim é uma escola pública e responsável, que ajuda os pais e os filhos, que os educa, que faz mais do que transmitir conhecimentos em vozes monocórdicas, mas que forma cidadãos e cidadãs prontos para, cada um na sua profissão, na sua vida, viverem em comunidade.

Isto sim é escola pública. Pode ser que amanhã...



P.S.- Espero que este blog continue por muito tempo. Era o que faltava em Portugal : um blogue sobre educação feito por quem conhece a escola para cá da portaria, para cá das paredes de uma sala de aula, para lá dos gabinetes e dos clóquios...

2 comentários:

Anónimo disse...

seria ótimo se aki no Brasil, optaSSE PELA MESMA SITUAÇÃO JÁ QUE NO SEGUNDO SEMESTRE, PARA ALGUNS ALUNOS CONHECEREM QUALÉ O LIVRO, PEDE AO PROFESSOR PARA OLHAR O CONTEUDO PARA SABER QUE DISCIPLINA É.SE OS PAIS PAGASSE O LIVRO TERIAM MAIS CUIDADO

Anónimo disse...

Sabemos das várias deficiências da escola pública no Brasil.
Os recursos (Laboratório, informática, biblioteca), praticamente não são utilizados pelos professores. A falta de interesse da parte dos mestres e consequentemente o desinteresse dos alunos é preocupante.
Um outro problema é a matéria dada pelos professores, eles não aplicam o conteúdo inteiro, pois creio que não acreditam na nossa capacidade. E na hora de fazer um vestibular, encontramos matérias que nunca foram dadas em sala de aula, ou que lembramos vagamente.
Precisamos de professores de primeira qualidade, mas para isso é preciso melhorar o ensino presente, pois esses serão os futuros "mestres". E talvez assim consigamos melhorar essa situação.
Sou aluna do Ensino medio.Sempre estudei em escola do governo. Estou concluindo meu último ano na escola. E gostaria de dizer aos pais que tem seus filhos em escolas públicas. Cobrem mais dos professores, e de seus filhos também. Eles podem ser a solução para o futuro desse nosso país.