Note-se que a simples possibilidade de se escolher a escola pública que se quer é uma excepção. Todos temos vergonha do tempo em que os portugueses eram tão pobres que ensinavam os filhos a mentir, quando inquiridos sobre a sua idade nos transportes públicos. Pois agora mentem sobre o local onde vivem, de modo a que os seus pais possam escolher a escola pública que querem.
A possibilidade desses mesmos pais dizerem tranquilamente que preferem a escola A porque é melhor do que a B soa a blasfémia e é mais do que meio caminho andado para verem a sua pretensão recusada. Termos como melhor ou pior são absolutamente interditos neste universo. E não só nele. Note-se que a maior parte dos nossos dirigentes políticos e figuras públicas - sejam eles de esquerda ou direita - opta por, nos níveis do básico e secundário, colocar os seus filhos no ensino privado. Jamais dirão que fizeram essa opção porque acreditam que o ensino privado garante melhores resultados, mas sim porque "dá mais jeito", "fica mais ao pé de casa", "os amigos também foram para ali"... Às vezes dizem que os horários do público não são compatíveis, mas o assunto morre aí mesmo.
E assim os portugueses que pagam caro um sistema público de ensino não só não podem escolher a escola pública que querem - e que oficialmente é gratuita, o que levará um extraterrestre a pensar que se auto-sustenta -, como são também gravemente penalizados, caso optem pelo ensino privado. O que leva a que não se pondere sequer a possibilidade de o Ministério da Educação transferir para a escola pública ou privada indicada pelas famílias a verba que anualmente despende com cada aluno? Porque se teme que muitas escolas públicas ficassem às moscas. Os nossos filhos estão reféns da máquina."
PÚBLICO - EDIÇÃO IMPRESSA - ESPAÇO PÚBLICO | ||
Director: José Manuel Fernandes Directores-adjuntos: Nuno Pacheco e Manuel Carvalho POL nº 6030 | Sábado, 30 de Setembro de 2006 | ||
A máquina com vida própria [link assinantes] Helena Matos |
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